Um estudo recente publicado no Journal of Oncology Medicine & Practice revelou que muitos médicos no Brasil enfrentam dificuldades no rastreamento do câncer de pulmão, especialmente entre pacientes de alto risco, como fumantes. De acordo com a Fundação do Câncer, o tabagismo responde por 80% das mortes por câncer de pulmão no Brasil, sendo um dos principais fatores de risco para a doença.
Este trabalho apresenta o primeiro estudo nacional sobre o conhecimento dos médicos brasileiros em relação ao rastreamento do câncer de pulmão. O Projeto ProPulmão, uma iniciativa pioneira que vem sendo executada na Bahia há um ano, continua a oferecer diagnóstico e tratamento a pacientes. Hoje (27/08), dois novos pacientes estão sendo submetidos a cirurgias no Hospital Santa Izabel, após diagnóstico e biópsia realizados pelo projeto.
O ProPulmão tem revelado as dificuldades enfrentadas para promover o rastreamento no sistema público de saúde, evidenciando os gargalos no encaminhamento dos pacientes e a falta de comunicação eficiente entre os diversos setores da saúde. “Apesar do apoio da SESAB e de várias prefeituras, ainda há um grande atraso na realização de biópsias, resultado não apenas da falta de organização, mas também da deficiência estrutural na oferta de serviços em uma área tão complexa”, afirma Dr. Ricardo Sales, cirurgião torácico, coordenador do Projeto ProPulmão e professor e pesquisador do Centro Universitário Senai Cimatec.
O estudo
O estudo “Avaliação do Conhecimento dos Profissionais de Saúde no Rastreamento de Câncer de Pulmão” analisou 324 profissionais de saúde no Brasil, sendo a maioria médicos (94,7%). Apenas 46,2% dos participantes acertaram todos os critérios de rastreamento, revelando uma lacuna preocupante, especialmente entre especialistas em doenças respiratórias (62,3%).
Capacitar os profissionais é crucial para diagnósticos mais precoces e melhores desfechos para os pacientes, conforme preconizado pela Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer (PNPCC) no Sistema Único de Saúde (SUS). “Essa falta de conhecimento ressalta a necessidade urgente de programas de educação continuada para melhorar a compreensão e adesão às diretrizes de rastreamento”, reforça Dr. Ricardo Sales, co-autor do estudo recém publicado
O tabagismo e o câncer de pulmão
O câncer de pulmão é amplamente associado ao tabagismo, responsável por cerca de 85% dos casos diagnosticados. Fumantes têm 30% mais chances de desenvolver a doença em comparação aos não fumantes, conforme dados da International Agency for Research on Cancer (IARC). Projeções alarmantes indicam que, se as tendências atuais de tabagismo persistirem, poderá haver um aumento de mais de 65% na incidência e 74% na mortalidade por câncer de pulmão até 2040, comparado a 2022.
Os compostos químicos do cigarro causam danos ao DNA das células pulmonares, predispondo a mutações genéticas que podem evoluir para câncer. Além disso, o tabagismo crônico inflama persistentemente os pulmões, criando um ambiente propício para o desenvolvimento de células cancerígenas.
Projeto ProPulmão
O ProPulmão é um projeto de pesquisa crucial para implementar o rastreamento do câncer de pulmão no SUS. Atualmente, o único método de rastreamento disponível é a tomografia computadorizada de baixa dose, destinada a grupos de fumantes e ex-fumantes com alta carga tabágica. No entanto, esses exames não são amplamente acessíveis a toda a população. A proposta do ProPulmão inclui oferecer suporte e tratamento aos que mais necessitam, além de promover ações de conscientização sobre os riscos do tabagismo.
Dados sobre o tabagismo
De acordo com a OMS, há 1,3 bilhão de usuários de tabaco em todo o mundo. O tabaco mata cerca de 8 milhões de pessoas por ano (mais de 7 milhões de fumantes ativos e mais de 1 milhão de não fumantes expostos ao fumo passivo), sendo um milhão nas Américas. A expectativa de vida dos fumantes é pelo menos 10 anos mais curta do que a dos não fumantes.
O Instituto Nacional de Câncer (INCA), órgão vinculado ao Ministério da Saúde, estima o aparecimento de 704 mil novos casos de câncer no Brasil até 2025, sendo 46 mil de câncer de pulmão, o quarto tipo mais frequente no país.