Maternidade da UFBA cria caderneta de pré-natal inédita para pessoas trans pelo SUS no Brasil – Portal ComSaúde Bahia
Foto:Susy Moreno
MATERNIDADE TRANS
Maternidade da UFBA cria caderneta de pré-natal inédita para pessoas trans pelo SUS no Brasil
Climério de Oliveira passará a utilizar a caderneta como forma de inclusão e para atender demandas específicas para o período gestacional dos homens transexuais.
Por:Susy Moreno | 04/05/2024 às 12:30

É especialmente significativo celebrar uma conquista inédita no Brasil, que representa uma forma de inclusão e atendimento especializado, respeitando a identidade de gênero e as peculiaridades dos corpos transexuais. Bernardo Costa Silva, homem trans de 24 anos, atualmente no sétimo mês de gestação, foi o primeiro a receber a nova caderneta de acompanhamento gestacional, marcando um momento histórico no pré-natal das pessoas trans no país.

Essa iniciativa inédita foi conduzida pela Maternidade Climério de Oliveira (MCO-UFBA), da Universidade Federal da Bahia, vinculada à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Instrumento de acompanhamento de gestação, a caderneta é item obrigatório ao longo da gravidez, no entanto, o documento atualmente utilizado pela rede hospitalar nacional é voltado exclusivamente para mulheres cisgênero.

Para preencher essa lacuna, a MCO, que é a unidade hospitalar que mais atende gestantes transexuais em todo o Brasil, passará a utilizar a caderneta como forma de inclusão e para atender demandas específicas para o período gestacional dos homens transexuais.

A maternidade é referência estadual em acompanhamento gestacional de homens trans e, desde 2021, realiza esse tipo de acompanhamento por meio do programa “Transgesta”. “É importante e significativo o lançamento da cartilha Transgesta. É um instrumento que consegue atender, humanizar, acolher e entender as diversidades dos corpos. E, acima de tudo, como centro de referência na assistência a pessoas trans, a caderneta faz com que elas se sintam inseridas em uma assistência construída para atender as suas especificidades”, disse Sinaide Coelho, superintendente da MCO-UFBA/Ebserh.

Ambulatório – Projeto Transgesta

O acolhimento no Ambulatório é essencial para nos sentirmos incluídos nos espaços de saúde, principalmente no SUS. E a maternidade Climério de Oliveira trouxe respeito para nós, um pouco de dignidade. Tanto para mim, como gestante, quanto para meu esposo. É um espaço acolhedor, respeitável, onde podemos nos sentir bem, onde não enfrentamos desconforto por olhares, preconceitos, transfobia ou homofobia”, relata Bernardo.

De acordo com Sinaide Coelho, a caderneta tem como objetivo promover inclusão social, visibilidade e senso de pertencimento, além de gerar dados qualitativos e quantitativos sobre gestações transmasculinas. Segundo ela, o uso desse instrumento pode contribuir para a elaboração de políticas públicas que facilitem o acesso, o cuidado seguro e a garantia de direitos, conforme estabelecido nos princípios do SUS (Universalidade, Equidade e Integralidade).

Solenidade de lançamento
A solenidade de lançamento da caderneta ocorreu no último dia 02 de maio, e contou com a participação de representantes da UFBA, Ebserh, Ministério da Saúde, Secretaria de Saúde do Estado e do Município, Ministério Público, Defensoria Pública do Estado da Bahia, profissionais de saúde, bem como pessoas e entidades representativas que se reconhecem e declaram como transexuais, travestis, transgêneras, intersexo e outras denominações que representam formas diversas de vivência e expressão de identidade de gênero.

Solenidade

A caderneta
A produção da caderneta é uma parceria da Maternidade com o Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (IBRAT), representado pelo pesquisador e ativista Dan Kaio Lemos, e o Ambulatório Multidisciplinar em Saúde de Travestis e Transexuais do CEDAP/Sesab, coordenado por Ailton Santos.

Nesta caderneta de pré-natal, serão registradas as principais informações a respeito da gestação do paciente trans e de sua parceira, além de facilitar o atendimento em caso de alguma intercorrência.

É uma caderneta desenvolvida para corpos trans. Acredito que terá uma pluralidade de informações que fala sobre nossos corpos, que nos respeitam enquanto homens parturientes e dá uma esperança de inclusão em espaços que não foram feitos para nós. Acredito que irá nos fazer estar em mais espaços de saúde com o mínimo de dignidade e respeito. Mudará a forma como nos tratam, respeitando a nossa identidade de gênero”, disse Bernardo.

Bernardo Costa Silva

Para a diretora de Atenção à Saúde da Ebserh, Lumena Castro, a entrega dessa caderneta é importante para a maternidade, para a Rede Ebserh, mas também para o Sistema Único de Saúde. “Estamos dando um passo muito importante para aprofundar o cuidado singular. A nossa maternidade hoje já é uma referência muito importante no cuidado com a pessoa trans. Do pré-natal, no acompanhamento do parto, no cuidado posterior com o neonato, tudo isso é motivo de orgulho do trabalho que a MCO faz hoje, voltado para a população da Bahia, mas também como uma referência para todo o país”, enfatiza.

O assessor de Conformidade, Controle Interno e Gerenciamento de Risco da Ebserh, José Santana, frisou que além da tecnologia de gestão, do cuidado e de inclusão e acolhimento aos homens trans, a caderneta tem um peso muito simbólico, pois foi construída, pelo hospital, pelos profissionais, usuários do hospital, pelo Sistema Único de Saúde. “Foi um processo de construção de participação e contempla a participação social. Então, esse é um momento simbólico e muito importante e além dos princípios do SUS, a caderneta também representa a luta por direito, por visibilidade. É uma luta que a gente só pode fazer num estado com democracia garantida”, disse.

Confira aqui a caderneta

Projeto “Transgesta”
Com o propósito de aprimorar sua capacidade assistencial na área de atenção à saúde durante e após a gestação, a Maternidade desenvolveu o programa “Transgesta”, voltado para pessoas que se reconhecem e declaram como transexuais, travestis, transgêneras, intersexo e outras denominações que representam formas diversas de vivência e expressão de identidade de gênero. Em 2021, tornou-se referência no atendimento à população trans na Bahia. Desde o início, o programa já acompanhou sete homens trans gestantes, resultando no nascimento de nove bebês na MCO-UFBA/Ebserh.

Pietro Kauê, de 21 anos, teve gêmeos de duas meninas, agora com 9 meses, e realizou todo o pré-natal na MCO através do Programa Progesta. “Eu sofri alguns preconceitos durante a gravidez, mas foram irrelevantes para mim. A experiência na maternidade foi muito tranqüila, fui muito bem tratado. Como não deu tempo de chegar até a Maternidade Climério de Oliveira, eu tive minhas filhas em uma maternidade na cidade de Feira de Santana, onde todos me respeitaram como homem e não houve nenhum preconceito, isso foi muito bom”, contou.

Acesso ao serviço
Para ter acesso ao programa, a pessoa pode ir à Maternidade espontaneamente ou ser encaminhada através da regulação via unidade básica de saúde.

#SaibaMaisComSaúde

Maternidade Climério de Oliveira