Mesmo pessoas saudáveis e fisicamente ativas podem sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Isso acontece porque fatores como genética, hipertensão e estresse também influenciam o risco. O AVC , popularmente conhecido como derrame, continua entre as principais causas de morte e incapacidade no Brasil.
Segundo dados da Sociedade Brasileira de AVC, mais de 105 mil brasileiros perderam a vida para a doença em 2023, considerando os tipos isquêmico e hemorrágico. Mesmo com os avanços da medicina, o tempo de resposta ainda é o fator mais determinante para a sobrevivência e recuperação.
“O AVC é uma emergência médica. Cada minuto de atraso pode significar a perda irreversível de milhões de neurônios. O diagnóstico rápido e o início imediato do tratamento fazem toda a diferença entre a recuperação completa e sequelas graves”, explica a neurocirurgiã Dra. Ingra Souza.
Uma história de resistência e superação
Ele sempre foi sinônimo de vitalidade. Empresário, pai de três filhos e triatleta amador nas modalidades Ironman e Ultraman, Beto Lopes, hoje com 62 anos, sempre levou uma vida ativa, com treinos intensos e alimentação equilibrada.
Mas um episódio inesperado colocou à prova tudo o que ele sabia sobre força e resistência.
Durante uma viagem a Rio de Contas, na Chapada Diamantina, onde participaria de uma prova de triatlo, Beto começou a se sentir mal no hotel. Foi levado às pressas para Vitória da Conquista, com suspeita de AVC.
Dois dias depois, devido à gravidade do quadro, foi transferido de UTI aérea para Salvador, onde passou por cirurgias e permaneceu internado.
De acordo com o Dr. João Gabriel Ramos, médico da clínica onde o atleta realizou a reabilitação, o caso de Beto reforça a importância do diagnóstico rápido e do tratamento especializado.
“Mesmo pessoas ativas e aparentemente saudáveis podem ter AVC por fatores genéticos ou condições silenciosas, como alterações cardíacas e hipertensão não diagnosticada. O diferencial está no tempo: cada minuto conta. A agilidade no atendimento e a reabilitação precoce são fundamentais para reduzir sequelas e devolver autonomia ao paciente”, explica o especialista da Clínica Florence.
A esposa, Ceres Dias, acredita que o atendimento ágil e o início imediato da reabilitação foram decisivos para o desfecho positivo.
“Ninguém acreditava que ele pudesse se recuperar, e hoje ele está aqui. O suporte que recebeu, somado ao amor pelo esporte, o trouxe de volta. Quem sabe um dia ele volte a dar aulas?”, emociona-se.
Formado em Educação Física, Beto sonha em inspirar outras pessoas a cuidar da saúde. Apesar de ter ficado com sequelas na fala, leitura e escrita, desde 2023 ele voltou a nadar, correr e pedalar, as três modalidades que sempre fizeram parte da sua rotina. Hoje, já participa novamente de provas mais curtas, com entusiasmo e gratidão pela vida.

Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico é feito por tomografia ou ressonância magnética, que identificam o tipo de AVC e orientam o tratamento.
No AVC isquêmico, medicamentos trombolíticos podem dissolver o coágulo e restabelecer o fluxo sanguíneo, desde que aplicados nas primeiras 4h30 após o início dos sintomas.
Já o AVC hemorrágico pode exigir cirurgia de urgência para conter o sangramento e aliviar a pressão intracraniana.
“O tempo é o fator mais importante. As primeiras horas são a janela terapêutica ideal. Após esse período, as chances de sequelas aumentam exponencialmente”, explica a neurocirurgiã.

Reabilitação: caminho para a autonomia
A reabilitação pós-AVC é uma etapa decisiva para recuperar a funcionalidade e a qualidade de vida.
O trabalho integrado de fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e acompanhamento médico ajuda a reduzir sequelas e, em muitos casos, restabelece movimentos, fala, cognição e independência.
“Quanto mais precoce for o início desse processo, maiores são as chances de o paciente retomar sua autonomia”, explica a Dra. Flaviane Ribeiro, coordenadora do serviço de reabilitação da Florence.
Para o Dr. Nildo Ribeiro, diretor-secretário do CREFITO-7, doutor em Neurociências pela UNIFESP e professor de Fisioterapia Neurofuncional da UFBA, o acesso rápido e democrático à reabilitação é essencial.
“É crucial que as equipes de saúde adotem uma visão integral, considerando as dimensões física, social e as necessidades específicas de cada indivíduo em seu território, para que possam viver plenamente”, ressalta.
Sinais de alerta: reconhecer é salvar
O Brasil registra mais de 100 mil mortes por AVC por ano — o que significa que um brasileiro morre a cada cinco minutos, e a maioria poderia ser salva.
O caso de Beto é um lembrete poderoso neste Dia Mundial do AVC (29 de outubro): estar em forma não significa estar imune.
“O país já chegou a registrar, no início deste ano, uma morte a cada sete minutos por AVC. E cresce a incidência entre adultos jovens, dos 18 aos 45 anos”, alerta o Dr. João Gabriel Ramos.
Reconhecer os sintomas e agir rapidamente pode ser a diferença entre a vida e a morte. Os principais sinais incluem:
• Rosto torto ou assimétrico;
• Fala enrolada ou confusa;
• Fraqueza em um dos lados do corpo.
Para facilitar a memorização, especialistas utilizam a sigla SAMU, que remete ao serviço de emergência e aos principais sinais do AVC:
S – Sorriso: rosto torto ou assimétrico.
A – Abraço: o paciente não consegue levantar um dos braços.
M – Música: fala arrastada ou confusa.
U – Urgência: acione o socorro imediatamente (ligue 192).
“Esses sinais são simples e salvam vidas. Diante de qualquer suspeita, é fundamental acionar o SAMU e levar o paciente a um hospital com suporte neurológico”, reforça a Dra. Ingra Souza.
Prevenção é o melhor tratamento
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 90% dos casos de AVC podem ser evitados com hábitos saudáveis. Controlar a pressão arterial, manter o peso adequado, praticar atividade física regular, evitar o cigarro e realizar check-ups periódicos são medidas fundamentais.

“O AVC não é um evento imprevisível. Na maioria das vezes, ele é resultado de fatores que podem ser controlados. Reconhecer os sintomas, agir rápido e cuidar da saúde cardiovascular é o caminho para salvar vidas e evitar sequelas permanentes”, conclui a Dra. Ingra Souza.
 
								 
															 
															 
															