A gripe, causada pelo vírus influenza, é uma doença respiratória comum que afeta milhões de pessoas anualmente em todo o mundo. Com sintomas que variam de leves a graves, essa infecção viral não deve ser subestimada, especialmente devido aos seus impactos significativos na saúde pública e na economia global.
Explicar a importância do vírus influenza envolve não apenas conscientizar sobre os sintomas e medidas preventivas, mas também ressaltar a necessidade de vacinação regular, principalmente entre grupos de risco como idosos, crianças pequenas e pessoas com condições médicas crônicas.
A educação sobre o vírus influenza não só promove a saúde individual, mas também contribui para a redução da transmissão comunitária e para a mitigação dos encargos hospitalares durante a temporada de gripe.
Confira a entrevista, na íntegra, do infectologista Dr. Ícaro Nunes.
COMSAÚDE – Por que é essencial tomar a vacina da gripe anualmente?
Ícaro Nunes – A necessidade da vacinação para a Influenza de maneira rotineira, anual, principalmente nos grupos de risco, se dá pelo alto potencial de gravidade dessa doença em determinados grupos de pessoas, especialmente aquelas com doenças graves e em extremos de idade, como crianças e idosos. A aquisição de uma vacinação é fundamental e o reforço anual dela tem a ver diretamente com a grande quantidade de modificações e mutações que esses vírus sofrem ao longo dos anos.
COMSAÚDE – Quais são os principais benefícios da vacinação contra a gripe para grupos de risco, como idosos e crianças?
Ícaro Nunes – É sabido que grupos de risco, pessoas que sofrem de algum tipo de problema que comprometa a imunidade em algum nível e pessoas em extremo de idade são mais suscetíveis a desenvolverem formas graves da doença, especialmente pneumonia por Influenza, que é uma das mais sérias complicações porque aumenta consideravelmente o risco de mortalidade. Por esse motivo, a vacinação é especialmente importante nesses grupos.
COMSAÚDE – Como a vacinação contribui para a redução de complicações graves, como pneumonia?
Ícaro Nunes – A criação de uma imunidade a partir de uma vacina funciona como um treinamento para o nosso sistema imunológico por responder a uma infecção que porventura se instale. O nosso corpo fica sensibilizado com as substâncias presentes no vírus e, consequentemente, consegue orquestrar uma resposta imunológica para erradicar uma infecção, de maneira mais fácil, após a exposição vacinal.
COMSAÚDE – Como é definida a composição da vacina da gripe a cada ano?
Ícaro Nunes – A composição da vacina anual é feita através de avaliação das cepas que mais circularam naquele ano. Geralmente, em meados de setembro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) faz esse levantamento e define quais são as substâncias, as proteínas virais que participarão desse imunizante. O vírus da Influenza tem um caráter de alta mutação, por isso é preciso modificar essa composição vacinal a cada ano porque, de fato, o vírus muda a cada ano.
COMSAÚDE – Quais são os tipos de vírus influenza incluídos na vacina trivalente e quadrivalente?
Ícaro Nunes – Existem basicamente duas grandes subespécies de Influenza patogênicas: a Influenza A e a Influenza B. A Influenza A, geralmente é mais frequente do que a Influenza B e, por esse motivo, a vacina trivalente contém os dois subgrupos mais frequentes de Influenza A e um subgrupo de Influenza B, na maioria das vezes. A quadrivalente é mais ampla, tem um espectro um pouco maior por contemplar mais um subgrupo de Influenza B.
COMSAÚDE – Por que a vacina precisa ser atualizada anualmente?
Ícaro Nunes – A vacina precisa ser atualizada anualmente justamente por essa alta taxa mutacional. O vírus da Influenza assim como outros vírus respiratórios sofre mutações inerentes à própria reprodução, à própria replicação do vírus. Ao longo do ano, essas mutações acontecem. Há um censo, uma avaliação anual feita pela Organização Nacional da Saúde (OMS) para produzir um imunizante ainda mais efetivo a partir da identificação das cepas que tiveram maior circulação no hemisfério sul do globo.
Existem poucas contraindicações formais e absolutas para a vacinação contra a Influenza. As clássicas basicamente são idade. Crianças menores de seis meses de vida não têm indicação de tomar a vacina e pessoas com graves alergias a ovo.
COMSAÚDE – Qual a diferença entre a gripe e uma infecção respiratória qualquer?
Ícaro Nunes – Quando se fala em gripe, comumente o imaginário popular relaciona a doença a qualquer infecção respiratória. Na maioria das vezes, não é.Por exemplo, o paciente que estava com o nariz escorrendo, teve uma febre baixa, o corpo um pouco doído e esses sintomas desapareceram em três, quatro dias, não teve gripe. Gripe por definição é a doença causada pela Influenza. Costumamos chamar todo e qualquer resfriado comum de gripe, mas existem vários outros vírus que podem causar sintomas respiratórios classificados como resfriados comuns, como o Rinovírus, Adenovírus e diversos outros vírus, que podem causar quadros gripais semelhantes, mas não necessariamente a doença gripe.
COMSAÚDE – É possível contrair gripe após tomar a vacina? Por que algumas pessoas acreditam nisso?
Ícaro Nunes – É possível a pessoa ficar gripada, mesmo tendo tomado a vacina da Influenza? Se formos considerar a terminologia utilizada popularmente, sim. A vacina para a Influenza não protege contra vírus respiratórios. Além disso, há a possibilidade de a pessoa já estar contaminada, já estar com a doença em atividade ou com uma infecção subclínica, no momento da tomada da vacina e esse quadro piore ainda mais os sintomas. Por isso, é importante fazer uma avaliação clínica e uma autoavaliação. Se o paciente teve algum sintoma infeccioso, febre, dor no corpo, tosse, espirros – nas duas últimas semanas –não deve tomar a vacina; precisa esperar pelo menos duas semanas após os sintomas respiratórios desaparecerem.
COMSAÚDE – Existe a possibilidade de a pessoa tomar a vacina para Influenza e adoecer por Influenza?
Ícaro Nunes – A vacinação contra a Influenza basicamente contempla as cepas mais circulantes, mas não necessariamente vai conseguir contemplar todas as cepas. Então, apesar de ser infrequente pode acontecer de a pessoa tomar a vacina para Influenza e, mesmo assim, adoecer por Influenza.Mesmo nesses casos, a vacina tem um efeito de proteção contra as formas graves da doença. Independente desses fatores, dessas possibilidades, o benefício da vacina ainda supera e muito a possibilidade dessa pessoa adoecer a posteriori.
COMSAÚDE – Qual é a meta de cobertura vacinal para controlar a disseminação da gripe?
Ícaro Nunes – A cobertura vacinal estipulada pelo Ministério da Saúde é de 90% dos grupos prioritários. Em 2024, a campanha conseguiu alcançar metade desse número no geral. Neste ano, espera-se atingir uma incidência, uma prevalência vacinal muito maior.
COMSAÚDE – Quais estratégias podem ser adotadas para aumentar a adesão à vacinação?
Ícaro Nunes – Eu acredito que a conscientização é o principal ponto. Campanhas educativas funcionam bem no Brasil. O investimento dos órgãos governamentais sobre conscientização, se intensificou no pós-pandemia devido a infodemia e os movimentos antivacina, que cresceram bastante nesse período. É preciso, realmente, ter muita atenção e conscientizar as pessoas sobre a importância da vacinação, evidenciando sobretudo o que as vacinas já fizeram por nós no passado e continuam a fazer.