A volta da novela Vale Tudo às telas, agora em remake, reacendeu discussões importantes sobre saúde mental. Interpretada por Paolla Oliveira, a personagem Heleninha enfrenta o alcoolismo em meio a conflitos emocionais intensos, uma representação que, mesmo ficcional, reflete a realidade de milhões de brasileiros.

O problema é mais comum do que se imagina. Segundo a Fiocruz, mais de 3,5 milhões de brasileiros convivem com algum tipo de dependência química, sendo que cerca de 11,7 milhões já apresentam dependência de álcool. Além disso, o estudo Covitel aponta que 4% da população adulta apresenta padrão de consumo com risco de dependência.
“Esses dados reforçam a necessidade de olhar para a dependência como uma questão de saúde pública, que precisa ser discutida com responsabilidade e empatia”, explica o psiquiatra Matheus Steglich, do grupo ViV Saúde Mental e Emocional.
A dependência de álcool está frequentemente ligada a transtornos mentais, como depressão e bipolaridade. Essa combinação torna o tratamento mais complexo, podendo causar crises de abstinência, mudanças bruscas de comportamento, problemas físicos e afastamento social.
Segundo Lucas Benevides, psiquiatra e professor de Medicina do Centro Universitário de Brasília (CEUB), o alcoolismo apresenta diferenças significativas entre homens e mulheres. As mulheres desenvolvem dependência mais rapidamente, fenômeno conhecido como “telescoping”. Além disso, os efeitos do álcool são mais severos nas mulheres devido a diferenças na composição corporal e no metabolismo.
Entender os sinais da dependência de álcool é essencial para buscar tratamento adequado e prevenir complicações físicas e psicológicas.
Dependência química
A dependência química é uma condição médica complexa que vai muito além do uso abusivo de substâncias: trata-se de uma doença crônica que altera o funcionamento do cérebro, com impactos profundos na vida do indivíduo e de todos ao seu redor.
“Não se trata de falta de força de vontade ou de caráter. A dependência é uma patologia que exige atenção clínica, cuidado multidisciplinar e suporte contínuo”,
Embora o alcoolismo seja considerado uma doença crônica, há evidências crescentes de que tratamentos bem executados e com boa adesão do paciente podem levar a resultados positivos, incluindo a remissão completa dos sintomas, afirma Danilo Avelar, especialista em Farmacologia e professor do Centro Universitário de Brasília (CEUB)
Do organismo à mente: os efeitos devastadores
As consequências do uso contínuo de drogas ou álcool são profundas. No corpo, há risco de danos a órgãos como fígado, pulmões e coração, além de impacto no sistema imunológico e neurológico. Já na saúde mental, os efeitos incluem depressão, ansiedade, alterações de humor e até quadros psicóticos.
“Há uma relação muito estreita entre dependência química e outros transtornos psiquiátricos. É comum que pacientes com transtornos como bipolaridade ou transtorno de ansiedade recorram ao álcool ou a outras substâncias como forma de alívio, agravando o quadro clínico”, destaca Steglich.
“Frequentemente, lidamos com comorbidades que tornam o tratamento mais complexo e exigem um olhar integrado.”
Superar o estigma é parte do tratamento
Um dos maiores obstáculos para o início do tratamento ainda é o preconceito. O apoio de familiares e amigos também é decisivo nesse processo, seja com escuta ativa, participação em terapias familiares ou engajamento em grupos de apoio como Narcóticos Anônimos e Amor Exigente.
“Muitos pacientes se sentem envergonhados ou julgados, o que atrasa o cuidado e agrava o quadro. É fundamental tratar a dependência como o que ela é: uma doença. Quanto antes for abordada, maiores as chances de recuperação”, alerta.
Riscos, sinais e quando buscar ajuda
Fatores como predisposição genética, ambiente familiar disfuncional, traumas não elaborados e início precoce do uso aumentam o risco de desenvolvimento da dependência. Os primeiros indícios incluem aumento da dose, sintomas de abstinência, isolamento social e negligência com responsabilidades.
“É preciso ficar atento quando o uso começa a comprometer a saúde, as relações e o desempenho no dia a dia. Nesses casos, a busca por ajuda profissional é urgente”, orienta o psiquiatra.
Na novela, a personagem decide buscar ajuda no Alcoólicos Anônimos (A.A.), uma comunidade formada por pessoas que enfrentam o alcoolismo e compartilham experiências para alcançar e manter a sobriedade. O grupo não cobra mensalidades, não possui vínculos religiosos ou políticos e se mantém por meio de contribuições voluntárias. O único requisito para participar é ter o desejo de parar de beber.
Além do A.A., existem outras instituições e organizações que oferecem apoio a pessoas e famílias no enfrentamento da dependência química, oferecendo desde acolhimento e orientação até acompanhamento terapêutico e programas de reinserção social.

O cuidado humanizado e estruturado da ViV
A ViV Saúde Mental e Emocional é um exemplo de uma das instituições que oferece uma abordagem integral e personalizada para o tratamento da dependência química, que inclui medicação, psicoterapia individual e em grupo, intervenções familiares e estratégias de prevenção à recaída. Em casos mais graves, com risco à saúde ou ausência de rede de apoio, a internação pode ser indicada.
Um dos diferenciais do grupo é o Leviva, um centro de cuidado diário voltado à reabilitação psicossocial, onde os pacientes contam com uma equipe multiprofissional preparada para auxiliar na retomada da rotina e na reinserção social e familiar.
“O tratamento não se resume à abstinência. Nosso objetivo é promover autonomia, qualidade de vida e reconstrução dos vínculos afetivos. Por isso, o acompanhamento no longo prazo é essencial”, reforça Steglich.
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