O câncer do colo do útero é o quarto tipo de câncer mais comum entre as mulheres em todo o mundo e continua a afetar mais mulheres e suas famílias em países de baixa e média renda, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Segundo a Organização, a cada dois minutos, uma mulher morre dessa doença, embora já existam conhecimentos e ferramentas para prevenir e até mesmo eliminar este tipo de câncer.
Em reunião no primeiro “Fórum Global para a Eliminação do Câncer do Colo do Útero: Promover o Apelo à Ação”, realizado na última terça (5), em Cartagena das Índias (Colômbia), instituições, governos, doadores e parceiros anunciaram novos e importantes compromissos políticos, programáticos e financeiros, incluindo a doação de quase 600 milhões de dólares para eliminar esta doença evitável.
Compromissos
Os compromissos firmados no fórum são decisivos para acelerar o progresso da promessa feita em 2020, quando 194 países adotaram a estratégia global da OMS para eliminar o câncer do colo do útero. As metas consistem em 90% das meninas vacinadas contra HPV até os 15 anos; 70% das mulheres rastreadas com teste de alto desempenho; e 90% das mulheres identificadas com lesões precursoras ou câncer tratadas.
Vacinação
A vacinação contra o papilomavírus humano (HPV), principal causa da neoplasia, pode prevenir a maioria dos casos. No entanto, um recente levantamento feito pela Fundação do Câncer apontou que a cobertura vacinal da população feminina de 9 a 14 anos contra o vírus causador da doença foi de 76% para a primeira dose e 57% para a segunda no Brasil.
Em 2022, a OMS passou a recomendar a imunização contra o HPV em dose única, e em 2023 foi reforçada a recomendação semelhante na região das Américas. Até a data, 37 países comunicaram a mudança ou a intenção de mudar para um regime de uma dose.
No Brasil, ainda é preconizado o esquema vacinal de duas doses, com intervalo de seis meses entre as doses, para meninos e meninas de 9 a 14 anos. “Estudos já comprovaram que uma dose da vacina é eficaz contra a infecção”, destaca Flávia Miranda Corrêa, consultora médica da Fundação do Câncer e doutora em Saúde Coletiva da Criança e da Mulher pelo Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz).
Nova forma de rastreio
Existem muitos desafios para a eliminação da doença, um deles é o rastreio. De acordo com a OMS, menos de 5% das mulheres em países de baixa e média renda já são rastreadas para o câncer do colo do útero. No Brasil, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) no Sistema Único de Saúde (SUS) recentemente fez a recomendação final para a incorporação da testagem molecular para detecção do HPV no SUS. Para Flávia Miranda Corrêa, a medida representa um avanço significativo na prevenção e detecção precoce da doença.
“A incorporação dessa tecnologia no SUS no modelo de rastreamento organizado de base populacional irá contribuir para a redução das desigualdades no acesso ao diagnóstico e tratamento do câncer do colo do útero”, comenta a co-investigadora do MARCO Project (Management of Risk of Cervical Cancer), parceria do US National Cancer Institute (NCI)/Harvard School of Public Health/Fiocruz/INCA para avaliação da efetividade, eficiência e viabilidade econômica de novas estratégias de rastreamento e triagem de câncer do colo do útero baseadas em testes de HPV e também participante da elaboração do WHO Guideline Development Group: Update of WHO Screening and Treatment Recommendations to prevent cervical cancer.
O diretor executivo da Fundação do Câncer, Luiz Augusto Maltoni, alega que é essencial que governos e organizações de saúde trabalhem em conjunto para garantir que todas as mulheres tenham igualdade de acesso a esses serviços, independentemente de sua renda, localização geográfica ou origem.
“O anúncio desses compromissos é fundamental para o controle do câncer do colo do útero. Aumentar o acesso a serviços de saúde, investir em programas de vacinação e rastreamento, conscientizar a população e combater o tabu sobre o assunto são ações vitais para alcançar a eliminação da doença como um problema de saúde pública“, defende o cirurgião oncológico.