O uso exacerbado de telas prejudica o público infantil de diversas maneiras: perda ou diminuição do contato com a natureza, com colegas, amigos, parentes, danos à visão, dentre outros. Conforme alguns artigos científicos, a luminosidade dos aparelhos pode acarretar ainda em distúrbios de sono, alterações na atenção e memória. Além disso, pode haver alteração cerebral, pois quanto maior o uso dos eletrônicos, maior é a quantidade liberada de dopamina.
É na infância que se constroem as bases para todas as relações que serão estabelecidas no futuro. Se a criança deixa de estar em um ambiente social, compartilhando ideias, brincadeiras, utilizando a criatividade, possivelmente se tornará um adulto com mais dificuldade nessas áreas. Além disso, diversas pesquisas abordam a relação entre o excesso de telas e o sedentarismo. Muitas crianças deixam de praticar atividades físicas, o que pode resultar em alterações na pressão arterial, glicemia e colesterol, por exemplo.
A luminosidade excessiva pode provocar ainda alterações no horário regular de dormir e modificar a rotina do sono, o qual é fundamental para a saúde mental, pois está relacionado a qualidade do nosso humor, controle de pensamentos ansiosos, disposição física etc. Ademais, o rendimento escolar pode diminuir e as interações sociais serem prejudicadas.
De acordo com a pesquisa Digital 2023: Global Overview Report, realizada pela DataReportal, que comparou o uso de telas em 45 países, o Brasil ocupa o segundo lugar com maior índice de indivíduos diante de telas. O estudo também constatou que 56% das horas despertas são voltadas para a interação com dispositivos, ou seja, o equivalente a cerca de nove horas diárias.
Já segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, crianças entre 2 e 5 anos de idade, podem fazer uso de no máximo uma hora de tela por dia. De 6 a 10 anos de idade, esse tempo aumenta para duas horas por dia. Para as demais idades, três horas por dia, porém, sempre com a supervisão de um adulto.
“É fundamental que as famílias criem estratégias para as férias. Viagens, passeios, jogos de tabuleiro, livros, acampamentos e brincadeiras criativas são algumas opções. Se a criança ficar livre para escolher algo do seu desejo, possivelmente optará pelas telas. Elas podem ser utilizadas, mas com moderação nesse período“, explicou Fernanda Vaz Torres, psicóloga da Gurilândia Pituba.
As telas podem ser utilizadas também como recurso para uma criança fugir da realidade, e isso abrange desde uma dificuldade em lidar com algum tipo de frustração ou até mesmo sintomas de ansiedade. “Se a casa não é um ambiente em que ela é estimulada a expor o que sente, falar sobre as suas experiências, discorrer acerca das emoções que nutre, ela não saberá como lidar com elas e poderá utilizar as telas como uma forma de ignorá-las e aliviá-las, afinal, estes dispositivos proporcionam sensações imediatas de alívio e prazer”, ressaltou Fernanda Vaz Torres, psicóloga da Gurilândia Pituba.
Outros riscos e consequências
Na pandemia da COVID-19, devido a decretos municipais e estaduais, escolas foram fechadas e as aulas presenciais foram substituídas pelas online. Muitas crianças já faziam uso excessivo das telas e isso se agravou devido a nova rotina escolar. Com o isolamento social, houve a diminuição do contato com o “mundo analógico”. Ou seja, várias famílias tiveram que permitir o aumento do uso de telas.
A criança que possui acesso livre a sites, redes sociais, aplicativos, canais de televisão e plataformas de streaming, está suscetível a ter contato com conteúdos inapropriados. Como ela não tem ainda recurso psíquico para compreender esses repertórios, acaba estruturando-os de forma equivocada, o que pode levar até mesmo a traumas.
“Outra informação relevante é sobre os jogos eletrônicos, que muitas vezes permitem que as crianças se comuniquem com pessoas que elas não sabem quem são e isso pode ser extremamente perigoso. Estes indivíduos manipulam as crianças, pedem fotos, conseguem informações e tantas outras coisas que podem impactar profundamente o desenvolvimento infantil. Por isso, além da supervisão constante, é fundamental que as famílias respeitem as classificações indicativas de filmes, séries e games. Elas podem também bloquear sites impróprios ou restringir para o modo kids, aplicativos como Netflix e Youtube. Existem ainda ferramentas, como o family link, que auxiliam neste cuidado”, complementou Fernanda Vaz, psicóloga da Gurilândia Pituba.
Por fim, é fato que a tecnologia já se faz presente em nosso cotidiano há muito tempo e ela não se restringe somente a aspectos negativos, pois contribui com momentos de lazer e estudo, inclusive nas escolas. Portanto, é fundamental auxiliar as crianças a acessarem jogos, apps e sites adequados, porque dessa forma o uso de telas torna-se saudável, seguro e positivo.
“Nós estimulamos constantemente nossos alunos a explorarem e desenvolverem sua autonomia e criatividade, proporcionando um ambiente com todo o suporte necessário, através de uma equipe multidisciplinar, qualificada e competente”, concluiu Denise Rocha, diretora da Gurilândia Federação.