Levar atendimento médico a uma população de extrema vulnerabilidade em Benin, quinto país mais pobre do continente africano, e oferecer a estudantes e docentes uma oportunidade de desenvolvimento profissional e humanitário. Esses são os principais objetivos da Missão África, que acontece de 24 de janeiro a 07 de fevereiro – período em que os participantes visitarão e receberão pessoas de 10 diferentes vilarejos das cidades de Adjarra e Ganvie.
A expectativa do projeto idealizado pela Inspirali, principal ecossistema de educação médica do país do qual o curso de Medicina da Universidade Salvador (UNIFACS) faz parte, é disponibilizar diariamente serviços de saúde e pequenas cirurgias a cerca de 500 pessoas. A expedição será dividida em grupos com diferentes atuações, para prestar atendimento aos vilarejos locais. O hospital Centre de Santé de Adjarra, já em funcionamento na região, servirá como base.
“Na maioria das vezes, prestamos o atendimento próximo às paróquias do vilarejo, montando uma base, mesmo que improvisada, para que todas as pessoas consigam chegar até nós e tenham a oportunidade de receber assistência”, conta o professor Rodrigo Dias Nunes, diretor médico da regional Sul da Inspirali e coordenador do projeto.
Bahia na missão
Dentre os 10 professores selecionados para a jornada, quatro são baianos. Eles viajam junto com 30 estudantes, dois deles da UNIFACS. “Sempre sonhei em participar de algo dessa grandeza, mas nunca imaginei que seria ainda na faculdade.
Na Missão Amazônia, foram 14 dias dividindo banheiro, dormindo em rede, atendendo debaixo de árvore, improvisando consultório, mas foi uma vivência que vou levar para toda a vida. Para a Missão África, estou ansiosa com esse novo desafio. Sei que teremos muitos obstáculos para enfrentar, como o medo do desconhecido, uma outra língua, uma nova cultura, mas tenho certeza de que será muito enriquecedor. Sinto-me preparada, confiante e muito grata por ter sido uma das escolhidas”, conta Priscila Alkmim, aluna da instituição e presidente do Comitê Estudantil Voluntariado.
Para Wesley Mota, egresso da UNIFACS e atualmente residente em Medicina de Família e Comunidade, a imersão representa mais uma conquista na sua vida pessoal e profissional, marcada pela superação de dificuldades socioeconômicas e muita dedicação aos estudos. “Ainda não tinha imaginado participar de um projeto assim. Sempre quis fazer voluntariado, mas sabia que precisaria de uma estrutura econômica para seguir. A possibilidade de integrar a missão chegou no final do curso e era o que faltava no meu currículo. Estou cheio de expectativas de aprendizagem e compartilhamento de conhecimentos. Como a expedição é voltada à Medicina de Família, acredito que vai aprimorar tanto minha trajetória na residência quanto no dia a dia de atuação”, afirma.
Tecnologia é aliada
Cada estudante terá em mãos um sistema desenvolvido especialmente para a missão. Trata-se de um tablet com prontuário eletrônico, cujas informações colhidas irão compor um banco de dados dos pacientes. Posteriormente, será apresentado como modelo para o governo beninense fortalecer a estratégia de implementação de um programa de Medicina de Família e Comunidade.
Além de procedimentos cirúrgicos e visitas domiciliares, os missionários ainda realizarão ações de educação em saúde nas escolas, orientando a população sobre higiene sanitária, escovação, orientação sexual, alimentação, entre outros temas. Também estão previstas capacitações técnicas em obstetrícia junto às enfermeiras e parteiras locais, com intuito de tentar reduzir as taxas de mortalidade materna e perinatal.
A ação é uma atividade prática e de extensão universitária ao currículo da Inspirali, no qual participam estudantes que já possuem histórico em ações voluntárias, se destacaram em alguma das edições anteriores da Missão Amazônia e estão nos dois últimos anos da graduação. “Todos se esforçaram, estão há meses aprendendo a falar francês, que é a língua oficial local, e realizaram diversas ações para arrecadação de medicamentos que serão levados. Lá, não entregaremos uma receita para o paciente, entregaremos o remédio diretamente em mãos”, completa Rodrigo.
Por que Benin?
Com 50% da população composta por jovens, Benin enfrenta inúmeros problemas. A maioria da população, em extrema pobreza, não conta com saneamento básico. Fora isso, poucos têm acesso à energia elétrica, educação e saúde. Nessa primeira edição, os atendimentos serão focados no combate a doenças prevalentes como hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, malária e um quadro endêmico chamado úlcera de Buruli.
“A partir da parceria com a ONG Sementes da Saúde, teremos apoio local na articulação com os agentes de saúde do Benin, Ministério da Saúde e Ordem dos Médicos, além da contratualização de serviços locais de saúde junto aos villages. Contamos ainda com o apoio da Embaixada Brasileira em Benin. Sabemos das dificuldades desta operação, mas escolhemos essa região por ser um território conhecido, livre de guerras e com necessidades que estão em consonância com a trilha humanitária dos cursos de medicina da Inspirali”, destaca Rodrigo Dias Nunes, médico ginecologista e obstetra que há oito anos participa de um trabalho humanitário na África.
“Além disso, com este apoio já estabelecido, conseguiremos também demonstrar as ações da Medicina de Família e Comunidade, com a pretensão de estimular políticas públicas de assistência e educação em saúde, conforme a expertise do currículo integrado da Inspirali”, finaliza.
A ONG Sementes da Saúde, fundada pela irmã Monique Bourget, que integra a comunidade das Irmãs Marcelinas e é formada em Medicina no Canadá, tem como missão retribuir uma dívida histórica cultural para com o povo beninense, de onde o Brasil recebeu aproximadamente 80% das pessoas escravizadas que chegaram ao país.