De acordo com a Agência de Notícias da Aids, a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids), é a complicação da infecção pelo HIV, o vírus da imunodeficiência humana. A principal via de infecção é a sexual, por isso, no senso-comum, o vírus é associado à promiscuidade. Mas não é nada disso. Uma única relação desprotegida é o bastante para se infectar. Por isso, toda pessoa sexualmente ativa deve se testar periodicamente, e não só quem está solteiro e tem múltiplos parceiros, por exemplo.
De acordo com dados do Boletim Epidemiológico sobre HIV/AIDS do Ministério da Saúde, entre 2011 e 2021, o número de idosos que testaram positivo para o vírus quadruplicou. O geriatra e presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Marco Túlio Cintra, explica que são diversos os fatores ligados a esse aumento, entre eles a falta de campanhas direcionadas a esse público. E acrescentou que os números podem ser ainda maiores, já que é grande a subnotificação por falta de testagem.
É a recomendação do infectologista e professor da Faculdade de Saúde Santa Casa BH Alexandre Moura. “As pessoas sexualmente ativas devem realizar o teste, porque ninguém sabe quem está em risco. Você consegue falar muito bem sobre o seu comportamento, mas é difícil saber qual é o do seu parceiro ou parceira. Uma pessoa que tem relação sexual desprotegida está potencialmente em risco”, diz.
Testagem
A questão sobre a testagem e a infecção por HIV não é moral, reforça ele. Não importa se você tem um longo casamento em que acredita haver fidelidade, se é hétero ou homossexual: se há sexo sem camisinha, há risco. Além disso, por mais que haja confiança em um relacionamento estável, o cuidado com a própria saúde sexual é individual, e cada um precisa cuidar da sua. Por isso, o ideal é incorporar o teste de HIV à rotina de exames semestrais ou anuais, indica o especialista. “Vai fazer um check Up uma vez por ano? Inclua o teste anti HIV para sempre monitorar”.
Ele lembra que não é preciso esperar ter sintomas para se testar. Até porque não são todas as pessoas infectadas que apresentam sinais antes da evolução para a Aids. Em alguns casos, a pessoa pode ter uma síndrome retroviral aguda (SRA) algumas semanas após a infecção, porém essa não é a regra. “A pessoa sente febre, os gânglios ficam inchados, e ela acha que foi uma virose qualquer. Poucas pessoas detectam que é HIV, porque melhora. A doença mesmo se manifesta anos depois”, diz Moura.
Um grupo com indicação ainda maior para testagem são as gestantes, pois o tratamento contra o vírus durante a gravidez pode proteger o bebê de também ser infectado. O ideal é realizar um exame no início da gestação, outro no último trimestre e um teste rápido no parto — o momento em que o risco de infecção da criança é mais acentuado. “Quando se descobre o HIV no pré-natal, o risco de transmissão é zero”, reforça o infectologista.
Saber é o melhor caminho, pois HIV tem tratamento
A ideia de que a ignorância é uma bênção é mentira para quem vive com HIV. Conhecer o diagnóstico é essencial para controlar o vírus antes que ele evolua para a Aids. Hoje, os tratamentos oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) são de ponta e já não causam o sofrimento de algumas décadas atrás, explica o médico Alexandre Moura.
“Muitas pessoas têm o raciocínio de que não saber é melhor. Mas isso não faz sentido, porque hoje em dia o tratamento é muito simples e seguro. Ainda utiliza-se o nome equivocado de ‘coquetel’, com a ideia de que é um tratamento difícil e muito tóxico. Mas, não. Hoje em dia, você toma um, dois comprimidos por dia sem efeitos colaterais”, diz.
Além de proteger a si mesmo, quem se trata contra o HIV protege os parceiros sexuais. Isso porque, a partir do sexto mês de tratamento regular, a carga viral do paciente pode se tornar indetectável e, assim, o vírus é intransmissível. O ideal é nunca se relacionar sem camisinha, mas, em um caso assim, uma pessoa que vive com HIV não transmitiria o vírus nem se transasse sem preservativo.
Quando fazer o teste de HIV?
O ideal é incluí-lo entre os exames de rotina. Transou sem camisinha e está com receio de ter sido infectado? Se faz menos de 72 horas, o ideal é procurar a Profilaxia Pós-Exposição (PEP). Esse é o tratamento disponibilizado pelo SUS para pessoas que se expuseram a algum risco e implica tomar dois comprimidos diários durante 28 dias.
Em quase todos os casos, a utilização correta impede a infecção pelo HIV mesmo que você tenha se relacionado com uma pessoa que vive com a doença sem tratamento. Lembrando que a PEP não é a mesma coisa da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), um tratamento também gratuito em que a pessoa toma um medicamento todos os dias ou regularmente antes mesmo do sexo para prevenir a infecção.
Se não der tempo de recorrer à PEP, não adianta fazer um teste de HIV imediatamente, porque, nos exames tradicionais, a infecção só é detectada após 30 dias da infecção. É possível fazer um exame de sangue laboratorial ou um teste rápido, em que se espeta a ponta do dedo do paciente para colher uma gota de sangue. Especialmente nesse intervalo, não se relacione sem preservativo.
Dados do MS
De acordo com informações do Ministério da Saúde (MS), o Brasil alcançou mais uma meta de eliminação da aids como problema de saúde pública. Em 2023, o país diagnosticou 96% das pessoas estimadas de serem infectadas por HIV e não sabiam da condição sorológica. Os dados são do Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV e a aids (Unaids). O percentual é calculado a partir da estimativa de pessoas vivendo com HIV. O anúncio foi feito pelo Ministério da Saúde na última quinta-feira (28), durante a reunião da Comissão Intergestores Tripartite (CIT)
A pasta lançou, na última quinta-feira, a nova campanha de conscientização, com o tema “HIV. É sobre viver, conviver e respeitar. Teste e trate. Previna-se”. De forma inédita, o governo federal conscientiza que “i é igual a zero”, ou seja, quando o HIV fica indetectável, há zero risco de transmissão.
A Organização das Nações Unidas (ONU) definiu metas globais: ter 95% das pessoas vivendo com HIV diagnosticadas; ter 95% dessas pessoas em tratamento antirretroviral; e, dessas em tratamento, ter 95% em supressão viral, ou seja, com HIV intransmissível. Hoje, em números gerais, o Brasil possui, respectivamente, 96%, 82% e 95% de alcance.
Segundo o MS, houve um aumento registrado devido à expansão da oferta da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) , uma vez que para iniciar a profilaxia, é necessário fazer o teste. Com isso, mais pessoas com infecção pelo HIV foram detectadas e incluídas imediatamente em terapia antirretroviral. O desafio agora é revincular as pessoas que interromperam o tratamento ou foram abandonadas, muitas delas no último governo, bem como disponibilizar o tratamento para todas as pessoas recém diagnosticadas para que tenham melhor qualidade de vida.
O diretor do Departamento de HIV, aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis, Draurio Barreira, explicou a diferença da erradicação e da eliminação para que a vigilância não acabe. “Nós não estamos falando de zero transmissão. As metas de eliminação são programáticas. Até o ano que vem, conseguiremos atingir outros resultados de eliminação da Aids e do programa Brasil Saudável”, detalhou.
Fontes: Agência de Notícias da AIDS e MS