A automedicação é uma prática comum, porém arriscada, que pode trazer consequências graves à saúde. Muitas vezes, as pessoas recorrem a remédios indicados por familiares, vizinhos ou encontrados na internet por fontes de informação de baixa qualidade, com base em sintomas gerais. No entanto, essa prática pode acarretar diversos riscos, desde reações alérgicas até complicações graves, como danos hepáticos, renais e outras consequências irreversíveis.
Segundo o farmacêutico, Genario Oliveira, especialista em Assistência Farmacêutica, Mestre em Medicina e Saúde e Doutor em Ciências da Saúde pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), a automedicação pode implicar no mascaramento de sinais e sintomas de uma doença que requer uma investigação mais aprofundada, podendo, inclusive, mascarar um problema mais sério. Ele ainda ressalta que todo medicamento tem o risco de causar eventos adversos e toxicidade se não for utilizado na dose e no tempo de tratamento adequados.
“O simples fato de utilizar medicamentos para controlar os sintomas, como dor de cabeça ou febre, pode adiar o momento em que o paciente busca um serviço de saúde para investigar a causa desses sinais e sintomas que ele consegue controlar com o uso de medicamentos por conta própria”, enfatiza professor Genario.
A resistência de microrganismos aos antimicrobianos, que tem como uma das causas o uso indiscriminado de medicamentos, é uma preocupação constante da Organização Mundial da Saúde (OMS). Esta epidemia silenciosa provocou cerca de 4,95 milhões de mortes em todo o mundo, sendo 1,27 milhões diretamente por infecções de bactérias resistentes (2019). No Brasil, onde cerca de 90% das pessoas se automedicam (Pesquisa ICTQ/Datafolha, 2024), dados reunidos pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF) em parceria com a IQVIA mostram que o quadro pode ter se agravado em função da pandemia de Covid-19.
Os conselhos de farmácia regionais do Brasil, se unem ao CFF para estampar, à sociedade, um recado claro em relação aos antimicrobianos: “o uso responsável protege o nosso futuro”. Conselho Regional de Farmácia do Estado da Bahia (CRF-BA) faz um alerta em uma publicação nas redes sociais: “Precisamos de uma ação coordenada de todos os setores para enfrentar esse desafio. A resistência aos antimicrobianos não é apenas uma questão de saúde; é uma questão de sobrevivência”.
O que são os antimicrobianos?
Antimicrobianos são substâncias ou medicamentos que têm a capacidade de combater microrganismos, como bactérias, vírus, fungos e parasitas, ou de inibir o seu crescimento. Eles são usados para tratar infecções causadas por esses microrganismos e podem ser encontrados em diferentes formas, como antibióticos (que combatem bactérias), antivirais (que combatem vírus), antifúngicos (que combatem fungos) e antiparasitários (que combatem parasitas). O uso correto dos antimicrobianos é essencial para evitar o desenvolvimento de resistência bacteriana e garantir a eficácia do tratamento.
Acesso facilitado nas farmácias
O professor Genario destaca a preocupação com a disponibilidade de medicamentos de venda livre, que facilitam a automedicação. Ele aponta uma fragilidade nos serviços de farmácia privada do país, onde medicamentos que deveriam exigir receita são vendidos sem essa exigência. Ele ressalta que analgésicos e anti-inflamatórios não esteroidais são especialmente arriscados, podendo causar reações adversas e toxicidade se não forem usados corretamente.
Os fitoterápicos
De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os fitoterápicos são produtos obtidos de plantas medicinais ou de seus derivados – exceto substâncias isoladas -, utilizados com finalidade profilática, curativa ou paliativa. O farmacêutico Genario adverte sobre a necessidade de cautela ao considerar o uso de fitoterápicos. Ele observa um aumento significativo na utilização de vários produtos que se autodenominam fitoterápicos, muitas vezes promovidos de forma duvidosa em diversas redes sociais.
“A fitoterapia, quando praticada de forma responsável e racional, não acarreta malefícios. Existem diversas monografias oficiais do Ministério da Saúde que recomendam o uso de certas espécies vegetais para tratar sintomas específicos e melhorar a saúde do paciente, com base em estudos que comprovam sua eficácia e segurança. No entanto, muitos produtos aproveitam essa identidade da fitoterapia, o que pode levar a problemas de uso inadequado, rotulagem equivocada e informações errôneas sobre segurança”, ressalta Genário.
Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos
O Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos (05/05) foi criado para alertar a população quanto os riscos à saúde causados pela automedicação. O objetivo é ressaltar o papel do uso indiscriminado de medicamentos e a automedicação como principais responsáveis pelos altos índices de intoxicação por remédios.
O descarte correto de medicamentos (em desuso ou vencidos) também é lembrado no dia 5 de maio. Há diversas maneiras de fazer isso, como despejá-los em pontos de coleta nas farmácias ou nas as Unidades Básicas de Saúde (UBS). O descarte de maneira incorreta (como em pias, rios ou no solo) é prejudicial à saúde e ao meio ambiente.
#FicaDicaComSaúde
É crucial ressaltar a importância de buscar orientação profissional antes de iniciar qualquer tratamento medicamentoso, seja ele à base de fármacos sintéticos ou fitoterápicos. A saúde é um bem precioso que merece ser cuidado com responsabilidade e conhecimento.