Simpósio sobre práticas para saúde mental da população negra
Eventos
Foto:Divulgação
Simpósio sobre práticas assistencias para saúde mental da população negra no SUS
Por:Hupes-UFBA/Ebserh | 04/11/2024 às 21:32

O II Simpósio Multiprofissional da Unidade de Saúde Mental do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes-UFBA/Ebserh) acontece nesta terça-feira, 05, no anfiteatro do hospital entre 8h e 17h, com a temática “Saúde mental no SUS: desafios no cuidado da população negra”. O evento vai estimular debates e reflexões relacionando práticas assistenciais ao contexto sociopolítico da Bahia. A população do estado é composta por mais de 80% de pessoas negras – dados do IBGE referente ao censo 2022 -, sendo a maior do Brasil.

A escolha do tema para a edição deste ano do simpósio visa traduzir a defesa de uma prática antirracista e os desafios à construção de linhas de cuidado com oferta de assistência às pessoas com sofrimentos causados por discriminações que se interconectam e se reforçam mutuamente. O evento contará com mesas redondas e conferências, submissões de trabalhos científicos e relatos de experiências, além de apresentações culturais, utilizando outras linguagens para o aprofundamento do debate sobre o tema.

No Sistema Único de Saúde (SUS), a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra contempla em suas estratégias o fortalecimento da atenção à saúde mental de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos negros/as. O documento busca prevenir os agravos decorrentes dos efeitos do racismo estrutural e seus impactos na saúde física e mental da população negra.

A psicóloga e pesquisadora do Instituto de Saúde Coletiva (ISC-UFBA), Ana Luísa Dias, que apresentará, durante o simpósio, a conferência “Racismo, interseccionalidade e saúde mental: desafios atuais da atenção psicossocial”, diz que o simpósio tem uma conexão direta com o reconhecimento do racismo como fator central na criação de condições desiguais.

É importante que a gente leve em consideração que o racismo coloca as pessoas em situações diferentes de viver, de se relacionar com o mundo e traz um peso no cotidiano de pessoas negras. Essa diferença delineia barreiras invisíveis e o grande desafio quando falamos de saúde mental é a gente promover a quebra dessas barreiras”, afirma.

Linha de cuidado em Saúde Mental e a Saúde da População Negra
O Hupes-UFBA/Ebserh é referência na assistência à saúde da população negra, por meio de programas e serviços direcionados ao cuidado de usuários(as) com doença falciforme, por exemplo. O desafio atual é ampliar este movimento para o campo da saúde mental.

A Unidade de Saúde Mental do Hupes-UFBA/Ebserh tem traçado três caminhos nessa direção. O primeiro diz respeito à construção de uma linha de cuidado integral em saúde mental com ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde, favorecendo o acesso e o acolhimento.

O segundo, é a proposição de um programa de educação permanente que contribua para o enfrentamento das consequências do racismo no âmbito da saúde mental, reconhecendo o racismo e as desigualdades étnico-raciais como determinantes sociais das condições de sofrimento psíquico.

O terceiro é o incentivo às pesquisas sobre o modelo psicossocial de cuidado à saúde da população negra no SUS. “A partir dessa tríade de ações, a Unidade de Saúde Mental do Hupes-UFBA fortalece o seu compromisso com a RAPS (Rede de Atenção Psicossocial), com a formação de recursos humanos e com a produção científica”, destaca a psicóloga Rosana Silva, referência técnica do Serviço de Psicologia e membro da comissão científica do simpósio.

Política Nacional de Saúde Integral da População Negra
O índice de suicídio entre adolescentes e jovens negros no Brasil é 45% maior do que entre brancos. Os dados são do Ministério da Saúde e mostram ainda que o risco aumentou 12% entre a população negra nos últimos anos e permaneceu estável entre brancos.

De acordo com o texto da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra: “racismo causa impactos danosos que afetam significativamente os níveis psicológicos e psicossociais de qualquer pessoa. A prática do racismo e da discriminação racial é uma violação de direitos, condenável em todos os países. No Brasil, é um crime inafiançável, previsto em lei”.

O texto do documento ainda destaca que “os impactos do racismo geram efeitos que incidem diretamente no comportamento das pessoas negras que normalmente estão associados à humilhação racial e à negação de si, que podem levar a diversas consequências inclusive às práticas de suicídio”.

Mais Informações