O consumo excessivo de açúcar pode impactar diretamente o equilíbrio e a audição. Além de influenciar o peso e o metabolismo, a alta ingestão de doces está associada a tontura, zumbido e sensação de ouvido tampado. Além disso, a relação é ainda mais evidente em pessoas sensíveis às variações de glicose no sangue, como explica a otorrinolaringologista Dra. Milena Quadros, especialista em Otoneurologia e Eletrofisiologia do Hospital Paulista.
“Quando ingerimos muito açúcar, o organismo libera insulina para reduzir a glicose circulante. Essa oscilação, o sobe e desce do açúcar no sangue, pode alterar o equilíbrio dos líquidos e sais minerais dentro do ouvido interno. Com isso, o funcionamento das células sensoriais da cóclea e do labirinto fica comprometido, provocando sintomas auditivos e de equilíbrio”, explica a médica.
Como o açúcar interfere no ouvido interno
As oscilações glicêmicas geram alterações metabólicas conhecidas como desregulação glicêmica e osmótica. Desse modo, esse processo afeta diretamente a endolinfa, fluido essencial para o funcionamento do ouvido interno.

Durante episódios de hiperglicemia, a elevada concentração de glicose compromete a atuação das células responsáveis pela audição e pela estabilidade corporal. No entanto, na hipoglicemia reacional, quando o açúcar cai rapidamente após um pico, ocorre uma redução no aporte de energia ao sistema nervoso. Consequentemente, podem surgir tontura, fraqueza e intensificação do zumbido.
Com o passar do tempo, quadros como resistência à insulina, dislipidemias e diabetes mal controlado também prejudicam a microcirculação do ouvido interno. Assim, a redução da oxigenação local aumenta o risco de sintomas persistentes.
Quem está mais vulnerável
Segundo a Dra. Milena, alguns grupos precisam de atenção redobrada devido à maior sensibilidade às oscilações glicêmicas.
“Pessoas com diabetes, síndrome metabólica, enxaqueca ou doença de Menière são mais suscetíveis. Em quem já tem distúrbios do labirinto, qualquer desequilíbrio metabólico, inclusive o do açúcar, pode piorar os sintomas.”
Além desses fatores, hábitos como alimentação irregular, jejuns prolongados e consumo excessivo de café, álcool e alimentos açucarados também agravam a instabilidade da glicose. Por isso, essas práticas podem desencadear crises de tontura com maior frequência.
Alimentação equilibrada como prevenção
A regulação da glicemia ao longo do dia é uma estratégia simples e eficaz para reduzir o risco de sintomas auditivos e vestibulares. Assim, manter um padrão alimentar organizado faz diferença.
“O ideal é manter a glicemia estável ao longo do dia, evitando longos períodos sem comer e reduzindo o consumo de açúcares simples e ultraprocessados. Priorizar carboidratos integrais, proteínas magras, frutas, verduras e fibras ajuda a manter o açúcar no sangue mais constante”, orienta a especialista.
Quando procurar atendimento
Caso os sintomas se tornem frequentes, é fundamental buscar avaliação médica. O otorrinolaringologista poderá solicitar exames auditivos e vestibulares e, além disso, orientar o acompanhamento metabólico com endocrinologista ou nutricionista.
“Tontura e zumbido nem sempre estão ligados ao ouvido em si, muitas vezes, são o reflexo de como o corpo reage ao que comemos”, reforça a médica. “Manter o equilíbrio começa, literalmente, pelo prato.”

