O Setembro Azul, mês da visibilidade da comunidade surda e da saúde auditiva, chama atenção para um dado alarmante: a perda de audição pode demorar até sete anos para ser diagnosticada. Segundo o Instituto Locomotiva, mais de 10,7 milhões de brasileiros têm algum grau de deficiência auditiva — e a maioria não utiliza aparelhos corretivos.
Fatores de risco e falta de exames
A fonoaudióloga Christiane Nicodemo, mestre em distúrbios da comunicação e especialista do Hospital Paulista, destaca o desconhecimento sobre os fatores que aceleram a perda auditiva.
“As pessoas não têm o hábito de fazer exames regulares. Condições como diabetes, hipertensão, obesidade e tabagismo aceleram esse processo silencioso”, explica.

Audiometria: exame rápido e essencial
A audiometria é considerada o principal recurso para o diagnóstico precoce.
“É um exame rápido, indolor e de baixo custo. E ainda assim, há resistência. Após a identificação de um problema, muitas pessoas ainda levam anos para buscar tratamento especializado”, completa Christiane.
A especialista alerta também para o impacto no envelhecimento:
“Na terceira idade, a falta de estímulos auditivos pode predispor à demência precoce, agravando ainda mais o quadro”.
Impacto global e custo invisível
A otorrinolaringologista Bruna Assis, também do Hospital Paulista, lembra que a perda auditiva é um problema global.
“A Organização Mundial da Saúde (OMS) projeta que até 2050, cerca de 900 milhões de pessoas terão perda auditiva no mundo”, afirma.
Os prejuízos não são apenas sociais.
“O impacto da perda auditiva não tratada chega a quase US$ 1 trilhão por ano globalmente, considerando desde a perda de produtividade até o isolamento social”, destaca a médica.
Brasil: números que preocupam
Dados da Semana da Acessibilidade Surda revelam que 87% dos brasileiros com deficiência auditiva não utilizam aparelhos auditivos. Entre os principais motivos estão o custo, o estigma e a falta de diagnóstico.
Outros levantamentos reforçam a gravidade do cenário:
• 57% das pessoas com deficiência auditiva têm mais de 60 anos.
• O SUS realizou 26,7 milhões de procedimentos auditivos entre 2017 e 2020, incluindo fornecimento de aparelhos e implantes cocleares.
• Apenas 8,4% das pessoas com deficiência auditiva frequentam serviços de reabilitação.
• A presbiacusia, perda auditiva associada à idade, afeta de 36% a 64% dos idosos brasileiros, segundo o Conessp.
Escutar é prevenir
Para especialistas, a prevenção deve começar cedo. A recomendação é que pessoas a partir dos 50 anos ou com fatores de risco façam audiometrias anuais, mesmo sem sintomas.
“A perda auditiva é invisível. Quando percebida, muitas vezes o quadro já avançou demais. E o silêncio pode custar muito caro, para o indivíduo e para a sociedade”, alerta Dra. Bruna.

Números em destaque
• 10,7 milhões de brasileiros têm deficiência auditiva.
• 87% não utilizam aparelhos auditivos.
• A OMS projeta 900 milhões de pessoas com surdez até 2050.
• O custo global da perda auditiva não tratada chega a US$ 980 bilhões por ano.