A atriz e cantora baiana Yara Sereya, de 36 anos, alcançou um marco histórico ao ser a primeira mulher transexual a passar por um procedimento de transição vocal pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Salvador. Essa conquista não só evidencia sua trajetória pessoal, mas também simboliza um avanço crucial no acesso a cuidados de saúde inclusivos para a comunidade trans na Bahia.
A transição de gênero é um processo complexo que abrange diversas dimensões da saúde física e mental das pessoas transexuais. Uma das importantes conquistas nesse processo é a Glotoplastia, uma cirurgia que visa a feminização da voz, tornando-a mais aguda e alinhada com a identidade de gênero da pessoa.
Foi no Hospital Universitário Professor Edgard Santos, da Universidade Federal da Bahia, vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Hupes-UFBA/Ebserh), que Yara teve a oportunidade de realizar seu desejo. Esta unidade é referência no estado para atendimentos de média e alta complexidade e conta com o Ambulatório Transexualizador, dedicado ao cuidado de pessoas trans. Esse ambiente proporcionou a Yara não apenas o acesso ao procedimento de transição vocal, mas também o suporte e o acolhimento necessários para esse importante passo em sua jornada de autenticidade.
A Glotoplastia
A Glotoplastia tem se destacado como a principal escolha para mulheres trans que buscam a readequação vocal, devido à sua natureza minimamente invasiva, à ausência de cicatrizes externas e aos resultados geralmente mais satisfatórios. De acordo com a médica otorrinolaringologista Erica Campos, responsável por realizar o procedimento, observa-se um impacto notável na qualidade de vida das pacientes.
“Esse procedimento traz um sentimento de pertencimento às mulheres. Muitas vezes elas, sejam cis ou trans, passam por essa disforia vocal, que é um processo de intimidação de falar em público por não se sentir confortável com a voz”, explicou
De acordo com informações fornecidas pelo Hupes, após a realização dessa primeira cirurgia, realizada no último sábado (13), a intenção é realizar um procedimento por mês. As pacientes interessadas em passar pelo procedimento devem ser acompanhadas por uma equipe multidisciplinar.
Atendimento no Ambulatório Transexualizador
O atendimento ambulatorial segue uma política de portas abertas, o que significa que cada pessoa pode buscar diretamente o serviço e passar por avaliações com a equipe antes de iniciar o tratamento e o acompanhamento. Essa abordagem visa garantir que a oferta de cuidados adequados e procedimentos específicos para a população trans contribua para democratizar o acesso à saúde.
A Dra. Luciana Oliveira, endocrinologista e coordenadora do ambulatório, afirmou que os pacientes em atendimento podem ser encaminhados para todos os demais serviços do hospital, incluindo ginecologia ou urologia, além de outras áreas como fonoaudiologia, para ajustes vocais, e dermatologia, quando necessário.
Entenda a técnica utilizada
Para segurança e comodidade dos(as) pacientes, a médica Erica Campos recomenda exames básicos e fonoterapia antes de cada procedimento para um resultado mais consistente.
“Na mulher trans, a Glotoplastia diminui a prega vocal com suturas, resultando na voz mais aguda. Não há cicatriz, já que a cirurgia é feita por dentro da boca. Contudo, é preciso permanecer de 7 a 10 dias em silêncio absoluto. Por isso, oriento ao menos 30 dias de afastamento em casos de grandes compromissos vocais, como professores e palestrantes, por exemplo”, explica.
Ela lembra que, no mesmo dia, inclusive, é possível retirar o pomo-de-adão, popularmente conhecido como “gogó”. “Neste caso é uma questão estética, pois a retirada não interfere na voz”, completa.
Onde fica localizado o Hupes?
O Hospital Universitário Professor Edgard Santos fica localizado na rua Augusto Viana, s/n, no bairro do Canela, em Salvador.
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