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Câncer de mama entre mulheres jovens cresce e traz novos desafios sociais e ao SUS

CÂNCER DE MAMA

Estudo da UFPR mostra aumento do câncer de mama em mulheres jovens e revela impactos sociais, financeiros e desafios às políticas públicas no SUS.

Tempo de Leitura: 3 minutos

Um estudo do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Paraná (UFPR) analisou o impacto social da doença em mulheres jovens atendidas pelo Hospital Erasto Gaertner, em Curitiba, entre setembro de 2024 e março de 2025.
Das 214 mulheres que responderam ao questionário de padrão internacional sobre as necessidades de pacientes com câncer, 75 tinham entre 20 e 50 anos — cerca de 35% da amostra.

Nesse grupo, os depoimentos revelaram que o câncer de mama abalou profundamente o núcleo familiar, devido à dependência do trabalho doméstico e assalariado desempenhado pelas mulheres. A doença pode levar à demissão e, com frequência, impede que as pacientes cuidem dos filhos menores como faziam antes.

O perfil predominante foi o de mulheres casadas, com filhos, ensino médio completo, empregadas e com renda familiar de um a três salários mínimos. Parte delas chefiava o lar, muitas vezes sem rede de apoio, tentando conciliar as sequelas do tratamento, como dor e cansaço, com o cotidiano.

É uma mulher que não para com a doença, ela continua ativa pela sua família, pela necessidade financeira. Porque é provedora do lar, às vezes chefe de família. Têm escolaridade, uma vida social fora”, avalia a professora Luciana Puchalski Kalinke, do Grupo de Estudo Multiprofissional em Saúde do Adulto (Gemsa) da UFPR.

Dor, sequelas e medo da recidiva marcam a rotina de pacientes

O Gemsa tem investigado as necessidades de pacientes com câncer há mais de uma década. Os dados coletados no Erasto Gaertner estão sendo avaliados por pesquisadores de iniciação científica, mestrado e doutorado. Parte dos resultados foi apresentada durante a Semana Integrada de Ensino, Pesquisa e Extensão da universidade.

Portanto, as mulheres relataram cansaço devido ao tratamento prolongado, dor, desorganização familiar e prejuízo financeiro e emocional. As dores estão associadas às fases pós-cirúrgicas, à radioterapia e à quimioterapia, que exigem procedimentos como o uso de cateteres.

A linfadenectomia, cirurgia para remoção de linfonodos e prevenção de metástases, interfere diretamente nas atividades domésticas.

Falando de desconforto, a principal queixa delas é o braço. O esgotamento de linfonodos causa muito inchaço no braço em que foi realizada a cirurgia”, conta a estudante Julia Luriane Hermes de Oliveira, bolsista de iniciação científica do Gemsa, responsável pela coleta dos depoimentos.

O custo de itens essenciais, como a cinta pós-cirúrgica, também pesa no orçamento.
Lembro de elas falarem: ‘eu compro uma hoje, daqui a um mês já não funciona mais, porque o elástico não é bom’. Isso gera também impacto tanto financeiro quanto na qualidade de vida”, relata Julia.

Desafios financeiros e profissionais após o diagnóstico

Com isso, a chamada toxicidade financeira — o impacto econômico causado por doenças de tratamento prolongado — é uma realidade entre as pacientes. Além disso, mulheres em idade produtiva enfrentam perda de oportunidades de trabalho e ausência de estabilidade trabalhista.

A competitividade do trabalho diminui, porque é uma pessoa que vai se ausentar para fazer exames e tratamento. Consequentemente não vai mais ter essa [capacidade de] disputa no mercado, de procurar uma vaga ou uma condição melhor”, avalia Luciana.
Assim como ocorre com mulheres acima dos 50 anos, o tratamento afeta a autoestima e os relacionamentos. Porém, entre as mais jovens, surgem preocupações adicionais sobre fertilidade, maternidade e planejamento familiar.

É diferente das mulheres mais velhas, que têm filhos já estabelecidos. Há uma preocupação maior com os filhos. Em alguns momentos vemos que elas falam deles como forma de resiliência, de viver, de seguir em frente. Mas uma das preocupações das mulheres jovens é com a criação dos filhos”, observa a professora.

Foto: Freepik
Políticas públicas para o câncer de mama ainda dividem opiniões

A adaptação do SUS às necessidades das mulheres jovens com câncer de mama ainda é um tema em debate — desde o diagnóstico precoce até a assistência social.

Apesar de o governo federal ter ampliado o acesso à mamografia, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) mantém a recomendação de que o exame seja feito a cada dois anos, entre 50 e 69 anos. A decisão leva em conta custos, disponibilidade de mamógrafos e limitações do exame para detecção em mulheres mais jovens.

No entanto, o debate também envolve o autoexame das mamas, prática que por décadas foi estimulada. Hoje, o Inca e a Sociedade Brasileira de Mastologia desaconselham sua adoção como método de rastreamento, por entenderem que nódulos perceptíveis ao toque costumam indicar estágio avançado da doença.

Se a pessoa conhece o seu corpo vai conseguir ver uma alteração, qualquer uma que aconteça”, destaca Luciana Kalinke, ponderando que o autoexame ainda pode ter valor como ferramenta de percepção corporal.

A docente reforça que há espaço para avanços em políticas como a reconstrução mamária pelo SUS — nem sempre disponível em todos os municípios — e nas regras do Programa Nacional de Navegação de Pacientes para Pessoas com Neoplasia Maligna de Mama, aprovado em 2021, que estabelece prazos e diretrizes de atendimento.

Fonte: ciencia.ufpr

 

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