A falta de atividade física e o sedentarismo são responsáveis por aumentar a probabilidade das pessoas desenvolverem doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade, entre outras. O diabetes, uma condição caracterizada pelo elevado nível de glicose no sangue, tem apresentado aumento global devido à má alimentação da população associada à escassa ou nenhuma atividade física.
Com base no Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF), o Brasil é o 5º país no mundo com maior incidência da doença, sendo 16,8 milhões de adultos (20 a 79 anos) doentes no país. Para o clínico geral e geriatra Frederico Brina, os números acendem um sinal de alerta para que as pessoas mudem os hábitos com o objetivo de prevenir doenças que evoluem gradativamente, prejudicando a qualidade de vida e diminuindo a expectativa de vida do paciente.
De acordo com o diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo, Marcio Krakaer, o Tipo 1 do diabetes é causado por uma doença autoimune, caracterizada pela produção de anticorpos que levam à paralisação da produção de insulina. Já o Tipo 2, responsável por 90% dos casos no mundo, é mais complexo e carrega uma tendência genética. “Você pode ter o gene e nunca ter o diabetes. O que fazer se aparecer? Aí é que entra o problema, é o ganho de peso, a vida agitada, o estresse, a parte emocional. São vários gatilhos para aparecer a doença, mas o principal deles é o ganho de peso”, destaca Krakaer, que vê nessa combinação o chamado “mal do século”.
Ainda segundo a Sociedade, além de trazer a estimativa do número de pessoas que convivem com a doença, o Atlas 2021 aponta que um a cada dois adultos desconhece seu diagnóstico para a enfermidade, uma situação que pode levar a consequências extremamente prejudiciais aos pacientes. A estimativa é que 240 milhões de pessoas vivam com diabetes não diagnosticado.
Diabetes Mellitus (DM)
De acordo com a Biblioteca Virtual em Saúde, do Ministério da Saúde, o Diabetes Mellitus (DM) é uma síndrome metabólica de origem múltipla, decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade de a insulina exercer adequadamente seus efeitos. A insulina é produzida pelo pâncreas e é responsável pela manutenção do metabolismo da glicose e a falta desse hormônio provoca déficit na metabolização da glicose e, conseqüentemente, diabetes. Caracteriza-se por altas taxas de açúcar no sangue (hiperglicemia) de forma permanente.
Dados mundiais
Ainda segundo o MS, mundialmente, o diabetes se tornou um sério problema de saúde pública, cujas previsões vêm sendo superadas a cada nova triagem. Por exemplo, em 2000, a estimativa global de adultos vivendo com diabetes era de 151 milhões. Em 2009, havia crescido 88%, para 285 milhões. Em 2020, calculou-se que 9,3% dos adultos, entre 20 e 79 anos (assombrosos 463 milhões de pessoas) viviam com diabetes. Além disso, 1,1 milhão de crianças e adolescentes com menos de 20 anos apresentam diabetes tipo 1. Há uma década, em 2010, a projeção global do IDF para diabetes, em 2025, era de 438 milhões. Com mais cinco anos pela frente, essa previsão já foi ajustada para 463 milhões.
Dados no Brasil
Na atualização da diretriz 2023, a Sociedade Brasileira de Diabetes incluiu um capítulo sobre o tratamento do diabetes mellitus tipo 2 no SUS. O documento é baseado principalmente na nova portaria do novo Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT), publicada em 2020. A projeção é que em 2045 o total de diagnósticos da doença ultrapasse a casa dos 780 milhões, o que torna a enfermidade uma das mais preocupantes a nível mundial.
Os riscos nas crianças
A nutricionista Marina Ramos explica que estudos demonstram que crianças e adolescentes que passam mais tempo assistindo televisão tendem a consumir menos frutas e vegetais, e a ingerir mais porções de salgadinhos, doces e bebidas açucaradas. “O consumo elevado de açúcar e alimentos processados está diretamente ligado ao aumento no índice de obesidade infantil, diabetes tipo 2, dislipidemias, doenças cardiovasculares e até diversos tipos de cânceres. Além de influenciar na saúde mental e capacidade cognitiva”, reforça.
Riscos de desenvolver diabetes entre os idosos
“Os idosos são mais suscetíveis a desenvolver diabetes, pois a idade constitui um dos principais fatores de risco. Esse risco aumentado está relacionado a diminuição da massa muscular, ao excesso de peso, a redução da atividade física e sedentarismo e ao envelhecimento do pâncreas que é responsável pela produção da insulina. Muitos encontram dificuldade em levar uma vida mais ativa por questões de saúde e comprometimento da mobilidade, por exemplo. Porém, cada situação deve ser avaliada levando em consideração a individualidade de cada paciente e assim, em conjunto com o médico que o acompanha, é possível definir qual estratégia adotar e qual atividade física é mais recomendada para cada caso. O diabetes tipo 2 é o mais comum entre os idosos e a doença costuma evoluir de forma gradativa e muitas vezes silenciosamente. O tratamento na terceira idade precisa ser individualizado, entretanto, muitas vezes a utilização de medicamentos será fundamental para o adequado controle da doença; mas é de extrema importância, além da medicação, adotar outras medidas como uma alimentação adequada e atividade física”, orienta o médico.
Idoso diabético
O idoso diabético tem um risco maior do que a população em geral de apresentar perdas funcionais importantes, como dificuldade de locomoção, incontinência urinária, maior risco de quedas e dores crônicas, além da perda da visão e, em casos mais graves, a necessidade de amputação dos membros.
“A mortalidade provocada pelo diabetes aumenta com o avanço da idade, pois o risco de complicações cardiovascular se eleva com o envelhecimento. Idosos diabéticos precisam de um acompanhamento bem direcionado, pois essa parcela da população é muito heterogenia sendo possível encontrar um idoso extremamente saudável e ativo e outro de mesma idade já com vários problemas de saúde e em uso de diversas medicações. O adequado cuidado dessa doença é importante, pois ela afeta a saúde física podendo comprometer o funcionamento de órgãos vitais, como rins e coração, assim como também pode afetar a saúde emocional predispondo, por exemplo, a um quadro de depressão”, alerta Dr. Frederico Brina.
Diabetes tipo 2 x Hábitos de vida
Além de fatores genéticos, a maioria dos casos de pacientes diagnosticados com diabetes tipo 2 estão relacionados aos hábitos de vida. Segundo Dr Frederico, a vida moderna trouxe facilidades que, quando utilizadas indiscriminadamente, podem contribuir para o surgimento do diabetes. Um bom exemplo disso são os hábitos alimentares. Os alimentos processados, muitas vezes com o preparo mais prático, são grandes vilões da boa saúde, pois costumam possuir alto teor de açúcar ou sódio.
“Alimentos fast-foods entregues em casa, no formato de delivery, costumam estar a um toque de distância, pois estes alimentos habitualmente também possuem alto teor de gordura, sódio, açúcar e carboidratos. O consumo destes alimentos contribui para aumentar os casos de diabetes e outras comorbidades importantes que afetam de maneira significativa a saúde. Acrescentar à rotina uma alimentação balanceada, natural e atividade física regular são peças-chave para diminuir a probabilidade de adquirir doenças potencialmente graves na velhice. Para quem já apresenta o diabetes, por exemplo, o controle correto da doença, da alimentação, da atividade física e o acompanhamento regular ao médico tende a melhorar os índices de saúde do paciente e, consequentemente, proporciona para ele grande melhora na qualidade de vida”, completa o médico geriatra.
Educação continuada na CEDEBA
A programação do Novembro Azul no Cedeba – Centro de Referência Estadual para Assistência ao Diabetes e Endocrinologia, realizada pela Coordenação de Educação em Diabetes e Apoio à Rede (CODAR) e pela Coordenação Multiprofissional (COMULT), vai até o dia 21, com Caravanas Temáticas de Saúde destinadas aos usuários do Centro de Referência. O reconhecimento dos sintomas e as ações a serem tomadas em situações de hipoglicemia (quando a glicose no sangue atinge um valor inferior a 70) têm sido abordados durante a Caravana.
Importante saber!
• A diabetes não tem cura, mas, se bem controlada, a pessoa pode levar uma vida normal.
• É uma doença crônica perfeitamente controlável, e quanto mais cedo for diagnosticada e a redução dos fatores de risco intensamente trabalhada, outras complicações poderão ser evitadas
• Pessoas com diabetes devem ter glicose no sangue entre 70 e 180 mg / dl durante a maior parte do dia
• Quando o nível é muito alto, acima de 300 mg/dl, por exemplo, o risco é maior e requer atenção.
• É preciso falar sobre baixos níveis de glicose. Pessoas com diabetes, inclusive aquelas com algumas complicações, devem evitar ficar com valores de glicose abaixo de 70 mg/dl tanto em jejum quanto depois de comer.
• Não há como saber quem terá diabetes 1, nem como evitá-la
• A diabetes tipo 2, por outro lado, tem fatores desencadeantes muito claros, e pode ser evitada, ou retardada.
• Dietas ricas em gordura, especialmente se são de origem animal, bem como carboidratos simples (açúcares) e alimentos industrializados, estão relacionados a uma maior propensão de desenvolver a diabetes tipo 2
• Não há comida que possa, por si só, levar ao desenvolvimento da diabetes.
• O consumo adequado de legumes e verduras (crus e cozidos e de várias cores) e frutas pode ajudar a equilibrar a alimentação e a incorporar antioxidantes naturais que ajudam a prevenir a diabetes
Impactos no corpo
Coração e cérebro – Infarto do miocárdio e acidente vascular
Ocorrem quando os grandes vasos sanguíneos são afetados, levando à obstrução (arteriosclerose) de órgãos vitais como o coração e o cérebro.
Rim – Nefropatia diabética
Alterações nos vasos sanguíneos dos rins fazem com que haja a perda de proteína na urina; o órgão pode reduzir sua função lentamente, porém de forma progressiva, até sua paralisação total.
Cérebro – Neuropatia diabética
os nervos ficam incapazes de emitir e receber as mensagens do cérebro, provocando sintomas como: formigamento, dormência ou queimação das pernas, pés e mãos; dores locais e desequilíbrio; enfraquecimento muscular; traumatismo dos pêlos; pressão baixa; distúrbios digestivos; excesso de transpiração e impotência.
Fígado
Olhos – Retinopatia diabética
lesões que aparecem na retina do olho, podendo causar pequenos sangramentos e, como conseqüência, a perda da acuidade visual.
Pés – Pé diabético
Ocorre quando uma área machucada ou infeccionada nos pés desenvolve uma úlcera (ferida). Seu aparecimento pode ocorrer quando a circulação sanguínea é deficiente e os níveis de glicemia são mal controlados. Qualquer ferimento nos pés deve ser tratado rapidamente para evitar complicações que podem levar à amputação do membro afetado.
Sistema Imunológico – infecções:
O excesso de glicose pode causar danos ao sistema imunológico, aumentando o risco da pessoa com diabetes contrair algum tipo de infecção. Isso ocorre porque os glóbulos brancos (responsáveis pelo combate aos vírus, bactérias, etc.) ficam menos eficazes com a hiperglicemia. O alto índice de açúcar no sangue é propício para que fungos e bactérias se proliferem em áreas como boca e gengiva, pulmões, pele, pés, genitais e local de incisão cirúrgica.
#FicaDicaComSaúde
Centro de Referência na Bahia
Cedeba – Centro de Referência Estadual para Assistência ao Diabetes e Endocrinologia