Entrevista

Entendendo melhor o HIV/AIDS e as medidas que podem ser adotadas para a sua proteção

Tempo de Leitura: 4 minutos

No mês de conscientização para o combate à AIDS, surge um importante alerta para a prevenção, diagnóstico e tratamento da síndrome, que já infectou, desde 1981, quando os primeiros casos foram conhecidos, 85,6 milhões de pessoas no mundo. O infectologista Claudilson Bastos destaca que a pandemia de AIDS ainda persiste, e a síndrome pode evoluir para uma situação grave se não for diagnosticada e tratada precocemente.

Por isso, convidamos o Dr. Claudilson a participar da “Entrevista com o Especialista” deste mês, na qual ele aborda questões relacionadas ao HIV, à AIDS e ao HTLV.

COMSAÚDE – Qual a diferença entre a HIV, AIDS e o HTLV?

Claudilson Bastos – O paciente portador do vírus HIV (causador da Aids) não apresenta sinais e sintomas, sendo assintomático. Ele pode permanecer nesse estado ao longo da vida se seguir as recomendações médicas e realizar o tratamento. Por outro lado, o paciente com AIDS, que não é uma doença, mas sim uma síndrome da Imunodeficiência Adquirida, manifesta alguns sinais clínicos, tais como diarreia, perda de peso, sapinho na boca, candidíase oroesofágica, e outras infecções ou doenças oportunistas. A partir desse ponto, ele pode desenvolver diversas doenças ou infecções.

O HTLV é um vírus da mesma família do HIV e infecta células importantes para a defesa do organismo, sendo sua incidência ou prevalência, na maioria das vezes, associada à transmissão pelo aleitamento materno. Quando ocorrem manifestações clínicas, aproximadamente 5% das pessoas podem apresentar fraqueza nas pernas, conhecida como mielopatia por HTLV-1, ou paraparesia espática tropical, que é uma condição distinta do HIV. Embora a transmissão sexual seja possível, sua frequência é significativamente menor em comparação com o HIV.

COMSAÚDE – Em termos de diagnóstico quais são as principais distinções entre essas três condições?

Claudilson Bastos – No caso do HIV, temos a fase inicial de infecção aguda. Às vezes, é desafiador detectar essa fase porque os sintomas podem assemelhar-se aos de uma virose comum ou à mononucleose infecciosa, como é comumente referida. Na fase crônica, que pode se estender por vários anos, o paciente pode ou não desenvolver a AIDS, permanecendo como portador do HIV.

No caso de um paciente com AIDS, é evidente que não recebeu tratamento adequado. Muitas vezes, isso ocorre devido a um tratamento irregular ou à interrupção do tratamento. Quando se realiza um tratamento de forma consistente, a evolução para AIDS é evitada.

Já o HTLV, o tratamento é administrado durante a fase aguda. Infelizmente, na fase crônica, ainda não existe um tratamento adequado, mas é possível durante a fase aguda.

COMSAÚDE – Em relação a medicamentos, ainda existem avanços significativos em andamento para melhorar a qualidade de vida dos portadores da síndrome?

Claudilson Bastos – Com relação aos medicamentos, sabemos que anteriormente havia uma polifarmácia, onde se utilizava concomitantemente quatro ou mais medicamentos, conhecido como coquetel. Atualmente, a tendência é reduzir cada vez mais o número de medicações para o tratamento do HIV. Como exemplo, está sendo desenvolvida uma nova medicação 2 em 1, ou seja, um comprimido contendo duas drogas que são administradas uma vez ao dia. Isso representa um grande avanço. E assim continua o desenvolvimento de novas drogas com o passar do tempo

COMSAÚDE – O que pode destacar em relação ao tratamento?

Claudilson Bastos – O tratamento regular e contínuo é fundamental para evitar a progressão do paciente para a AIDS. Na Bahia, contamos com centros de referência como o Instituto Couto Maia, o SEDAP, clínicas e unidades básicas de saúde, algumas destinadas à referência em HIV no município. Atualmente, há uma ampliação significativa dos serviços, tanto na capital quanto no interior. Algumas cidades também se tornaram referência no tratamento de HIV/Aids e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).

COMSAÚDE – Em fevereiro deste ano, o MS divulgou que a Bahia é o segundo estado com maior número de infectados por HIV, o que pode explicar esse dado?

Claudilson Bastos – Essa questão de frequência, obviamente, com a pandemia, perdemos o controle da transmissão do HIV nos anos de 2020 e 2021, principalmente. Sabemos que a faixa etária de 20 a 39 anos foi o grupo mais afetado pela contaminação pelo vírus HIV.

Existem situações epidemiológicas, políticas e sociais que podem contribuir para esse aumento, e isso pode ser verificado por meio das notificações. Pode ocorrer que alguns estados não estejam notificando adequadamente, havendo sub-notificação em muitos deles. Portanto, vários fatores influenciam esses dados.

COMSAÚDE – Há alguma pesquisa ou avanço recente que sugira uma possível cura para a AIDS? Quais são os principais obstáculos a serem superados?

Claudilson Bastos – As pesquisas estão avançando, a vacina está sendo avaliada, e novas drogas também estão em desenvolvimento. Portanto, a tendência é que, ao receber um tratamento adequado, a carga viral torne-se indetectável, o que significa que a quantidade do vírus no organismo é tão baixa que não pode ser detectada. Uma vez que a carga viral está indetectável, torna-se intransmissível. Isso é o que comumente chamamos de “o I é igual a I”, indicando que o estado indetectável é equivalente a ser intransmissível. Uma pessoa que vive com HIV e que tem a carga viral indetectável, ela não transmite a HIV, isso é importante que a gente saiba

É importante destacar também que, do ponto de vista da prevenção, para pessoas que têm atividade sexual com múltiplos parceiros, existe a PrEP (profilaxia pré-exposição). Há medicações que podem ser tomadas diariamente ou sob demanda, conforme indicado em situações específicas, para prevenir a infecção pelo HIV. Claro, reconhecemos que o uso de preservativos é fundamental.

COMSAÚDE – Quais as principais recomendações ou alertas para a população, principalmente para os jovens?

Claudilson Bastos – Então, a recomendação é que os jovens busquem os centros de referência a partir dos 15 anos de idade, inclusive, para realizar a profilaxia pré-exposição quando não usarem preservativos e perceberem algum risco de contaminação. Além disso, há a profilaxia pós-exposição, que pode ser realizada em caso de acidente, violência sexual, entre outras situações. Nesses casos, é possível procurar uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) dentro das primeiras 72 horas, no máximo, para iniciar a profilaxia pós-exposição. Essas são medidas que podem ser adotadas para proteção.

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