Em 2023 foi registrado aumento geral do consumo de álcool, de 18,4% para 20,8% na população, de acordo com relatório divulgado pelo Ministério da Saúde. Já o consumo de drogas de abuso aumentou 23% entre a população brasileira. Neste 20 de fevereiro, Dia Nacional de Combate às Drogas, Danilo Avelar, especialista em Farmacologia e professor do Centro Universitário de Brasília (CEUB) comenta os desafios enfrentados pelos usuários, destacando que há tratamento e acolhimento para o problema de saúde.
Embora o alcoolismo seja considerado uma doença crônica, há evidências crescentes de que tratamentos bem executados e com boa adesão do paciente podem levar a resultados positivos, incluindo a remissão completa dos sintomas, afirma Danilo Avelar. Do ponto de vista científico, os avanços na compreensão dos mecanismos moleculares do alcoolismo têm desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento de novos tratamentos farmacológicos mais eficazes e com menos efeitos adversos.
“A partir de uma compreensão mais aprofundada dos processos biológicos subjacentes ao vício em álcool, as pesquisas podem identificar alvos terapêuticos mais específicos. Essa abordagem permite o desenvolvimento de medicamentos que podem modular ou gerenciar os sintomas do alcoolismo de maneira mais eficaz,” considera o especialista. Sobre os medicamentos utilizados no tratamento, Avelar explica que atuam principalmente no Sistema Nervoso Central, inibindo receptores que interagem com o álcool e seus metabólitos.
Efeitos colaterais
No entanto, muitos desses receptores têm funções em outras partes do corpo, como o Sistema Digestório, o que pode levar a desregulações quando afetados de forma não específica. “Isso pode resultar em efeitos colaterais graves, como náuseas intensas, vômitos, tontura e dor de cabeça”, relata. Segundo o especialista, a falta de especificidade dos medicamentos e a probabilidade de efeitos adversos muitas vezes levam à baixa adesão ao tratamento por parte dos pacientes.
Avelar diferencia os perfis de dependência entre os alcoólicos que experimentam excitação ao beber e aqueles que buscam alívio para o estresse e ansiedade através do álcool. Ele explica que o álcool atua como depressor do sistema nervoso central, inibindo áreas cerebrais responsáveis pelo raciocínio lógico e pelo controle emocional. Inicialmente, pode causar euforia devido à inibição das funções racionais, mas, com o tempo, pode levar a uma depressão nervosa generalizada. “Assim, o consumo de álcool pode resultar em expressões emocionais e comportamentos que diferem significativamente do padrão habitual do indivíduo”.
Ciência e Pesquisa
O professor observa que a pesquisa de medicamentos para tratar o alcoolismo enfrenta desafios significativos. Em comparação com áreas como o câncer, ele afirma que há menos interesse e investimento nessa linha de pesquisa. Além disso, as questões econômicas entram em jogo, já que a indústria de bebidas alcoólicas é altamente lucrativa, o que pode desencorajar o desenvolvimento de medicamentos que reduzam o consumo de álcool. O alcoolismo é um problema de saúde pública grave, associado a várias complicações, incluindo doenças crônicas, acidentes e violência.
De acordo com o especialista em Farmacologia, com o foco atual de enfrentar doenças infecciosas, doenças crônicas não transmissíveis e transtornos mentais, a pesquisa sobre tratamentos para o alcoolismo fica em segundo plano. “Diante desse cenário, as perspectivas para o desenvolvimento de novos tratamentos para o alcoolismo são incertas e podem até parecer pessimistas, dada a falta de priorização e investimento nessa área”.
Dependência Química
Já sobre as drogas de abuso, o professor do CEUB destaca que o tratamento da dependência química deve começar com um diagnóstico preciso, humanizado e individualizado, seguido pela elaboração de estratégia terapêutica para cada indivíduo. Ele ressalta que a desintoxicação é apenas uma etapa do tratamento, não sendo o tratamento em si, como muitos podem pensar.
Durante a fase de desintoxicação, o docente observa que é crucial fornecer assistência direta e individualizada por parte da equipe clínica, abordando não apenas a parte química, mas também a psicológica, social e comportamental do paciente. “O tempo necessário para a desintoxicação varia, podendo ser concluído em 24 horas para alguns pacientes, enquanto outros podem necessitar de dias, semanas ou até meses, dependendo de vários fatores, como o tipo de substância, quantidade e tempo de exposição”, considera.
Os desafios durante esta fase, conforme observado por Danilo Avelar, incluem o diagnóstico preciso e rápido, a montagem da estratégia de tratamento, a adesão do paciente ao tratamento e a criação de uma rede de apoio sólida, envolvendo aspectos familiares, sociais e profissionais. “Quanto maior for essa rede de proteção, mais eficaz tende a ser o tratamento”, arremata.