Queixas de exaustão, desidratação, insolação e desmaios podem estar relacionados às altas temperaturas. No cenário atual, ondas de calor estão se tornando um desafio adicional para a saúde da população. A combinação perigosa dessas condições, agravada pela dificuldade do ar em absorver mais umidade, torna o resfriamento eficaz do corpo mais difícil.
Um relatório divulgado nesta quarta-feira (15) pela revista Lancet aponta que as mortes relacionadas ao calor extremo podem aumentar quase cinco vezes até 2050. O documento teve a participação de 52 instituições de pesquisa e agências da Organização das Nações Unidas (ONU). A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA já havia afirmado que há uma probabilidade superior a 99% de que 2023 seja classificado como o ano mais quente já visto.
Nesta semana, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um alerta vermelho de grande perigo devido à presença de uma onda de calor que afeta o Brasil. Essa onda de calor intensa é causada pelas condições meteorológicas predominantemente secas, com aumento da insolação, e é favorecida pela subsidência atmosférica, um fenômeno que inibe o desenvolvimento de nuvens e eleva a temperatura da massa de ar.
Na Bahia, entre os dias 13 e 17, as regiões do Extremo Oeste, Sul, Centro Sul e Vale do São-Francisco, podem atingir temperaturas 5°C acima da média por um período maior do que cinco dias. A Superintendência de Proteção e Defesa Civil da Bahia (Sudec) já está em alerta e monitorando este fenômeno.
Riscos à saúde
Durante estes períodos, é possível que a população experimente ressecamento da pele e desconforto nos olhos, boca e nariz. As elevadas temperaturas e a baixa umidade representam um significativo risco para a saúde, destacando a importância de manter-se hidratado, com atenção especial para crianças, idosos e animais. É fundamental ressaltar outras precauções diante dessas condições climáticas desafiadoras, considerando os riscos de doenças cardíacas e respiratórias.
Para o Dr. Marcos Barojas, diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia – Sessão Bahia, o sistema cardiovascular é claramente impactado tanto por temperaturas muito baixas quanto por calor intenso.
“No corpo, o sistema cardiovascular opera por meio de uma rede de vasos, e em cenários de frio intenso, pode ocorrer um menor fluxo sanguíneo, o que potencialmente resulta em problemas, incluindo o aumento da pressão. Por outro lado, em condições de calor, os vasos sanguíneos tendem a se dilatar, levando a uma tendência de queda na pressão arterial. A pressão arterial baixa pode resultar em mal-estar, fraqueza e representa um risco para a saúde”, explica o médico.
Ele destaca, ainda, que em dias muito quentes é importante redobrar a atenção para os idosos que estão em risco de desenvolver pressão arterial baixa. Ressalta a necessidade de garantir uma ingestão adequada de água, mesmo sem sentir sede, para evitar a desidratação. “Além disso, é importante realizar constantemente ajustes dinâmicos na pressão, pois os idosos podem ficar tontos e, consequentemente, correr o risco de quedas, o que poderia resultar em problemas mais sérios”, enfatiza.
Segundo Dr. Marcos, outra situação que deve ser observada, crucial para evitar potenciais complicações, é a prevenção da queimadura solar. “O uso de protetores solares não apenas previne doenças de pele, mas também evita a insolação. O tom avermelhado resulta do aumento do fluxo sanguíneo, com vasos dilatados predominando na região queimada, o que leva a uma perda adicional de calor”, explica.
O pneumologista, Dr. Antonio Carlos Lemos, explica que o calor contribui para o aumento da poluição atmosférica, elevando a concentração de poluentes que são conhecidos por desencadear problemas respiratórios.
De acordo com o Dr. Victor Castro Lima, coordenador de Infectologia do Hospital Mater Dei Salvador, as altas temperaturas podem contribuir para o aumento da incidência de algumas doenças infectocontagiosas. Isso ocorre tanto devido ao estímulo ao metabolismo e crescimento dos microrganismos, quanto à criação de condições favoráveis ao meio de proliferação desses agentes.
“Um exemplo é a dificuldade de conservação de alimentos de rua, onde a falta de temperatura adequada pode propiciar a proliferação de vírus e bactérias, levando a gastroenterites e inflamações no trato gastrointestinal”, reforça.
Ele destaca que uma doença que também pode estar associada às altas temperaturas é a dengue. “Quando temos elevadas temperaturas combinadas com a ocorrência de chuvas, que eventualmente podem ocorrer nesse período, isso pode favorecer o reservatório para a ovoposição dos mosquitos da dengue, aumentando assim os casos de dengue nesse período, além de outras doenças como zika e chikungunya, que são arboviroses transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti”, ressalta o Dr. Victor.
Recomendações do Ministério da Saúde (MS):
Hidratação é fundamental
• Aumente a ingestão de água ou de sucos de frutas naturais, sem adição de açúcar, mesmo sem ter sede;
• Evite bebidas alcoólicas e com elevado teor de açúcar;
• Faça refeições leves, pouco condimentadas e mais frequentes;
• Crianças, idosos e pessoas com alguma comorbidade podem não sentir sede. Ofereça-lhes água.
Proteja-se do sol e do calor
• Evite a exposição direta ao sol, em especial, de 10h às 16h;
• Se expor ao sol sem a proteção adequada contra os raios ultravioleta deixa a pele vermelha, sensível e até com bolhas. Use protetor solar;
• Use chapéus e óculos escuros (especialmente pessoas de pele clara);
• Proteja as crianças com chapéu de abas;
• Use roupas leves e que não retêm muito calor;
• Diminua os esforços físicos e repouse frequentemente em locais com sombra, frescos e arejados;
• Em veículos sem ar-condicionado, deixe as janelas abertas;
• Não deixe crianças ou animais em veículos estacionados.
Cuidados com a pele
• Usar roupas leves e soltas e evitar locais muito abafados que propiciam a sudorese excessiva para evitar brotoejas.
• Lavar o rosto com um sabonete adequado para o tipo de pele, usar tônicos e filtros solares à base de água ou em gel, para diminuir a oleosidade.
• Aplicar um bom hidratante todos os dias ajuda a manter a quantidade adequada de água na pele.
• Alguns alimentos podem ajudar na prevenção aos danos que o sol causa à pele, como cenoura, abóbora, mamão, maçã e beterraba, pois contêm substância que se deposita na pele e tem importante ação que protege as células sadias do organismo.
• No banho, recomenda-se usar sabonetes de acordo com o tipo de pele, porém, sem excesso. A temperatura da água deve ser fria ou morna, para evitar o ressecamento.