Fiocruz Bahia confirma existência e transmissão da esquistossomose em áreas urbanas de Salvador – Portal ComSaúde Bahia
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PESQUISA
Fiocruz Bahia confirma existência e transmissão da esquistossomose em áreas urbanas de Salvador
Pesquisadores alertam sobre a necessidade de um conjunto de forças para controlar a transmissão da doença
Por:Redação | 05/01/2024 às 19:40

Um estudo desenvolvido na Fiocruz Bahia desde 2011 concluiu que em Salvador persiste a presença da esquistossomose em áreas urbanas da cidade. O pesquisador da Fiocruz Bahia, Mitermayer Galvão dos Reis, um dos coordenadores do projeto, destaca a importância de realizar um trabalho diagnóstico sobre a situação da esquistossomose na cidade. “Temos que ficar atentos, fazer uma vigilância constante nas áreas onde está tendo o maior risco de transmissão, que são áreas onde tem rios, coleções de águas e caramujos”, destaca.

Para Ronald Blanton, médico especializado em doenças infecciosas da Universidade de Tulane (EUA) e professor do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa (PGBSMI) da Fiocruz Bahia, os trabalhos de pesquisa nos bairros demonstraram a necessidade de um conjunto de forças para controlar a transmissão.

“As instituições de saúde pública, da construção civil e de saneamento às vezes não se comunicam, e é uma um momento de juntar todo mundo, e apresentar o que estamos encontrando”, observa Ronald, que também é um dos coordenadores do trabalho.

A esquistossomose
A esquistossomose é causada pelo verme Schistosoma mansoni e é considerada negligenciada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A transmissão ocorre quando a larva, presente em água parada ou com pouca correnteza, penetra na pele do indivíduo que, após infectado, libera ovos do parasita em suas fezes – que podem ser depositadas em ambientes de água doce. Em contato com a água, os ovos eclodem dando origem a novas larvas que se alojam em caramujos, são liberadas na água, voltando ao ciclo.

O cientista explica que, onde há caramujos, é necessário examiná-los para avaliar se estão infectados com o Schistosoma, e, caso estejam, também examinar a comunidade, e tratar os indivíduos infectados. “Também é necessário levar informações a nível municipal, estadual e federal de que são necessárias intervenções mais duradouras e definitivas, como melhorar as condições de vida da comunidade, oferecendo água potável, esgoto, e levando mais educação e informação de como se dá a transmissão”, pontua.

Formação
Mitermayer conta que o desenvolvimento da pesquisa também resultou em uma importante formação de recursos humanos. “Foram capacitados técnicos, estudantes de graduação realizaram trabalhos de conclusão de curso e os de pós-graduação produziram suas dissertações e teses sobre o tema, além da participação de pós-doutorandos. Também realizamos seminários com membros da comunidade e o estudo resultou em publicações de artigos científicos”, declarou.

Resultados
Os pesquisadores tiveram conhecimento da esquistossomose em São Bartolomeu (comunidade às margens da Av. Afrânio Peixoto), em Salvador, a partir de 2007, e realizaram inquéritos nesta área em 2011 e 2015. O projeto Esquistossomose Urbana, especificamente, ocorreu entre 2017 e 2023. Nesse período, foram realizados oito inquéritos completos (entrevistas e exames de fezes), no Dique do Cabrito (2017), Bate-Facho (2023), Saramandaia (2018, 2019 e 2023) e Pirajá (2019, 2021 e 2023).

“Houve uma redução significativa da prevalência da doença, de 24,5% para 6,2%, devido a nossa intervenção e obras de infraestrutura implementadas na vizinhança pela Conder. Em 2024, deveremos revisitar São Bartolomeu para avaliar sua situação atual”, descreve o pesquisador Luciano Kalabric, integrante do projeto.

A taxa de positividade global média encontrada até o momento foi de 3,3% (272 indivíduos positivos para esquistossomose de 8.161 examinados). A menor positividade foi encontrada em Bate-Facho (0,7%) e os maiores foram em Saramandaia, em 2018 (5,3%), e Pirajá, em 2019 (5,5%).

“Todos os participantes com esquistossomose foram tratados e realizaram novos exames para confirmação de cura. O tratamento recorrente na Saramandaia e em Pirajá reduziram a prevalência da doença para menos de 2%, sendo que parte destes casos são indivíduos que não participaram do estudo antes e alguns foram reinfecção”, conclui o pesquisador.

Fonte: Fiocruz Bahia