O Ministério da Saúde deu um passo importante na luta contra o câncer de mama ao atualizar as diretrizes de rastreamento da doença. Pela primeira vez, a mamografia passa a ser recomendada a partir dos 40 anos, em caráter “sob demanda”, ampliando também a faixa etária até os 74 anos. A decisão reflete a preocupação com o aumento de casos entre mulheres mais jovens e promete fortalecer o diagnóstico precoce, fundamental para o sucesso do tratamento.
Para entender melhor o impacto dessa mudança e os desafios que ainda persistem no acesso ao exame, o ComSaúde conversou com a médica da família, Dra. Amanda de Paula.
CONFIRA A ENTREVISTRA
COMSAÚDE – Qual a importância da atualização nas diretrizes de rastreamento para a saúde da mulher no Brasil?
Dra. Amanda de Paula – Essa atualização amplia o acesso a mamografia para mulheres a partir dos 40 anos de idade, o que anteriormente era a partir dos 50 anos. Isso tende a aumentar a detecção de câncer de mama em estágios iniciais, reduzindo a mortalidade por câncer de mama.
COMSAÚDE – Como o diagnóstico precoce impacta as taxas de cura e a sobrevida das pacientes com câncer de mama?
Dra. Amanda de Paula – Quanto mais cedo for o diagnóstico, maior a probabilidade de tratamentos mais eficazes, com menor agressividade e com maior chance de cura.
COMSAÚDE – Quais fatores podem explicar o aumento de casos em mulheres mais jovens, abaixo dos 50 anos?
Dra. Amanda de Paula – Predisposição genética, sedentarismo, sobrepeso, consumo de álcool e uso de hormônios. O aumento do acesso ao diagnóstico também pode explicar o aumento do número de casos.
COMSAÚDE – A partir dos 40 anos, o rastreamento será “sob demanda”. O que isso significa na prática para as pacientes?
Dra. Amanda de Paula – Dos 40 aos 49 anos não há obrigatoriedade de realização da mamografia. O profissional deve oferecer o exame, explicando os riscos e benefícios da realização do mesmo nessa faixa etária. A decisão considera história familiar, orientação quanto a possibilidade de resultados falso-positivos, preferências da pacientee até o desconforto inerente do exame.
COMSAÚDE – Quais são os principais sinais de alerta que devem levar uma mulher a procurar avaliação médica antes mesmo da mamografia de rotina?
Dra. Amanda de Paula – História familiar de câncer de mama em parente de primeiro grau (mãe, irmã ou filha), caso perceba nódulos nas mamas ou axilas, aumento do volume das mamas, saída de secreção mamária ou alteração da anatomia das mamas. Nesses casos, deve-se procurar uma avaliação médica o mais rápido possível.
COMSAÚDE – Com a ampliação da faixa etária até 74 anos, quais cuidados específicos devem ser observados em mulheres mais idosas?
Dra. Amanda de Paula – Controle das doenças crônicas, manutenção de hábitos alimentares saudáveis e prática de atividades físicas.
COMSAÚDE – Quais ainda são os maiores desafios para garantir o acesso equitativo à mamografia em todo o país?
Amanda de Paula –Em algumas regiões do Brasil ainda existem poucos mamógrafos, baixa cobertura dos serviços de saúde, dificuldade com a logística dos agendamentos,poucos especialistas qualificados para realização de biópsias.Também existe a preocupação com a baixa qualidade desses exames e ausência de manutenção das máquinas.
COMSAÚDE – Além da mamografia, existem outros exames complementares que podem ser indicados para determinados grupos de mulheres?
Dra. Amanda de Paula – Sim, O ultrassom é realizado para para avaliação diagnóstica, especialmente em mamas densas ou alterações da mamografia.
A ressonância magnética também pode ser usada quando há risco elevado de câncer de mama, como em mulheres portadoras de mutações genéticas (BRCA 1 e 2), com histórico familiar, mamas densas ou em mulheres com próteses mamárias.
COMSAÚDE – Que medidas de prevenção e hábitos de vida podem ajudar a reduzir o risco de desenvolver câncer de mama?
Dra. Amanda de Paula – A amamentação, alimentação variada e sem ultraprocessados, prática de atividade físicas, abstinência de álcool e tabaco são fatores de proteção para câncer de mama.