De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), cada pele deve contar com cuidados específicos, adaptados às suas características. Estar atento a essas diferenças é fundamental para quem busca saúde e bem- estar. Assim, no Brasil, um país de grande diversidade étnica, a população negra ainda enfrenta dificuldades na compreensão de quais cuidados adotar.
Segundo a SBD, a função da camada mais externa da pele, a epiderme, é ser uma barreira protetora do corpo, protegendo contra danos externos e dificultando a saída de água e a entrada de substâncias e de micróbios no organismo. Na epiderme também é onde estão os melanócitos, as células que produzem melanina, o pigmento que dá cor à pele. A Sociedade enfatiza que cada tipo de pele tem suas características específicas e cada uma demanda um tipo de cuidado diferente.
A dermatologista Dra. Vitória Rego destaca a necessidade de atenção às lesões na pele, pois podem resultar em manchas devido à maior quantidade de melanina. Ela enfatiza a importância de adotar cuidados gerais e receber orientações específicas. “Qualquer ferimento tem o potencial de causar manchas, portanto, é crucial que pessoas de pele negra adotem medidas preventivas, incluindo o uso regular de filtro solar para evitar alterações na pigmentação. Além disso, é importante considerar que existem algumas patologias mais comuns nesse tipo de pele, assim como o surgimento de certos tipos de sinais que requerem tratamento”, explica.
Cuidado com os cabelos
Além do corpo, os fios de cabelo também precisam de atenção para se manterem saudáveis. Pela tendência a serem mais oleosos, o cuidado com os cabelos crespos e cacheados é fundamental da lavagem à finalização. A SBD pontua que o ideal é que cada um possa avaliar o que funciona melhor na sua rotina de cuidados diários. Cabelos em transição capilar ou com uso frequente de tranças também devem ser o foco, pois tendem a quebra de fios. A sugestão é uso de umectação e touca de cetim, além do rodízio no uso dos penteados.
Embora a maior parte da população brasileira tenha a pele negra, ainda há pouca informação acessível e profissionais especializados nessa área. A biomédica esteta e especialista em pele negra, Dra. Jéssica Magalhães, destaca a importância do cuidado com essa pele, que por anos foi negligenciada.
Estética
A biomédica reforça que quando se fala de estética, não se pode esquecer que é algo que foi utilizado como instrumento de dominação. “A partir do momento onde a gente tem algo que é dito como belo, tudo aquilo que se afasta disso é tido como inaceitável, como errado, e aí quando a gente fala dos corpos negros estamos falando de corpos que têm características totalmente opostas às que foram colocadas como padrão, até porque passamos por um processo longo de escravização onde tudo que é associado ao povo negro é tido como inadequado”, reforça Dra Jéssica.
Ela ressalta que o processo de cuidado passa de uma forma muito íntima com a questão do empoderamento. “Cuidar da pele negra envolve carinho, envolve ciência, envolve atenção, envolve recolocar as nossas pessoas negras, nosso povo, no local de destaque e de cuidado que a gente merece”, enfatiza.
Mitos
A Dra. Jéssica comenta que alguns mitos perpetuados pela sociedade precisam ser esclarecidos. “O primeiro mito é a ideia de que não é necessário cuidar da pele negra porque ela é naturalmente resistente. De fato, nossa pele possui algumas características estruturais que a tornam resistente a certos danos, como os causados pela exposição solar, devido ao processo de produção de melanina e ao tipo específico de melanina que produzimos. No entanto, isso não nos torna imunes, nem nos protege contra os efeitos do envelhecimento. Então, o primeiro mito que eu gosto de deixar para trás é que a nossa pele não precisa de cuidados. A gente precisa sim, inclusive, a gente precisa proteger a pele do sol”, explica.
Cuidados essenciais
Além do protetor solar, outros produtos, como hidratantes, também são cruciais e devem ser encaixados na rotina. Segundo a Dra. Jéssica, é imprescindível o uso de um bom hidratante corporal, porque a pele do corpo tende a ser mais seca. Para o rosto, é essencial utilizar um sabonete suave, evitando agressões à pele.
“Optar por produtos mais delicados é importante, já que a pele facial tem a capacidade de se equilibrar com facilidade quando recebe os cuidados adequados. Quanto ao hidratante, é recomendável escolher uma fórmula leve, especialmente para a zona central do rosto, que tende a ser mais oleosa. Contudo, o hidratante deve conter ativos que proporcionem a hidratação necessária para essa região”, explica.
Procedimentos estéticos
Outra questão que gera dúvidas diz respeito aos procedimentos estéticos e aos cuidados necessários para prevenir danos à pele. Manchas e queimaduras são algumas das preocupações de quem considera realizar procedimentos com aparelhos, como o laser. Nesse contexto, a Dra. Jéssica destaca a importância de procurar profissionais de referência.
“Algo que me foi dito com frequência durante minha especialização estética é que a pele negra não pode realizar muitos procedimentos. Para mim, isso é baseado na falta de conhecimento da reatividade dessa pele. Nós negros sabemos que a nossa pele mancha, sabemos que a nossa pele sensibiliza porque a gente vive isso na prática. Quando a gente leva para um estágio de ciência, a gente consegue entender porque isso acontece, como evitar e quais procedimentos são ainda melhores para a nossa pele, quais a gente aproveitou muito bem. Então, tem muitos procedimentos que a gente pode realizar com tranquilidade desde que se conheça a pele negra”, explica a biomédica.
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