OMS revela aumento de mortes por hepatites virais no mundo – Portal ComSaúde Bahia
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HEPATITES VIRAIS
OMS revela aumento de mortes por hepatites virais no mundo
Confira o que diz o hepatologista Dr Raymundo Paraná sobre a situação no Brasil e na Bahia
Por:Susy Moreno | 10/04/2024 às 08:54

Segundo informações divulgadas pela Agência Brasil, o número de mortes relacionadas às hepatites virais está em ascensão globalmente, consolidando a doença como a segunda principal causa de morte por doença infecciosa em todo o mundo. Estima-se que ocorram 3,5 mil óbitos diários e 1,3 milhão por ano, uma estatística comparável ao número de mortes causadas pela tuberculose, que lidera o ranking. O alerta foi emitido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta terça-feira (9).

O relatório divulgado pela organização ressalta que, embora haja disponibilidade de melhores ferramentas para diagnóstico e tratamento, além da redução nos preços desses produtos, a realização de testes e o número de pacientes em tratamento permanecem estagnados. “Mesmo assim, atingir a meta de eliminação das hepatites virais até 2030, proposta pela OMS, ainda é algo possível, desde que medidas rápidas sejam tomadas agora”.

Os dados mostram que as mortes por hepatites virais registradas em 187 países passaram de 1,1 milhão em 2019 para 1,3 milhão em 2022. Desse total, 83% foram causadas pela hepatite B e 17%, pela hepatite C. Para o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, os óbitos aumentaram porque pouquíssimas pessoas com a doença têm acesso ao diagnóstico e tratamento adequado.

Casos
De acordo com a OMS, em 2022, estima-se que 254 milhões de pessoas estavam infectadas com hepatite B e 50 milhões com hepatite C. Mais da metade dessas infecções ocorreram em adultos entre 30 e 54 anos, enquanto 12% foram identificadas em crianças e adolescentes com menos de 18 anos. Homens representam 58% de todos os casos de infecção.

Apesar de uma ligeira diminuição no número de casos entre 2019 e 2022, a incidência global da doença permanece elevada, de acordo com a OMS. Em 2022, foram registradas 2,2 milhões de novas infecções, em comparação com 2,5 milhões em 2019. O estudo destaca que mais de 6 mil pessoas são infectadas por hepatites virais diariamente.

Estatísticas
As estatísticas revelam que, em todas as áreas globais, até o final de 2022, aproximadamente 13% das pessoas portadoras de hepatite B crônica haviam sido diagnosticadas, enquanto apenas 3% estavam recebendo a terapia antirretroviral recomendada para combater a doença. No que diz respeito à hepatite C, 36% foram diagnosticadas e 20% estavam em tratamento para a infecção.

Ambos os resultados estão bem abaixo da meta global de tratar 80% das pessoas vivendo com hepatite B crônica e com hepatite C até 2030. Entretanto, eles indicam uma leve, mas consistente melhora no diagnóstico e na cobertura de tratamento da doença desde o último balanço, em 2019”, destacou a OMS.

Os diagnósticos de hepatite B aumentaram de 10% para 13% no período, enquanto o acesso ao tratamento passou de 2% para 3%. Entre as infecções por hepatite C, o diagnóstico aumentou de 21% para 36% e o acesso ao tratamento, de 13% para 20%.

Recomendações
Entre as diretrizes divulgadas pela OMS para intensificar a luta contra as hepatites virais, incluem-se: expandir o acesso a testes e diagnósticos; proporcionar tratamento igualitário; aumentar as iniciativas de prevenção na atenção básica à saúde; e promover fontes de financiamento inovadoras.

O financiamento para as hepatites virais, tanto em nível global como no âmbito dos orçamentos de saúde de cada país, não é suficiente para satisfazer as necessidades. Isso resulta de uma combinação de fatores, incluindo a consciência limitada de intervenções e ferramentas que podem salvar vidas, bem como prioridades concorrentes nas agendas globais de saúde”, concluiu a entidade.

Situação no Brasil e na Bahia
Convidamos o Dr. Raymundo Paraná, hepatologista e professor titular da Faculdade de Medicina/UFBA e líder do grupo de pesquisa em Hepatites Virais e Hepatotoxicidade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), para esclarecer a situação no Brasil e na Bahia. Confira:

COMSAÚDE – Qual é a situação das hepatites virais no Brasil e na Bahia?

Raymundo Paraná – Eu acredito que o Brasil teve uma resposta notável às hepatites virais. Em outras partes do mundo, especialmente na África e na Ásia, a mortalidade por hepatites virais continua elevada. Porém, no Brasil, o esforço em tratar a hepatite C foi tremendamente bem-sucedido. Felizmente, foi estabelecido um acesso significativo através do sistema de saúde público, o SUS, tanto para a hepatite B quanto para a hepatite C.

No caso da hepatite B, a situação é mais desafiadora, pois é uma doença muito mais silenciosa e a gente precisa rastrear todo mundo. No entanto, o Brasil avançou muito na vacinação contra a hepatite B, o que resultou em uma redução significativa no número de casos. A única exceção ainda é a região amazônica, onde a hepatite B e a hepatite D ainda prevalecem. Essas duas formas combinadas são graves e afetam especialmente populações vulneráveis, como as comunidades ribeirinhas.

COMSAÚDE – Como o senhor analisa as ações desenvolvidas no Brasil e na Bahia para o combate às hepatites?

Raymundo Paraná – Inicialmente, houve um grande apoio das organizações não governamentais compostas por pacientes e familiares, que desempenharam um papel fundamental na divulgação do tema e no acolhimento de pacientes de várias regiões que buscavam tratamento em Salvador. A segunda iniciativa foi descentralizar o tratamento para o interior da Bahia, o que também contribuiu para facilitar o acesso.

Por fim, a disponibilidade do medicamento para tratamento foi crucial. A partir de 2018, o medicamento se tornou muito mais fácil de administrar. Anteriormente, o tratamento era complexo e os pacientes precisavam frequentar centros especializados. A partir de 2018, passou a ser um comprimido por 12 semanas, com quase todos os pacientes se curando e sem efeitos adversos significativos. Isso transformou completamente o cenário e permitiu ampliar o acesso ao tratamento no Brasil.

COMSAÚDE – Quais são as incidências e prevalências do número de casos de hepatites virais na Bahia?

Raymundo Paraná – A incidência não é mais elevada, não. Incidência se refere ao número de casos novos. A prevalência também diminuiu consideravelmente. Prevalência é o número de pacientes diagnosticados. Ambas tiveram uma queda significativa. Onde ainda observamos incidência e prevalência elevadas é na região amazônica, especificamente em relação à hepatite B.

COMSAÚDE – Quais são os centros de referências para tratamento das hepatites virais na Bahia?

Raymundo Paraná – Hoje, temos vários centros de referência na Bahia. Aqui em Salvador, destacam-se o Centro da Liberdade da Prefeitura, o centro na Carlos Gomes, mantido também pela Prefeitura, o CEDAP do Governo do Estado, localizado em Brotas, o CEDAP Fígado, além do Hospital das Clínicas, administrado pelo Governo Federal. Esses são os principais centros na capital baiana. Além disso, há centros em Santo Antônio de Jesus, Vitória da Conquista e Feira de Santana, que também são muito ativos. No extremo sul da Bahia, em Porto Seguro, existem centros responsáveis pelo tratamento de muitos pacientes.

COMSAÚDE – Então, as estatísticas mundiais apresentadas pela OMS são diferentes das do Brasil?

Raymundo Paraná – O aumento de casos que a OMS tem chamado atenção ocorre principalmente em países que negligenciaram a questão, como é o caso da África e alguns países asiáticos, como a Mongólia, por exemplo, onde o índice de hepatite é muito elevado. Felizmente, no Brasil e em outros países da América Latina, isso não é uma realidade. Brasil, Argentina, Uruguai e Chile têm uma situação privilegiada em relação aos demais países latino-americanos.

Dr. Raymundo Paraná

 

O que são hepatites virais?
De acordo com o Ministério da Saúde (MS), as hepatites virais trata-se de uma infecção que atinge o fígado, causando alterações leves, moderadas ou graves. Na maioria das vezes são infecções silenciosas, ou seja, não apresentam sintomas. Entretanto, quando presentes, elas podem se manifestar como: cansaço, febre, mal-estar, tontura, enjoo, vômitos, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras.

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Hepatites Virais – MS