Como navegar pelo mundo virtual da criança contemporânea? – Portal ComSaúde Bahia
Entrevista com Especialista
Foto:Divulgação
Como navegar pelo mundo virtual da criança contemporânea?
Entrevista Publicada em: 13/10/2023

Psicóloga orienta pais a melhor apoiarem o desenvolvimento emocional e psicológico de seus filhos na era digital.

O uso crescente de tecnologia, redes sociais e jogos eletrônicos tem se tornado uma parte integral da vida das crianças e adolescentes. Embora essas ferramentas ofereçam muitos benefícios, também apresentam desafios significativos quando se trata de saúde mental infantil.

Aproveitando o mês das crianças, a ‘Entrevista com o Especialista’ dessa semana traz uma abordagem sobre como os pais podem identificar tais sinais, estabelecer um equilíbrio saudável entre o mundo digital e a vida real e quando é apropriado buscar ajuda profissional para seus filhos.

Vamos explorar essas questões com a psicóloga Bianca Reis.

COMSAÚDE: Quais são os sinais de alerta mais comuns de que uma criança pode precisar de ajuda psicológica?

Bianca Reis: Geralmente, a criança é encaminhada para a psicoterapia após um encaminhamento escolar. Muitas delas passam a maior parte do tempo neste local, e questões comportamentais, socioemocionais e de desempenho acadêmico acabam sendo levadas em consideração. Crianças com atraso neuropsicomotor, baixa autoestima, mudanças abruptas de comportamento, vulnerabilidade social, dificuldades escolares, e necessidade de lidar melhor e autorregular as emoções, entre outros.

COMSAÚDE: Que tipo de mudanças no comportamento de uma criança devem ser motivo de preocupação em relação ao uso de tecnologias digitais, como redes sociais e jogos?

Bianca Reis: Quando a criança deixa de realizar atividades básicas do dia a dia longe das telas, como comer, tomar banho, escovar os dentes e estudar; quando ela não demonstra interesse por outras coisas, como brinquedos, livros, ambientes externos e pessoas; quando a criança apresenta sinais de alta ansiedade, sintomas depressivos e comportamentos dissociativos; quando os acordos relacionados ao uso de telas são constantemente renegociados, refeitos ou desfeitos; e quando a criança demonstra incapacidade de se comportar sem o uso das telas.

COMSAÚDE: Quais são os principais desafios ou impactos psicológicos que as crianças contemporâneas enfrentam ao crescerem em um ambiente digital?

Bianca Reis: Os pais também estão inseridos no meio digital e enfrentam dificuldades e vícios semelhantes aos de seus filhos, como distanciamento emocional. Em uma sociedade que muitas vezes evita lidar com as emoções, é comum recorrer a distrações para silenciar pensamentos e sentimentos, e a internet acaba se tornando uma fonte inesgotável de escape. Os impactos socioemocionais, neurológicos, fisiológicos e ergonômicos são cada vez mais comuns e frequentes

COMSAÚDE: Como a psicologia infantil aborda questões como o cyberbullying e o uso excessivo de tecnologia entre as crianças?

Bianca Reis: Diferentemente do bullying, o cyberbullying pode ocorrer em qualquer lugar, a qualquer momento e durante qualquer período de tempo, enquanto o bullying tradicional requer que as pessoas estejam no mesmo ambiente e momento. Portanto, somos impactados e atravessados pelo desafio que envolve uma violência sem fronteiras. Como consequência, o cyberbullying pode resultar em crises de pânico, depressão, TEPT, entre outros

COMSAÚDE: Que estratégias psicológicas podem ser aplicadas para ajudar as crianças a desenvolverem habilidades de comunicação e empatia em um ambiente digital?

Bianca Reis: Pode-se utilizar recursos psicológicos a favor da educação ao assistir vídeos de superação e dificuldades de pessoas ao redor do mundo, interagindo de maneira empática e com mediação de adultos. A internet também proporciona conexões e ajuda muitas pessoas de diversas formas, e é importante mostrar essas possibilidades para as crianças. Além disso, é essencial viver a empatia e a comunicação pessoalmente de forma concomitante.

COMSAÚDE: Como os pais podem trabalhar para orientar seus filhos na navegação segura e saudável do mundo virtual?

Bianca Reis: Devemos sempre estar abertos e conversar sobre o que está presente no ambiente digital. Além disso, é importante dedicar tempo de qualidade para monitorar os acessos (tanto por meio de aplicativos quanto pessoalmente) e o tempo de uso.

COMSAÚDE: Como os psicólogos podem ajudar as crianças a desenvolver um senso de identidade e autoestima saudável no contexto das redes sociais e do mundo virtual?

Bianca Reis: A autoestima é um sentimento de autovalor, de confiança em si mesmo e em suas próprias capacidades, e está intimamente relacionada com as interações entre pares e a mediação dos adultos e/ou responsáveis para com a criança. Uma autoestima, autovalor e autocuidado bem formados e mantidos (já que são necessários) em associação com uma boa rede de apoio fortalecem a base da construção da nossa identidade.

COMSAÚDE: Que conselhos você daria aos pais para promover um equilíbrio saudável entre a vida online e off-line de seus filhos?

Bianca Reis: Sugiro que verifique as teorias do desenvolvimento humano para compreender o que o seu filho é ou não é capaz de fazer, o que é saudável para ele, o que ele pode lidar e o que não deve fazer, mesmo que tenha capacidade para tal. Além disso, é importante verificar as recomendações de tempo de tela de vários artigos científicos, bem como seus valores educacionais. O que você quer para si mesmo? O que deseja para seu filho? O que deseja para sua família? As respostas não estão apenas fora, mas também dentro do sistema familiar e dentro de você mesmo.

COMSAÚDE: De que forma a psicologia infantil pode ajudar as crianças a lidar com o estresse e a ansiedade relacionados ao uso da tecnologia e às pressões sociais online?

Bianca Reis: Com psicoeducação tanto para as crianças quanto para os pais, abordagens socioemocionais, comportamentais e ampliação do repertório.


Bianca Reis

Psicóloga, psicoterapeuta, palestrante e facilitadora de grupos. É mestra em família, especialista em psicoterapia junguiana e Pós-graduada em Estimulação Precoce e pós-graduanda em Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem.