O preenchimento com PMMA (polimetilmetacrilato) tem ganhado espaço nas clínicas de estética por promover um aspecto volumoso na área preenchida e por ser uma alternativa mais barata a outros preenchedores. No entanto, o seu uso exagerado pode trazer uma série de complicações que vão desde o comprometimento dos rins à necessidade de remoção através de procedimento cirúrgico. O avanço na aplicação para além do uso autorizado provocou debates na comunidade médica, que elenca uma série de possíveis efeitos colaterais.
O Ministério da Saúde divulgou, recentemente, nota técnica sobre o uso do PMMA. É uma substância autorizada pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) para fins específicos: correção de lipodistrofia, que é uma alteração no organismo que leva à concentração de gordura em algumas partes do corpo, provocada pelo uso de antirretrovirais em pacientes com síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS); e a correção volumétrica facial e corporal, que é uma forma de tratar alterações, como irregularidades e depressões no corpo, fazendo o preenchimento em áreas afetadas por meio de bioplastia.
O uso do PMMA fora das indicações para substituir, por exemplo, outros bioestimuladores de colágeno, pode gerar complicações nos rins. O nefrologista do Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí (HU-UFPI/Ebserh), Ginivaldo Nascimento, explica que o produto tem várias aplicações em saúde, que varia desde próteses a dispositivos médicos e que ele tem sido historicamente utilizado em preenchimentos para fins estéticos.
“No entanto, a sua utilização é recomendada em pequenas áreas. Mas de forma equivocada ele passou a ser utilizado em áreas mais extensas, como para preenchimento de grandes áreas, como glúteos, coxa e musculatura de membros superiores, como deltoides“.
A Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) também alertou sobre o uso inadequado dessa substância, especialmente quando excede as indicações recomendadas, podendo resultar em complicações graves, incluindo problemas de saúde que afetam os rins e outros órgãos.
O médico salienta que o problema é que o PMMA é difícil de ser removido. “Uma vez implantado, a remoção é muito difícil de acontecer, diferentemente do ácido hialurônico, que tem como reverter, utilizando outros produtos. O PMMA se infiltra nos tecidos, nos músculos, causando uma fibrose local, podendo, inclusive, se deslocar para outras áreas. Quando mal aplicado, corre o risco também de ir para a corrente sanguínea e eventualmente causar a formação de coágulos em algumas áreas do corpo, como, por exemplo, no pulmão”.
O nefrologista destaca ainda que a substância, quando acumulada em grandes quantidades, promove uma reação inflamatória severa, que muitas vezes se relaciona a problemas renais, como a insuficiência renal.
“O PMMA causa uma reação chamada de granuloma, em que há uma formação de células de defesa para tentar bloquear esse processo. Este mecanismo inflamatório gera a formação de vitamina D, promovendo a absorção intestinal de cálcio exagerada e fazendo com que o paciente passe a desenvolver a hipercalcemia, que leva a uma isquemia renal, que é uma redução da oferta de sangue dentro do rim, ocasionando falência dos rins e, em casos mais sérios, há necessidade de hemodiálise, podendo, até mesmo, levar à morte”.
Dermatologia também levanta discussões sobre o uso exagerado
O PMMA é uma substância sintética, inabsorvível, que, quando aplicada abaixo da pele só pode ser removida através de um procedimento cirúrgico com os riscos e sequelas de qualquer cirurgia. A Sociedade Brasileira de Dermatologia também já manifestou sobre seu uso fora do contexto da aprovação da Anvisa e contraindica o seu uso para fins estéticos.
O uso da substância pode causar reações imediatas ou em curto prazo, como: edemas locais, processos inflamatórios, reações alérgicas; e tardias, como a formação de granulomas inflamatórios, hipercalcemia e insuficiência renal anos após a realização da injeção.
“A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica também contraindica o seu uso para fins estéticos ou reparadores. De forma geral, a utilização desse produto na forma injetável pode causar complicações como granulomas, infecções, embolias, reações inflamatórias, necroses, insuficiência renal aguda e crônica, podendo levar o paciente a óbito. Trata-se de um produto de difícil remoção e, quase sempre, com sequelas graves e mutiladoras ao paciente”, complementa a dermatologista Cristiana Silveira, preceptora da residência em Dermatologia do Hospital Universitário Professor Edgard Santos da Universidade Federal da Bahia (Hupes-UFBA/Ebserh).
A dermatologista acrescenta que, devido aos seus riscos e aos danos à saúde humana que já foram verificados através dos anos de uso do produto também pelo fato de existirem atualmente substâncias mais seguras para a mesma finalidade, o uso do PMMA deve ser fortemente desencorajado.