Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, os casos de dengue no país aumentaram 15,8% em 2023 em relação ao ano passado. As ocorrências passaram de 1,3 milhão em 2022 para 1,6 milhão este ano. Já a taxa de letalidade ficou em 0,07% nos dois anos, somando 1.053 mortes confirmadas em 2023 e 999 no ano passado.
Para a Dra Isabella Ballalai, pediatra e diretora da Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm), este cenário é preocupante porque todos sabem o que a dengue representa no país, não apenas em termos de mortalidade, mas também em relação aos surtos, que podem ocorrer mais ou menos a cada ano. “Já enfrentamos situações em que os surtos afetaram significativamente a estrutura de saúde, levando, por exemplo, à necessidade de instalação de barracas de atendimento nas ruas. Em suma, houve a exigência de uma estrutura adicional para atender à população”, enfatiza.
Em nota, o Ministério avaliou que “a variação climática, o aumento das chuvas, o número de pessoas suscetíveis às doenças e a mudança na circulação de sorotipo do vírus são fatores que podem ter contribuído para esse crescimento”. Especialistas advertem que é crucial intensificar a vigilância em relação às manifestações graves da doença. A dengue apresenta uma variação quádrupla. Essa é a principal razão pela qual as epidemias tendem a ser explosivas.
Em outubro deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a indicar a Qdenga (TAK-003), vacina produzida pela farmacêutica japonesa Takeda. Antes dessa recomendação, em março, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já havia aprovado o registro do imunizante no Brasil. Destinado ao público de 4 a 60 anos, serve para quem já teve ou não a arbovirose. Até então, o imunizante está disponível apenas na rede privada.
“É desejável que a vacina esteja disponível na rede pública, pois somente assim poderíamos impactar efetivamente a população. Se a vacina ficar restrita à rede privada, beneficiará apenas aqueles que podem pagar por ela, não oferecendo proteção abrangente ao país. Para assegurar a proteção nacional, é essencial alcançar altas coberturas vacinais”, ressalta Ballalai
Dados na Bahia
De acordo com a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), de janeiro a novembro de 2023, ocorreram mais de 46 mil prováveis casos de dengue – o que representa um aumento de 35% nas ocorrências em comparação com o ano passado – e 17 óbitos motivados por complicações. Em Feira de Santana, apenas de janeiro a julho deste ano, 978 episódios e quatro mortes em consequência da forma grave foram registrados, segundo levantamento da atual gestão municipal. Assim como Salvador, a cidade enfrenta uma epidemia da arbovirose.
“Percebemos um aumento não somente na procura, mas também na positividade dos testes. Em relação a 2022, a quantidade de exames feitos chega a ser cinco vezes maior”, afirma o Dr. Marcus Machado, diretor técnico do IHEF Laboratório, da cidade de Feira de Santana.
Situação da vacina no SUS
Considerando o cenário epidemiológico, a Comissão Nacional de Incorporações de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) já recomendou a incorporação da vacina (Qdenga) contra dengue ao Sistema Único de Saúde (SUS). A comissão deve decidir até o final do ano sobre a incorporação da vacina. Nos dados avaliados pela Conitec, foi verificada eficácia geral na redução da hospitalização em 84% dos casos de dengue.
A recomendação de incorporação feita pela Conitec está condicionada a uma proposta de redução de preço pela fabricante. Apesar do desconto inicialmente oferecido, o valor por dose, de R$ 170, ainda é classificado como alto pelo governo federal.
O plenário do Senado aprovou, em 6 de dezembro, o projeto de lei que prevê a revisão anual do pagamento dos serviços privados oferecidos ao SUS, por ato do Ministério da Saúde, levando em conta a disponibilidade orçamentária e financeira. O texto seguiu para sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
De acordo com o laboratório, poderão ser entregues 8,5 milhões no primeiro ano e um total acumulado de 50 milhões em cinco anos, o que impõe restrições no público a ser atendido, segundo o Ministério da Saúde.
A definição sobre as localidades e públicos prioritários será feita pelo Programa Nacional de Imunizações (PNIA). Uma vez incorporada, a vacina Qdenga deve ser administrada em esquema de duas doses, com intervalo de três meses.
Sorotipos do virus
Conforme informações do Instituto Butantan, no Brasil, circulam os quatro sorotipos do vírus (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4), sendo o DENV-1 e o DENV-2 os mais incidentes atualmente. “Se uma pessoa for infectada por um deles, a imunidade atua contra aquele sorotipo específico, mas não protege contra os outros. Depois, se ela for infectada por outro sorotipo, provavelmente desenvolverá uma forma mais grave de dengue”.
De acordo com a Fiocruz, “o ressurgimento recente do sorotipo 3 do vírus da dengue no Brasil – que há mais de 15 anos não causa epidemias no país – fez acender o sinal de alerta quanto ao risco de uma nova epidemia da doença causada por esse sorotipo viral”.
Um estudo, coordenado pela Fiocruz Amazônia e pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), apresenta a caracterização genética dos vírus referentes a quatro casos da infecção registrados este ano no Sul do país. A circulação de um sorotipo há tanto tempo ausente preocupa os especialistas.
Para Dra Isabella Ballalai, o ressurgimento da Dengue tipo 3 aumenta o risco de surtos, casos graves e mortalidade. “Ter uma vacina que oferece proteção contra os quatro tipos do vírus da Dengue é uma excelente notícia. Sem dúvida, trata-se de uma vacina altamente eficaz e segura que pode contribuir significativamente para reduzir a incidência da doença”, afirma.
Mosquito da dengue
A principal preocupação das autoridades sanitárias é a presença disseminada do mosquito-da-dengue fêmea, o único que pode transmitir a doença. Ele se beneficia de espaços como depósitos domiciliares, lixo a céu aberto e terrenos alagadiços de pouca profundidade para se reproduzir. Estações chuvosas, com alta concentração de água parada, e temperaturas elevadas ao longo do ano são essenciais para a sobrevivência das larvas.
Principais sintomas
Após a infecção, os sintomas da dengue variam a depender da gravidade do quadro e podem confundir, por serem inespecíficos.
Os sintomas começam com uma febre alta, acima de 38°, de início abrupto e acompanhada de dor de cabeça, dores no corpo, nas articulações e fraqueza. Também pode ocorrer prostração, dor atrás dos olhos, erupção, coceira na pele, manchas vermelhas pelo corpo, náuseas, vômitos e dores abdominais. Vale ressaltar que, ao contrário de gripes, resfriados e Covid-19, não há quadro respiratório, como catarro e tosse.
As formas graves da doença, como a síndrome do choque da dengue e a dengue hemorrágica, incluem dor abdominal intensa e contínua, náuseas, vômitos persistentes e sangramento de mucosas. Se não houver tratamento, a doença pode levar à morte.
Grupos vulneráveis
Os grupos mais vulneráveis às formas críticas da dengue são crianças menores de dois anos, gestantes, idosos, hipertensos e pacientes com doenças cardiovasculares, respiratórias, hematológicas, doença renal crônica, diabetes mellitus e doenças autoimunes.
Prevenção
A prevenção eficiente consiste no combate ao vetor do vírus da dengue, o mosquito Aedes aegypti: eliminação e/ou controle de depósitos de água domiciliares, eliminação de lixo a céu aberto e investimento em saneamento básico de qualidade.
As recomendações individuais também são importantes, como proteger as áreas do corpo que o mosquito pode picar, usando calças e camisas de mangas compridas, e aplicar repelentes seguindo as orientações do fabricante quanto à faixa etária e à frequência de aplicação. Além disso, é aconselhável o uso de mosquiteiros sobre a cama, a instalação de telas em portas e janelas, e, quando disponível, o uso de ar-condicionado.
O Butantan alerta!
Uma em cada 20 pessoas pode desenvolver a forma grave da doença, com sinais de alarme e dengue grave, capazes de provocar hemorragias.
O risco de agravamento do quadro pode ser aumentado, a depender de comorbidades preexistentes, do sorotipo circulante ou até mesmo quando o indivíduo sofre uma segunda infecção.
Como existem quatro subtipos virais, um mesmo indivíduo pode adquirir a doença até 4 vezes.
O Combate ao vírus e seus sorotipos depende de métodos de prevenção eficazes e identificação rápida do quadro
5% dos casos podem ser graves e levar à morte