O uso indiscriminado de medicamentos sem orientação médica não apenas mascara os sintomas da doença, dificultando o diagnóstico, mas também pode resultar em complicações graves. O uso inadequado de analgésicos e anti-inflamatórios pode aumentar o risco de hemorragias, agravando ainda mais a condição do paciente.
Em entrevista especial para o ComSaúde Bahia, o farmacêutico, pesquisador e professor da Universidade Federal da Bahia, Genario Oliveira, ressalta que um dos grandes problemas da automedicação é o risco de mascarar sintomas e dificultar o diagnóstico preciso e mais rápido do paciente, em especial quando outros problemas de doença de características sazonal podem ter características de manifestação semelhantes à dengue.
“O diagnóstico tardio ou inadequado pode aumentar as chances de desenvolver um quadro de dengue mais grave, bem como iniciar um tratamento ineficaz”, afirma.
A Unidade de Farmacovigilância da Anvisa tem alertado sobre o uso indiscriminado, abusivo ou inadequado de medicamentos no tratamento dos sintomas da dengue. Ela destaca que para obter a eficácia desejada e evitar riscos de intoxicação, bem como o surgimento de efeitos colaterais potencialmente fatais, é fundamental seguir orientações médicas. Ainda reforça que nos casos em que os resultados esperados não forem alcançados, é recomendável retornar ao profissional de saúde para reavaliação do tratamento.
De acordo com o Ministério da Saúde a dengue não possui tratamento medicamentoso específico, ou seja, os medicamentos são utilizados apenas para amenizar os sintomas dessa doença. No tratamento do Dengue Clássico devem ser evitados os salicilatos (ácido acetilsalicílico, ácido salicílico, diflunisal, salicilato de sódio, metilsalicilato, dentre outros), pois podem favorecer o aparecimento de manifestações hemorrágicas e acidose.
Uso de antiinflamatórios
Ainda segundo o MS, também não há subsídio científico que dê suporte clínico ao uso de antiinflamatórios para o tratamento dos sintomas da dengue. Alguns antiinflamatórios não esteroidais (AINES) são: indometacina, ibuprofeno, diclofenaco, piroxicam, naproxen, sulfinpirazona, fenilbutazona, sulindac, diflunisal. Além dos AINES existem outros antiinflamatórios denominados hormonais ou corticoesteróides como prednisona, prednisolona, dexametasona e hidrocortisona. Todos os antiinflamatórios podem aumentar a tendência hemorrágica na dengue e por isso são contra indicados.
A recomendação de muitos médicos é enfatizar que, como ainda não há medicação específica para o tratamento da dengue, a melhor abordagem em casos de confirmação da doença é aumentar a ingestão de líquidos e buscar atendimento em uma unidade de saúde se os sintomas se intensificarem. Estes incluem dor no corpo e articulações, febre elevada e dor nos olhos.
Sinais de alerta
O farmacêutico também chama a atenção aos sinais de alerta: “Pacientes que apresentam sintomas como cansaço, inclusive ao realizar esforços habituais como caminhar, dores no corpo, dor abdominal, sinais de sangramento na gengiva ou nas fezes, e o surgimento de petéquias – pequenas manchas marrom-arroxeadas causadas por sangramento sob a pele, devem estar atentos a esses sinais de alerta, os quais não devem ser negligenciados”, ressalta o professor Genario Oliveira.
Em meio a tantas outras doenças que têm se alastrado nos últimos anos, é essencial promover a conscientização sobre os perigos da automedicação e incentivar a busca por assistência médica adequada sempre, principalmente durante momentos de surtos, como é o caso da dengue no Brasil.
Confira a entrevista com o professor Genario Oliveira, em nosso canal ‘Entrevista com Especialista’. Clique aqui.