Os riscos do uso de ‘drogas domésticas’ e precauções para evitar ser enganado durante o carnaval – Portal ComSaúde Bahia
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CARNAVAL/DROGAS
Os riscos do uso de ‘drogas domésticas’ e precauções para evitar ser enganado durante o carnaval
Dr. Raymundo Paraná explica os tipos mais comuns de drogas utilizadas no carnaval, os sérios danos ao organismo e as principais precauções durante a festividade
Por:Susy Moreno | 08/02/2024 às 10:01

Com a chegada do Carnaval, muitas pessoas enxergam na festa uma oportunidade para intensificar seus momentos de diversão. No entanto, para alguns, isso pode significar o uso de substâncias que, embora momentaneamente proporcionem sensações de euforia e desinibição, acarretam sérios riscos para a saúde.

Com o intuito de destacar o tema e alertar os foliões, especialmente sobre o uso de drogas domésticas e bebidas caseiras, buscamos o renomado hepatologista Dr. Raymundo Paraná para aprofundar nossa compreensão sobre os impactos do consumo dessas substâncias durante o período carnavalesco.

Por trás dos efeitos das drogas, encontram-se consequências que podem ser devastadoras. Acompanhe nesta matéria uma análise sobre os perigos do consumo de drogas durante o Carnaval e as precauções que todos devem adotar para garantir sua saúde e segurança durante a festa.

Conceito de droga
O termo “droga” possui uma definição ampla e pode variar dependendo do contexto em que é utilizado. Em seu sentido mais geral, “droga” pode se referir a qualquer substância que cause alterações no funcionamento do organismo quando consumida. Conforme explica o Dr. Paraná, o conceito de drogas domésticas é bastante variável. Existem as drogas lícitas, denominadas nos Estados Unidos como “over the counter”, que são aquelas que não requerem prescrição médica e podem ser adquiridas diretamente no balcão da farmácia sem necessidade de receita

Drogas domésticas
“Por outro lado, quando falamos sobre o uso ilícito de drogas domésticas, estamos nos referindo a certas substâncias que fazem parte do nosso cotidiano domiciliar, mas que, quando usadas de maneira imprópria, podem se tornar drogas. Este é o caso, por exemplo, do éter, acetona, certos desodorantes em aerossol, gasolina, colas de sapato ou de piso, tintas, vernizes, ambientadores, entre outros”, explica o especialista

Principais efeitos no organismo
Por se tratar de drogas geralmente inalatórias, mas que circulam no sangue e são metabolizadas no fígado, podem causar grandes problemas. O mais conhecido de todos é a cola de sapateiro e a cola de piso.

– Insuficiência hepática grave
– Lesões pulmonares associadas
– Efeitos alucinógenos
– Alterações psíquicas.

Cuidados! Bebidas caseiras
De acordo com o Dr. Paraná, várias situações podem levar um folião a desenvolver uma lesão hepática. “O consumo excessivo de álcool e outras drogas estão na liderança. Além disso, existem as chamadas bebidas caseiras, como o ‘príncipe maluco’ e o ‘coquetel do céu’, cuja composição é desconhecida. São comercializadas em alguns pontos sem que o consumidor tenha qualquer informação sobre a qualidade e segurança da produção, nem sobre os ingredientes presentes nelas.”

Drogas sintéticas
De acordo com o especialista, as drogas sintéticas podem causar danos ao fígado, incluindo o “oxi” e o “docinho”. Não é incomum que pacientes desenvolvam insuficiência hepática fulminante ao consumirem essas substâncias.

Agentes farmacológicos ou químicos mais comuns
Há uma variedade de usos indevidos de medicamentos durante o carnaval, incluindo alguns como os benzodiazepínicos, além do “lança-perfume”, que é um solvente à base de cloreto de etila, éter e clorofórmio, associado a uma essência perfumada. “Este pode causar danos ao fígado e também pode resultar em morte súbita por parada cardiorrespiratória, principalmente em pacientes que possuem certas arritmias e ainda não foram diagnosticados”, afirma.

Segundo o Dr. Paraná, além disso, o “cheirinho da loló”, que contém também outras substâncias desse tipo, pode causar o mesmo problema. Ele destaca que as drogas sintéticas estão se tornando cada vez mais comuns devido à facilidade de seu uso por meio de comprimidos sublinguais ou orais, e também pela facilidade de seu transporte, escapando da fiscalização. “Infelizmente, as drogas sintéticas têm feito muitas vítimas em nosso país”, ressalta ele.

Substâncias mais impactantes
A cocaína e seus derivados são substâncias associadas ao risco de acidente vascular e infarto do miocárdio, sendo bastante utilizadas durante o período do Carnaval. O cloreto de etila (lança-perfume) também está associado ao risco de morte súbita e arritmias cardíacas.

Ele alerta que, além disso, as bebidas estão associadas a uma série de danos ao fígado e aos rins devido ao desconhecimento de seus componentes e à possibilidade de misturá-los com uma grande quantidade de substâncias tóxicas.

Principais cuidados durante o Carnaval!
Dr Paraná recomenda que o folião deve buscar aproveitar ao máximo e desfrutar do Carnaval sem recorrer a substâncias químicas. Siga as orientações:

  • Consuma bebida alcoólica, se esse for o desejo, de forma moderada.
  • Evite a embriaguez, sobretudo no ambiente onde há muita vulnerabilidade.
  • Nunca consuma bebidas alcoólicas artesanais
  • Não consuma qualquer tipo de droga
  • Não inale qualquer tipo de droga
  • Nunca consuma alimentos expostos à temperatura ambiente ou que não tenham certificação de qualidade
  • Não consuma água de procedência duvidosa e não compartilhar copos e garrafas pelo risco de transmissão de doenças infecciosas como hepatite A e mononucleose
  • Mantenha a hidratação do corpo com água de boa procedência
  • Não consuma gelo que não tenha certeza da procedência
  • Não tome analgésicos ou medicamentos com a suposta indicação de reduzir ou cortar a ressaca. Esses medicamentos não existem e têm risco de causar danos ao organismo

Contribuições do Hepatologista,  Dr. Raymundo Paraná

Raymundo Paraná. Graduado em Medicina pela UFBA, residência em Gastroenterologia HC-USP, fellow em Hepatologia INSERM/Hopital Hotel Deu Université Claude Bernard, Lyon-Franca. Mestre e Doutor em Medicina e Saúde pela UFBA, Cofecub Lyon-França e livre-docente em Hepatologia Clinica pela UFBA. Atualmente é professor titular da Faculdade de Medicina/UFBA, médico assessor da câmara técnica de Hepatites Virais na Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, líder do grupo de pesquisa em Hepatites Virais e Hepatotoxicidade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).