Celebrado em 1° de dezembro, o Dia Mundial de Combate à AIDS acende um importante alerta para a prevenção, diagnóstico e tratamento da síndrome, que já infectou, desde 1981, quando os primeiros casos foram conhecidos, 85,6 milhões de pessoas no mundo.
Dados de 2022 da Unaids – Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids, a discriminação e as mortes relacionadas à AIDS mostram que 39 milhões de pessoas vivem com o vírus globalmente, sendo que 1,3 milhão foram recém-infectadas. Ainda conforme a entidade, 630 mil pessoas morreram de doenças relacionadas à AIDS no ano passado, sendo quase 11mil no Brasil.
A OMS define populações-chave como pessoas em populações que estão em maior risco de HIV em todos os países e regiões, incluindo homens que fazem sexo com homens; pessoas que usam drogas injetáveis; pessoas em presídios e outros ambientes fechados; trabalhadoras(es) do sexo e seus clientes; e pessoas trans. Não há cura para a infecção pelo HIV. No entanto, medicamentos antirretrovirais eficazes podem controlar o vírus e ajudar a prevenir a transmissão para outras pessoas
Segundo o Ministério da Saúde, o maior índice de infecção ocorre entre os jovens de 25 a 29 anos, que respondem por mais de 20% das notificações, entretanto, todas as idades e orientações sexuais precisam estar atentos ao uso de métodos de prevenção contra o vírus, como o uso de preservativos internos e externos, além da Profilaxia pré-exposição (PrEP) e a Profilaxia pós-exposição (PEP) – formas de tratamento que envolvem a administração de medicamentos para pessoas com possibilidade de risco de contaminação pelo vírus. O início precoce da profilaxia elimina o vírus HIV antes que ele consiga se multiplicar no organismo do paciente, impedindo a sua contaminação de forma permanente.
Dados da Bahia
O último Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA) de 2022, alerta que só na Bahia foram 836 novos casos de infecção por HIV, o segundo maior número da região Nordeste. Conforme a Secretaria Estadual de Saúde (Sesab), na Bahia, já foi notificada 2.304 de HIV até setembro deste ano com uma taxa de incidência de 15 casos por 100 mil habitantes.
De acordo com a Sesab, os dados relativos a 2022 apresentam um quantitativo expressivo em relação ao número de casos. Ao analisar os casos da doença no ano passado, os principais achados epidemiológicos foram: 1818 casos notificados de HIV, 793 casos notificados de Aids e 493 óbitos por Aids. Ainda de acordo com a Secretaria de Saúde, é importante ressaltar que o comportamento desta doença tem distribuição bastante heterogênea quando a análise é feita a partir da comparação por raça/cor, faixa etária, sexo e escolaridade.
No ano passado, o registro foi de 2.593 casos, com taxa de incidência 18 casos por 100 mil. O órgão estadual informou que, por meio da Diretoria de Vigilância Epidemiológica, realiza o monitoramento dos casos de HIV e AIDS, com a distribuição de insumos estratégicos voltados para prevenção e testagem da doença em todo o estado.
Diferença entre HIV e AIDS
De acordo com o MS, o HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) é o vírus causador da Aids, que ataca células específicas do sistema imunológico (os linfócitos T-CD4+), responsáveis por defender o organismo contra doenças. Ao contrário de outros vírus, como o da gripe, o corpo humano não consegue se livrar do HIV. Ter HIV não significa que a pessoa desenvolverá Aids; porém, uma vez infectada, a pessoa viverá com o HIV durante toda sua vida. Não existe vacina ou cura para infecção pelo HIV, mas há tratamento.
Já a Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é a doença causada pelo HIV, que ataca células específicas do sistema imunológico, responsáveis por defender o organismo de doenças. Em um estágio avançado da infecção pelo HIV, a pessoa pode apresentar diversos sinais e sintomas, além de infecções oportunistas (pneumonias atípicas, infecções fúngicas e parasitárias) e alguns tipos de câncer. Sem o tratamento antirretroviral, o HIV usa essas células do sistema imunológico para replicar outros vírus e as destroem, tornando o organismo incapaz de lutar contra outras infecções e doenças.
Transmissão
Segundo a coordenadora do Programa de Vigilância e Controle de Agravos da Sesab, Eleuzina Falcão, “a principal forma de transmissão do HIV ocorre através das relações sexuais desprotegidas, mas também pode acontecer por transmissão vertical (durante a gravidez, parto ou amamentação), transfusão sanguínea ou por materiais perfurocortantes contaminados”.
Prevenção
O uso do preservativo, masculino ou feminino, em todas as relações sexuais (orais, anais e vaginais) é o método mais eficaz para evitar a transmissão das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), do HIV/Aids e das hepatites virais B e C.
Existem vários métodos anticoncepcionais, no entanto, o único que pode evitar a gravidez e também prevenir as ISTs é a camisinha (masculina ou feminina). Orienta-se que, sempre que possível, realizar a dupla proteção: uso da camisinha e de outro método anticonceptivo de escolha. As unidades de saúde do SUS disponibilizam gratuitamente preservativos masculinos e femininos.
Diagnóstico
O diagnóstico da infecção pelo HIV é feito a partir da coleta de sangue ou por fluido oral. No Brasil, o Sistema Único de Saúde disponibiliza exames laboratoriais e testes rápidos, que detectam os anticorpos contra o HIV em cerca de 30 minutos. Além disso, o tratamento também é acessível e fundamental para garantir a qualidade de vida de quem tem o vírus.
O infectologista e consultor técnico do Sabin Diagnóstico e Saúde, Claudilson Bastos, destaca que a pandemia de AIDS ainda existe e a síndrome pode evoluir para uma situação grave, se não diagnosticada nem tratada precocemente. “O uso do preservativo nas relações sexuais (orais, anais e vaginais) e o não compartilhamento de seringas e agulhas continuam sendo as formas eficazes de prevenção”, afirma.
O médico salienta que, uma vez diagnosticado o HIV/AIDS, a pessoa deve procurar um centro de referência ou especialista para avaliar o tratamento antirretroviral adequado, com os medicamentos oferecidos gratuitamente pelo SUS. “Uma vez sendo diagnosticada e tratada, a PVHA (Pessoa Vivendo com HIV/Aids) que se fizer o tratamento de forma regular terá uma vida longa como qualquer outro indivíduo. Isso porque, cada vez mais, temos novas medicações com mais eficácia, menos eventos adversos e posologia, e com melhor qualidade de vida”, informa.
Sintomas
O infectologista informa que quando o vírus entra em contato com o organismo pode causar danos no sistema imunológico, causando alguns sintomas. “Dentre eles estão a perda de peso, diarreia crônica e monilíase oral e esofágica, que já podem indicar o quadro de AIDS. Neste momento, a pessoa apresenta baixas defesas do organismo, abrindo as portas para infecções virais, bacterianas, fúngicas e/ou parasitárias”, esclarece.
Tratamento
De acordo com o MS, ainda não há cura para o HIV, mas há muitos avanços científicos nessa área que possibilitam que a pessoa com o vírus tenha qualidade de vida. O tratamento inclui acompanhamento periódico com profissionais de saúde e a realização de exames. Atualmente, existem os medicamentos antirretrovirais – coquetéis antiaids que aumentam a sobrevida dos soropositivos. Esses remédios buscam manter o HIV sob controle o maior tempo possível.
A medicação diminui a multiplicação do vírus no corpo, recupera as defesas do organismo e, consequentemente, aumenta a qualidade de vida. A pessoa só vai começar a tomar os medicamentos antirretrovirais quando os exames indicarem a necessidade. Por isso a importância de procurar uma unidade de referência para ter o acompanhamento médico adequado.
Segundo a Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, 900 mil pessoas vivendo com HIV conhecem seu diagnóstico, ou seja, aproximadamente 100 mil pessoas ainda precisam ser diagnosticadas para que, então, iniciem tratamento. Para ampliar essa linha de cuidado, o Ministério da Saúde garantiu, em 2023, R$ 27 milhões na compra de 4 milhões de unidades de um teste rápido que detecta, simultaneamente, sífilis e HIV. A inclusão do teste inédito no SUS fortalece o rastreio e tratamento mais ágil para a população.
Vacina contra o HIV
Quando o vírus HIV foi descoberto no início da década de 1980, a expectativa que existia era de que uma vacina pudesse ser desenvolvida dentro de 2 ou 3 anos. Isso, porém, nunca aconteceu. Até hoje, todas as vacinas testadas não se mostram eficazes.
A cura da Aids
O pesquisador Dr. Carlos Brites, referência nesta área no Brasil e professor titular de Infectologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA), esclarece, em uma entrevista no PodCast Portal M em maio deste ano, que já foram documentados cinco casos no mundo que mostram ser possível eliminar a síndrome em alguns pacientes, o que permite investir em estratégias para descobrir um caminho para a cura. Mas, considera ser apenas uma luz no fim do túnel.
“Os estudos em andamento podem nos proporcionar a abertura de novas vias de intervenção, novas formas de tratar o paciente e, quem sabe, a médio prazo, ter uma estratégia que nos permita curar todo e qualquer paciente infectado pelo HIV”, afirma o pesquisador.