Hoje, influenciadores compartilham suas experiências com procedimentos estéticos, promovendo mudanças que podem parecer irresistíveis. No entanto, é essencial filtrar essas informações e evitar decisões impulsivas baseadas em tendências virais.
Os perigos estão nas falsas promessas e na idealização de resultados: muitas publicações mostram apenas o lado positivo, ocultando os desafios e os riscos e o processo de recuperação, o que cria uma expectativa irreal em quem consome esse conteúdo, levando a frustrações e/ou decisões precipitadas.
Confira a entrevista com o Dr. Alexandre Kataoka, cirurgião plástico e perito da Secretaria da Justiça de São Paulo.
COMSAÚDE – Como as redes sociais têm influenciado os padrões de beleza e estética nos últimos anos?
Alexandre Kataoka – As redes sociais transformaram a maneira como a estética e os padrões de beleza são percebidos. Por meio de influenciadores que compartilham suas experiências, criam-se tendências que podem parecer irresistíveis. Essa exposição influencia o comportamento de quem busca mudanças estéticas, muitas vezes sem considerar os riscos envolvidos.
COMSAÚDE – Quais são os principais perigos associados às tendências estéticas que ganham popularidade rapidamente nas redes sociais?
Alexandre Kataoka – Tais tendências frequentemente omitem riscos, mostrando apenas o lado “glamouroso” dos procedimentos. Isso leva a uma idealização dos resultados, ignorando o processo de recuperação, possíveis complicações e frustrações. A ausência de embasamento científico e a banalização da estética são pontos críticos.
COMSAÚDE – Quais são os sinais de alerta que alguém deve procurar ao considerar um procedimento estético viral nas redes sociais?
Alexandre Kataoka – Procedimentos que prometem resultados rápidos, sem esforço e sem riscos, devem ser vistos com desconfiança. Além disso, é fundamental questionar a qualificação dos profissionais envolvidos, especialmente quando os procedimentos são realizados por pessoas sem formação adequada. Outra sinalização de risco são os depoimentos e conteúdos que não têm comprovação científica ou respaldo médico, muitas vezes baseados apenas em experiências pessoais ou visuais. O ideal é sempre buscar fontes confiáveis e agendar uma consulta com um especialista qualificado, que possa avaliar de forma individualizada as reais necessidades e possibilidades de cada paciente.
COMSAÚDE – Qual é o papel dos influenciadores digitais na disseminação de informações sobre procedimentos estéticos? Isso traz mais benefícios ou riscos para o público em geral?
Alexandre Kataoka – O objetivo aqui não é abordar diretamente o papel dos influenciadores, mas sugerir que o conteúdo publicado muitas vezes mostra apenas os aspectos positivos dos procedimentos, omitindo riscos e recuperações. Portanto, infere-se que, se mal utilizados, os canais dos influenciadores podem contribuir para desinformação, gerando mais riscos do que benefícios quando não há responsabilidade na divulgação.
COMSAÚDE – Como os consumidores podem distinguir entre informações úteis e enganosas sobre procedimentos estéticos nas redes sociais?
Alexandre Kataoka – É fundamental buscar fontes confiáveis e verificar a credibilidade dos profissionais que divulgam informações. Consultar um especialista é sempre o melhor caminho para entender se determinado procedimento é indicado e seguro.
COMSAÚDE – Quais são os principais desafios enfrentados pelos profissionais da saúde para combater a desinformação sobre estética disseminada nas redes sociais?
Alexandre Kataoka – A popularização de procedimentos sem critério e a circulação de promessas irreais tornam difícil o trabalho educativo do médico. Os profissionais precisam lidar com expectativas irreais e reverter informações equivocadas amplamente difundidas.
COMSAÚDE – Qual é a importância da consulta médica prévia e como os consumidores podem garantir que estão escolhendo um profissional qualificado para um procedimento estético?
Alexandre Kataoka – A consulta com um especialista é o primeiro passo fundamental. É nessa etapa que serão avaliadas a saúde geral do paciente, o histórico médico e as expectativas quanto aos resultados. Isso permite indicar ou contraindicar o procedimento e garantir que o tratamento esteja alinhado com as reais necessidades do paciente.
COMSAÚDE – Como as expectativas irreais criadas por conteúdos virais nas redes sociais podem impactar negativamente o bem-estar emocional dos consumidores?
Alexandre Kataoka – Os conteúdos virais costumam mostrar apenas o “lado bom” da estética, ignorando riscos e dificuldades. Essa exposição pode gerar frustrações, especialmente quando o paciente espera resultados rápidos e perfeitos. Esse desalinhamento entre expectativa e realidade pode impactar negativamente a autoestima e a saúde emocional.
COMSAÚDE – Quais são os passos práticos que as pessoas podem tomar para se educar melhor sobre procedimentos estéticos antes de tomar uma decisão?
Alexandre Kataoka – O excesso de conteúdo em redes sociais pode iludir o público com promessas que não condizem com a realidade médica. Por isso, o ideal é verificar a qualificação do profissional que realiza o procedimento e priorizar sempre a consulta médica prévia. Nessa consulta, o especialista irá avaliar o estado geral de saúde do paciente, seu histórico médico, suas expectativas e as reais indicações para o procedimento desejado. Esse processo é essencial para garantir segurança, esclarecer dúvidas e oferecer um plano de tratamento ético e individualizado.
COMSAÚDE – Em sua opinião, qual seria o papel ideal das plataformas de mídia social na promoção de práticas seguras e informadas relacionadas à estética?
Alexandre Kataoka – Minha abordagem crítica sugere que essas redes deveriam promover responsabilidade ao permitir a divulgação de conteúdos sobre estética. Idealmente, as plataformas deveriam implementar mecanismos para sinalizar conteúdos não científicos, exigir a identificação de profissionais habilitados e estimular o público a buscar orientação médica.