“Novembro Dourado” é uma campanha internacional de conscientização sobre o câncer infanto-juvenil. No Brasil, a data é lembrada oficialmente em 23 de novembro. O objetivo é aumentar a visibilidade da causa, orientar famílias para que busquem atendimento médico especializado, promover debates, ações educativas associadas à doença – sintomas, riscos e tratamentos – além de incentivar outros eventos de atenção integral às crianças e aos adolescentes com câncer.
De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), a doença representa de 1 a 3% de todas as neoplasias malignas. Mais de 11 mil casos novos de câncer infantojuvenil são registrados por ano em crianças e adolescentes, até 19 anos.
Diagnóstico precoce aumenta probabilidades de cura
Infelizmente, a partir dos dados registrados pelo INCA, no Brasil a maior parte dos pacientes só é encaminhada aos centros de tratamento com a doença em estágio avançado. A detecção do câncer em estágio inicial aumenta as chances de cura e contribui com a melhora na sobrevida da criança e do adolescente.
O tempo entre o início das neoplasias malignas, diagnosticadas nas crianças e nos adolescentes, e o período em que os seus efeitos se tornam perceptíveis é bem menor que no adulto. Os sintomas normalmente são mais invasivos, aparecem com muita rapidez, mas respondem melhor à quimioterapia, diferentemente do que acontece em pessoas com idades superiores a 19 anos.
As neoplasias malignas na criança e no adolescente afetam as células do sistema sanguíneo e os tecidos de sustentação. As leucemias, os tumores do sistema nervoso central e os linfomas são os cânceres mais frequentes. No adulto, a doença, geralmente, compromete o epitélio, células que recobrem os diferentes órgãos.
A consulta frequente ao pediatra, a análise do histórico clínico e familiar, a detecção da presença de doenças genéticas e os exames são os primeiros passos para conseguir um diagnóstico precoce da doença. É preciso atenção especial a determinados sinais e sintomas de doenças benignas comuns da infância, que são similares aos apresentados pelo câncer infantojuvenil.
Sinais de alerta
Os Sinais de Alerta ou “Saint Siluan”, estudados inicialmente na África do Sul, foram definidos como forma de orientar os pais ou responsáveis a procurarem assistência médica para as crianças e adolescentes, assim que esses forem observados.
O estrabismo, a mancha branca nos olhos, a perda recente de visão, a protrusão do globo ocular; o aumento de volume do abdome, da pelve, da cabeça, do pescoço, dos membros, dos testículos, das glândulas; febre prolongada, perda de peso, palidez, fadiga, manchas roxas pelo corpo, sangramentos, dor de cabeça por mais de uma semana com ou sem vômitos, dores nos ossos, nas articulações, nas costas; desequilíbrio, alteração da fala, perda de habilidades desenvolvidas, fraturas, sem causa aparente são alguns dos principais sintomas relacionados como ‘Sinais de Alerta’.
Caso haja suspeita de neoplasia, o encaminhamento deve ser feito para um centro especializado em oncologia pediátrica, alerta a oncologista baiana Lara Diniz. A qualidade de vida do paciente, a sobrevida, as chances de cura são maiores quanto mais cedo a doença for diagnosticada.
Para a médica, “é importante os familiares ficarem atentos aos sintomas. O acompanhamento de um pediatra é imprescindível para que essa criança possa ser encaminhada – o mais rápido possível – para um centro especializado no diagnóstico e tratamento do câncer infantojuvenil, caso a suspeita seja comprovada”, relata.
Fatores de riscos
Os hábitos de vida são formados durante a infância e a adolescência. Daí a importância de orientar os pais sobre os principais fatores de risco relacionados ao desenvolvimento do câncer, como o sedentarismo, a alimentação inadequada, a exposição ao Sol em horários não recomendados, a prática sexual sem proteção, o consumo de fumo e de álcool e à não vacinação contra agentes infecciosos, especialmente, hepatite B, e HPV.
Padrão “de ouro” no tratamento de pacientes
No Brasil, a utilização de protocolos cooperativos de tratamento coordenados pela Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE), elevou os casos de sobrevida das crianças com câncer para 70 a 80%. Resultados similares aos de países desenvolvidos.
De acordo com os dados estimados pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), quase oito mil novos casos de câncer infantojuvenil foram diagnosticados em 2023. No biênio 2024-2025, esse número deve continuar estável.
Atendimentos pelo SUS no interior da Bahia
Segundo ela, “na maioria das cidades do interior, em todo o Brasil, não tem centros para tratar o câncer infantojuvenil. Na Bahia, quem faz tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) precisa deixar o seu município de residência para receber assistência especializada, em Salvador ou em Feira de Santana.
O sofrimento é físico e emocional porque a rotina da criança muda totalmente. Por isso, é preciso formar um time multidisciplinar para reduzir esses impactos do tratamento – com sintomas e efeitos colaterais – que já é tão difícil”, concluiu.