Quase todas as famílias reclamam que os filhos não saem do celular, e, na maioria das vezes, não é exagero. Os jovens brasileiros passam em média nove horas por dia nas redes sociais, e diversos estudos já elencaram o mal que o excesso de telas pode causar: vai desde o aumento da ansiedade até casos de isolamento social e depressão.
Por isso, no Setembro Amarelo, mês em que se promove o cuidado com a saúde mental de crianças e adolescentes, o Laboratório Inteligência de Vida (LIV), programa de educação socioemocional presente em mais de 700 escolas do país, lançou um material online e gratuito para ajudar pais e educadores a lidar com os desafios trazidos pelo uso excessivo das tecnologias.
A cada semana, o “Movimento LIV Pela Saúde Mental: Sentir Para Além das Telas”, que foi lançado no último dia 9, trouxe conteúdos variados, com vídeos de especialistas, entrevistas, dicas de leitura e até mesmo sugestões de atividades para tirar as crianças e adolescentes da frente das telas. O material vai discutir quais caminhos a serem seguidos, partindo da perspectiva de que proibir o uso nem sempre é a melhor alternativa.
“O melhor caminho é a negociação do tempo e ver o quanto é essencial o uso das telas“, pondera Evellyn Paixão, psicóloga e consultora pedagógica do LIV, que também ressalta a importância de as escolas e famílias ajudarem no desenvolvimento das habilidades socioemocionais dos jovens. “Desenvolver habilidades socioemocionais também é essencial para uma geração que está imersa nas redes sociais. O autoconhecimento e o pensamento crítico, por exemplo, nos ajudam a diferenciar aquilo que vemos nas redes, que pode ser real ou irreal”.
Em um dos vídeos disponíveis no material, o pediatra Daniel Becker também pondera que o uso de telas não é, por si só, um vilão. A tecnologia pode ser uma ferramenta para ajudar no desenvolvimento e aprendizado, o problema está no exagero. Segundo ele, o uso desmedido de telas pode causar danos irreversíveis para o desenvolvimento de capacidades físicas e emocionais.
“Até o advento da internet e das telas clicáveis, sabíamos brincar, ler, assistir filmes, passear na rua, conversar longamente. Parecemos estar, gradualmente, perdendo essas habilidades. Eu comparo com a urgência climática. Se não mudarmos o caminho, estamos indo para um desastre ecológico, e para uma mudança cerebral que não tem precedentes“, afirma.
O material também discute como crianças e adolescentes estão lidando com o próprio corpo. O ideal de perfeição buscado nas redes sociais tem feito muitos se esconderem, deixarem de ir à praia de biquíni, por exemplo. Além disso, a trilha de aprendizagem também questiona se estamos privando as crianças e jovens, dedicados a horas diante das telas, de experiências sensoriais importantes para a vida. Para ampliar o diálogo em torno desse tema, o LIV trouxe um depoimento que a velejadora e escritora Tamara Klink, que acaba de passar o inverno sozinha na Groelândia, deu ao videocast “Sinto Que Lá Vem História”. No episódio, ela conta que, durante a infância, ela vivia com um pé quebrado, um dedo machucado, e refletiu que a liberdade que tinha para experimentar seu corpo, quando criança, foi importante para que ela aprendesse a lidar com desafios.
O material, voltado para as famílias, também é útil para escolas e educadores, que poderão acessar materiais extras e exclusivos. Para encerrar a campanha, no dia 26 de setembro, acontecerá o Encontro com Especialista LIV, evento virtual promovido mensalmente pelo programa socioemocional. De forma online, o evento vai receber Thauane Rocha, que é pedagoga, cientista social e consultora pedagógica do LIV, para falar sobre os caminhos para um uso equilibrado do mundo virtual.
Para acessar a trilha, basta se inscrever neste link e acompanhar, semanalmente, os materiais que serão disponibilizados.