O Dia Internacional de Atenção à Gagueira, celebrado em 22 de outubro, reforça a importância da informação, do diagnóstico precoce e do tratamento adequado. Além disso, esses cuidados são fundamentais para melhorar a fluência e o bem-estar comunicativo. Criada em 1998 pela International Fluency Association e pela International Stuttering Association, a data busca combater o preconceito e ao mesmo tempo ampliar a conscientização sobre um distúrbio que afeta milhões de pessoas no mundo todo.
No Brasil, dados da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia apontam que cerca de 2 milhões de brasileiros convivem com a gagueira persistente, um distúrbio que interfere na fluência da fala e pode se manifestar por repetições de sílabas, prolongamentos de sons ou bloqueios na hora de falar. Portanto, é essencial entender seus sinais e buscar acompanhamento adequado.
A gagueira, também conhecida como distúrbio de fluência, geralmente surge na infância, entre 2 e 5 anos, período em que a fala ainda está em desenvolvimento. Embora muitas crianças superem a condição naturalmente, parte mantém os sintomas na vida adulta.
“As rupturas na fala acontecem de forma involuntária e não têm relação com o pensamento ou com o conteúdo da mensagem. É importante lembrar que quem gagueja sabe exatamente o que quer dizer, mas enfrenta uma dificuldade motora momentânea para colocar a palavra para fora”, explica a fonoaudióloga Carolina Pamponet, especialista em motricidade orofacial e no tratamento de distúrbios da voz falada e cantada.
Causas multifatoriais e fatores de risco
Estudos indicam que a gagueira tem origem multifatorial, envolvendo fatores genéticos, neurológicos e emocionais. Além disso, filhos de pessoas que gaguejam têm maior probabilidade de apresentar o distúrbio. Pesquisas também mostram diferenças no funcionamento cerebral, especialmente nas áreas que controlam os movimentos da fala.
“Em alguns casos, situações de estresse e ansiedade podem intensificar as repetições ou os bloqueios, mas a gagueira não é causada por nervosismo ou timidez, como muitas pessoas ainda acreditam“, reforça Pamponet, que atua há mais de 20 anos na preparação vocal de cantores de alta performance.
Tratamento e acompanhamento
A gagueira não tem cura única, entretanto, o tratamento adequado proporciona grandes avanços, principalmente quando iniciado cedo. A Fonoaudiologia é a principal área indicada, com abordagens específicas para cada fase e perfil do paciente.
De acordo com Carolina Pamponet, o trabalho do fonoaudiólogo precisa ser personalizado:
“O tratamento envolve técnicas de respiração, ritmo e coordenação da fala, além de exercícios que ajudam o paciente a ganhar segurança ao se comunicar. Assim, o foco não é apenas melhorar a fluência, mas também fortalecer a autoestima e reduzir a tensão associada à fala.”
Em crianças, o acompanhamento previne o agravamento do quadro. Já em adultos, o objetivo é controlar as disfluências e oferecer estratégias para que a fala se torne mais natural e funcional em diferentes contextos.

Preconceito e conscientização
Mais do que um desafio da fala, a gagueira ainda enfrenta barreiras sociais. Muitas pessoas que convivem com o distúrbio sofrem com piadas, interrupções e constrangimentos, o que, consequentemente, pode levar ao isolamento e à evitação de situações de comunicação.
A diretora da Fonoclin, em Feira de Santana, e integrante do Núcleo de Atendimento em Distúrbios da Voz e Comunicação Humana da Otorrino Center, em Salvador, ressalta que o primeiro passo é o acolhimento:
“Quem gagueja não precisa de pressa ou correção, mas de escuta e respeito. Portanto, a sociedade precisa entender que gagueira não é falta de inteligência, nem preguiça para falar; é uma condição que merece cuidado e empatia“, reafirma Pamponet.
