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CÂNCER DE PULMÃO
Novo estudo alerta sobre o cenário do câncer de pulmão no Brasil
Tabagismo é responsável por 80% dos óbitos de câncer de pulmão
Por:Susy Moreno | 01/06/2024 às 16:48
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Estudo conduzido pela Fundação do Câncer apresentado, em maio, no 48o encontro do Group for Cancer Epidemiology and Registration in Latin Language Countries Annual Meeting – GRELL 2024, na Suíça, alerta sobre o cenário do câncer de pulmão no Brasil. Só para este ano, são estimados 14 mil casos novos em mulheres e 18 mil casos novos em homens, conforme projeção do Ministério da Saúde/Instituto Nacional de Câncer, o Inca.

Dados mundiais da International Agency for Research on Cancer (IARC), analisados por técnicos da Fundação, mostram que, se o padrão de comportamento acerca do tabagismo se mantiver, é esperado um aumento de mais de 65% na incidência da doença e 74% na mortalidade por câncer de pulmão até 2040, em comparação com 2022.

Com esse levantamento esperamos colaborar para a divulgação de informação técnica detalhada sobre o câncer de pulmão, que, em geral, é diagnosticado em estadio avançado e tem alta letalidade, apesar dos avanços da Medicina“, diz o médico Paulo Niemeyer Filho, presidente do Conselho de Curadores da Fundação do Câncer.

“O câncer de pulmão é uma das principais preocupações em saúde pública em todo o mundo. A detecção precoce dessa doença é um aspecto crucial na gestão eficaz do seu tratamento já que aumenta as chances de um tratamento bem sucedido, entretanto, enfrenta desafios importantes pois, esse câncer, na maioria das vezes, não apresenta sintoma em sua fase inicial, comenta Luiz Augusto Maltoni, diretor executivo da Fundação do Câncer e cirurgião oncológico.

Ele alerta ainda que “os métodos de triagem disponíveis, como a tomografia computadorizada de baixa dose para grupos de fumantes e ex-fumantes com carga tabágica pesada, não são acessíveis a toda à população”. Maltoni diz ainda que “terapias alvo e imunoterapia têm demonstrado um ganho para o tratamento desse tipo de câncer”.

Apesar da queda de fumantes ao longo dos anos – atualmente, cerca de 12% da população adulta brasileira usa algum produto derivado de tabaco -, o câncer de pulmão consome anualmente cerca de 9 bilhões de reais, entre custos diretos com tratamento, perda de produtividade e cuidados com os pacientes. No entanto, os impostos pagos pela indústria do tabaco no país cobrem apenas 10% dos custos totais com todas as doenças relacionadas ao consumo de produtos derivados do tabaco, estimados em cerca de R$125 bilhões por ano.

Outro dado preocupante apontado no estudo produzido pelos pesquisadores da Fundação mostra que os pacientes chegam para o tratamento no estágio mais avançado da doença, tanto na população masculina (63,1%) quanto na feminina (63,9%), padrão que se repete em todas as regiões brasileiras.
De acordo com Alfredo Scaff, consultor médico da Fundação do Câncer e coordenador do estudo info.oncollect, as análises reforçam a urgência de aprimorar a prevenção e o tratamento do câncer de pulmão no Brasil.

É fundamental investir em estratégias de controle do tabagismo e garantir que o paciente tenha acesso rápido ao tratamento, dentro do prazo dos 60 dias que é previsto em lei. Se nada for feito, a doença progride, o custo do tratamento aumenta, o paciente enfrenta mais dificuldades e as chances de óbito crescem“, comenta o epidemiologista. De acordo com o especialista, o diagnóstico precoce do câncer de pulmão é fundamental para melhorar as taxas de sobrevida e os resultados do tratamento.

Perfil por regiões
O estudo observou que a Região Sul apresenta maior incidência para a doença, tanto em homens (24,14 casos novos a cada 100 mil) quanto em mulheres (15,54 casos novos a cada 100 mil), bem acima da média nacional que é de 12,73 para homens e 9,26 para mulheres. Apenas as regiões Norte (10,72) e Nordeste (11,26) ficam abaixo da média brasileira em homens. Já em mulheres, as regiões Norte, Nordeste e Sudeste ficam abaixo da média brasileira com, respectivamente, 8,27, 8,46 e 8,92.

O Sul também é a região do país com maior índice de mortalidade entre homens nas três faixas etárias observadas pelo estudo – até 39 anos, de 40 a 59 anos e mais de 60 anos -, respectivamente, 0,36, 16,03 e 132,26 a cada 100 mil homens. Já entre as mulheres, a região desponta nas faixas de 40 a 59 anos (13,82 óbitos a cada 100 mil) e acima dos 60 anos (81,98 a cada 100 mil) e fica abaixo da média nacional (0,28) entre mulheres com menos de 39 anos: 0,26 a cada 100 mil, mesmo índice detectado no Centro-Oeste. “Ao analisar as informações de todas as regiões do país, o que se observa é que existe um aumento expressivo da taxa de mortalidade à medida que a população envelhece, tanto em homens quanto em mulheres”, diz Rejane Reis, uma das pesquisadoras do estudo.

O levantamento da Fundação também revelou que, independentemente da região, a maioria dos pacientes com a doença tinha nível fundamental (77% para homens e 74% para mulheres). E que a maior concentração de pacientes com câncer de pulmão encontra-se na faixa etária entre 40 e 59 anos (74% nos homens e 65% nas mulheres).

A indústria do fumo
De acordo com os especialistas, o tabagismo é o principal fator de risco para o desenvolvimento e consequentemente a mortalidade pela doença no Brasil, estando associado a cerca de 85% dos casos de óbito entre homens e quase 80% dos óbitos entre as mulheres. Apesar de as mulheres apresentarem taxas mais baixas de incidência e de mortalidade do que os homens esperam-se que mulheres com 55 anos ou menos experimentem uma redução na mortalidade por câncer de pulmão apenas do período 2021-2026 em diante; sendo que, para aquelas com 75 anos ou mais, a taxa de mortalidade está prevista para continuar aumentando até o período 2036-2040.

O diretor executivo da Fundação do Câncer, Luiz Augusto Maltoni, explica que a epidemia do tabagismo se concentra em indivíduos de menor poder aquisitivo e baixa escolaridade, e explica que a perda de pacientes com câncer de pulmão que são, na sua maioria, fumantes ou ex-fumantes em idade mais avançada, justifica o interesse da indústria do tabaco em desenvolver produtos e estratégias de marketing voltadas a atrair as novas gerações, como é o caso do cigarro eletrônico.

O cigarro eletrônico é um produto potencialmente danoso para saúde e provoca diversos problemas cardiorrespiratórios, pulmonares e até mesmo o câncer. É alarmante observar a indústria do tabaco buscando atrair as novas gerações, enquanto a saúde pública lida com o impacto devastador do câncer de pulmão, doença que levou 1,8 milhão de pessoas à morte, segundo a OMS“.