Pesquisadores da Unicamp utilizam técnica inédita para prevenir o infarto – Portal ComSaúde Bahia
Foto:Antonio Scarpinetti
PESQUISA/CORAÇÃO
Pesquisadores da Unicamp utilizam técnica inédita para prevenir o infarto
Estudo terá potencial na prevenção cardiovascular, no tratamento precoce e na redução do número de doenças cardiovasculares futuras
Por:Redação | 05/01/2024 às 08:19

Um estudo inédito realizado por pesquisadores da área de cardiologia do Hospital de Clínicas (HC) e da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade de Campinas (Unicamp) decidiram investigar mais detalhadamente a conexão entre a presença de placas de gordura nas carótidas de pacientes com diabetes tipo 2 e a probabilidade de ocorrência de complicações cardíacas. Para desenvolver a inovação tecnológica, os pesquisadores examinaram a região do pescoço que abriga as artérias carótidas, responsáveis por transportar o sangue do coração para o cérebro, por meio da ultrassonografia. Com a ajuda de um software os pesquisadores conseguiram definir um padrão para avaliar o risco cardiovascular e confirmar a hipótese da pesquisa.

A novidade do estudo reside em possibilitar a delimitação da camada de placa de gordura e, na imagem proveniente da ultrassonografia, realizar a separação dessa camada do músculo, algo que tradicionalmente não é alcançado. De acordo com o coordenador do estudo, Andrei Sposito, “quando você tem a placa de gordura, você está caminhando para o infarto, desenvolvendo a doença que vai gerar o infarto. No momento que a gente detecta isso, um cuidado médico, com mudança do estilo de vida, medicações quando apropriado, pode paralisar esse processo e até regredir isso”

De acordo com o Ministério da Saúde, o infarto agudo do miocárdio é a maior causa de mortes no país. O infarto ou ataque cardíaco é a morte de células do músculo do coração devido a formação de coágulos que interrompem o fluxo sanguíneo de forma súbita e intensa, e pode ocorrer em diversas partes do coração, dependendo da área que foi obstruída.

Para os pesquisadores, o exame utilizando esta técnica seria mais econômico, aproveitando os equipamentos de ultrassom disponíveis na maioria dos hospitais. Segundo eles, embora um procedimento de tomografia também seja capaz de realizar esse tipo de procedimento, o custo é aproximadamente 10 vezes superior. Além disso, a tomografia exige o uso de contraste, o que torna o procedimento menos acessível. Até o momento, essa técnica não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).

Segundo o coordenador do serviço de ecocardiografia do HC, José Roberto Matos Souza, um dos autores do artigo, a aterosclerose é uma doença silenciosa que pode levar a infartos, derrames e morte súbita. “Essa é uma doença de evolução lenta que costuma apresentar sintomas só em estágio avançado, o que pode ocorrer já em situação de emergência. Com novas formas para o diagnóstico precoce, poderemos salvar muitas vidas”, explica Souza.

Os especialistas da Unicamp já sabiam que a soma da espessura da camada íntima e da média – chamada de espessura média-intimal – era inconsistente para a previsão do risco cardiovascular e que o ultrassom tradicional não tinha a capacidade de identificar apenas o que estava acontecendo na camada íntima da carótida. “A camada íntima é o local onde o colesterol LDL vai se acumulando e formando a placa de gordura que leva à aterosclerose. Com o tempo, isso causa o entupimento das coronárias”, explica o médico cardiologista Andrei Sposito, orientador do estudo.

O que é a Aterosclerose?
A aterosclerose é uma condição caracterizada pela inflamação com a formação de placas de gordura, cálcio e outros elementos nas paredes das artérias, afetando não apenas o coração, mas também outras regiões do corpo humano, como o cérebro, membros inferiores, entre outros, de maneira difusa ou localizada.

A pesquisa
Os pesquisadores notaram a formação de placas de gordura nas carótidas de pacientes com diabetes tipo 2 selecionados para o estudo. Com a ajuda de um software desenvolvido por Rangel Arthur, da Faculdade de Tecnologia (FT) da Unicamp, e Alexandre Gonçalves da Silva, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), eles conseguiram definir um padrão para avaliar o risco cardiovascular e confirmar a hipótese da pesquisa.

Os resultados estão no artigo “A espessura da camada íntima da carótida, mas não a espessura da média-intimal, está relacionada à calcificação da artéria coronária em indivíduos com diabetes tipo 2: resultados do Estudo Brasileiro de Diabetes”, aceito para publicação na revista Nutrition, Metabolism and Cardiovascular Diseases, do grupo Nature.

“Nosso estudo mostra, pela primeira vez em indivíduos com diabetes tipo 2, que a placa de gordura formada na espessura íntima da coronária está fortemente associada à aterosclerose. Esse resultado abre caminho para a possibilidade de identificar a aterosclerose subclínica e intensificar as medidas de prevenção em indivíduos com DM2 (diabetes mellitus tipo 2) como um método seguro e acessível”, diz Sposito.

Para conseguir identificar as alterações na espessura da camada íntima da carótida analisando as imagens comuns de ultrassom, os pesquisadores associaram um software, utilizando inteligência artificial à ultrassonografia de 224 pacientes com diabetes tipo 2 que participaram do estudo.

O software teve o depósito de patente realizado junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) e está disponível para ser licenciado junto à Agência de Inovação Inova Unicamp.

“Acreditamos que essa tecnologia terá um enorme potencial na prevenção cardiovascular, no tratamento precoce e na redução do número de doenças cardiovasculares futuras”, diz o cardiologista e professor da FCM, Wilson Nadruz Júnior, outro coautor da pesquisa, juntamente com o cardiologista e docente da FCM Otavio Rizzi Coelho Filho.

Fonte: Jornal da Unicamp