A tecnologia tem transformado diversos setores da sociedade, e a saúde é um deles. A realidade virtual vem se consolidando como uma aliada na recuperação funcional de pacientes, ajudando a acelerar o processo e a promover mais qualidade de vida. Por meio de ambientes interativos, essa ferramenta torna os exercícios mais dinâmicos e atrativos, o que contribui para o engajamento e a adesão ao tratamento.
“A tecnologia permite um feedback em tempo real e correção dos movimentos de forma imediata, além de proporcionar exercícios personalizados em nível de dificuldade e tipo de tarefa“, explica Flaviane Ribeiro, fisioterapeuta e coordenadora de Reabilitação da Clínica Florence Unidade Salvador.
Ela diz que, com essa estratégia, é possível realizar diversos tipos de exercícios voltados ao desenvolvimento motor, cognitivo e funcional. Os treinos envolvem movimentos como alcançar, segurar ou mover objetos em ambientes virtuais, contribuindo para a melhora da força, da precisão e da coordenação. Além disso, a técnica auxilia no equilíbrio e estimula habilidades cognitivas por meio de jogos que trabalham atenção, memória e raciocínio.
“Outro tipo de atividade bastante utilizado é o treino funcional, que simula tarefas do cotidiano, como cozinhar, organizar ambientes ou realizar compras, promovendo mais autonomia, além de exercícios de estímulos visuais e sonoros“, complementa a fisioterapeuta. Com esse uso diversificado, a realidade virtual ainda tem a vantagem de possibilitar o ajuste em nível de dificuldade, ritmo e complexidade.

Indicação
A realidade virtual é indicada para pacientes que necessitam de reabilitação motora, cognitiva ou sensorial. Ela é especialmente útil em casos de limitações nos movimentos, dificuldades de equilíbrio, sendo eficaz também na estimulação cognitiva ou para pacientes com baixa adesão a terapias tradicionais.
Um exemplo desses benefícios é o caso de Fernanda Lobo, bailarina e integrante da Sambadeiras – primeira bateria feminina de samba de Olinda (PE) – que enfrentou a Síndrome de Guillain-Barré (SGB). Durante sua recuperação, a paciente utilizou óculos de realidade virtual que a transportavam para cenas do grupo musical enquanto ela realizava os exercícios de fisioterapia tocando tamborim.
“Eu toquei no tamborim a mesma música que estava no vídeo que assistia com os óculos. É um formato que nos aproxima muito da realidade, estimulando e trazendo uma sensação única“, relata Fernanda, que deu entrada na unidade de Recife em dezembro de 2024 e teve alta em março de 2025. A mesma tecnologia é oferecida na unidade Florence de Salvador.
Flaviane Ribeiro ressalta, porém, que a tecnologia deve ser evitada em casos em que o paciente apresente enjoos frequentes e vertigens, pois o uso prolongado pode causar desconforto e náuseas. Além disso, pessoas com comprometimento visual severo ou dificuldades cognitivas muito acentuadas também possuem limitações para interagir com os ambientes virtuais de forma eficaz.
Desafios
Como toda nova tecnologia, o uso da realidade virtual na reabilitação de pacientes também enfrenta desafios: necessidade de uma infraestrutura adequada, com espaço físico suficiente e suporte técnico, a adaptação do paciente à tecnologia e a acessibilidade para pacientes com limitações cognitivas muito severas, dentre outras.
“Também é fundamental que os profissionais estejam capacitados para utilizar a tecnologia de forma adequada, tanto no manuseio dos dispositivos quanto na aplicação terapêutica“, complementa a fisioterapeuta.
Mesmo com tantos benefícios, o uso da tecnologia não deve substituir as terapias tradicionais, mas sim integrar, de maneira estratégica, os tratamentos convencionais para potencializar os resultados.
“A combinação de técnicas, aliada à personalização das atividades virtuais conforme as necessidades de cada paciente, é essencial para garantir o tratamento eficaz“, finaliza Flaviane Ribeiro.