Uma realidade preocupante marca o cenário do câncer de cabeça e pescoço no Brasil: cerca de 80% dos casos são diagnosticados apenas em estágios avançados, segundo dados recentes do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
O número acende o alerta para a importância do Julho Verde, campanha nacional de conscientização que reforça a necessidade da prevenção e do diagnóstico precoce desses tumores, que podem comprometer funções vitais como fala, respiração e alimentação.
O radiologista Fábio Gonzalez, especialista em cabeça e pescoço, destaca que quanto mais cedo a identificação da doença, maiores são as chances de cura e menores os riscos de sequelas.
“Quando o diagnóstico é tardio, muitas vezes é preciso associar cirurgia a tratamentos como quimioterapia e radioterapia. Uma cirurgia mais agressiva, por exemplo, pode exigir a remoção de grandes áreas de tecido, o que aumenta o risco de sequelas para o paciente”, explica.
Sintomas variados dificultam diagnóstico
A diversidade de sintomas, que mudam de acordo com a região afetada, é um dos grandes desafios para o diagnóstico precoce. Nódulos no pescoço, lacrimejamento excessivo, rouquidão persistente e sangramentos nasais estão entre os sinais de alerta.
“Em casos de qualquer sintoma incomum que persista por mais de uma semana e não esteja ligado a infecções, é fundamental procurar um especialista”, orienta Dr. Fábio.
Como esses tumores podem surgir em diferentes estruturas — como olhos, boca, nariz, garganta e pescoço — os primeiros sinais são geralmente percebidos por profissionais de diferentes especialidades. Alterações nos olhos costumam ser avaliadas por oftalmologistas, lesões na boca por dentistas, problemas na laringe e nariz por otorrinolaringologistas, e nódulos no pescoço por especialistas em cabeça e pescoço. Quando identificado precocemente, o câncer nessa região pode ter índices de cura de até 90%.
Tecnologia como aliada no diagnóstico
Para cada área da cabeça e pescoço, exames específicos são recomendados. Na tireoide, o ultrassom é o primeiro passo. Se houver suspeita de avanço da doença ou disseminação, tomografia e outros exames complementares podem ser necessários. A mesma lógica vale para os tumores das glândulas salivares.
Já para alterações na cavidade oral, a tomografia costuma ser o exame inicial, podendo ser associada à ressonância magnética. “A escolha do exame ideal depende de uma avaliação clínica precisa. O papel do especialista é fundamental para localizar o tumor e indicar o melhor caminho diagnóstico”, reforça o radiologista.
Fatores de risco: atenção redobrada
Três fatores se destacam como principais vilões na origem do câncer de cabeça e pescoço: tabagismo, consumo excessivo de álcool e infecção pelo vírus HPV. De acordo com o Grupo Brasileiro de Câncer de Cabeça e Pescoço, cerca de 75% dos tumores de orofaringe têm relação direta com o HPV.
“A conscientização é uma das ferramentas mais poderosas na luta contra o câncer. Por isso, o Julho Verde tem um papel fundamental ao levar informação à população sobre sinais de alerta, fatores de risco e a importância do diagnóstico precoce”, conclui o Dr. Fábio Gonzalez.