Fazer xixi antes de sair de casa, mesmo sem vontade, parece uma atitude prudente. Porém, especialistas alertam que esse costume pode estar prejudicando o sistema urinário. O chamado “xixi de prevenção”, ou micção preventiva, altera o comportamento da bexiga e, com o tempo, pode desencadear problemas que passam despercebidos até se tornarem limitantes.
A prática é tão comum que muitas pessoas nem percebem que estão ensinando o corpo a esvaziar a bexiga antes da hora. Esse comportamento, repetido ao longo dos anos, pode confundir o cérebro, reduzir os limites naturais de armazenamento e tornar a bexiga mais sensível do que deveria.
A bexiga aprende e desaprende
De acordo com a Fisioterapeuta Pélvica e Palestrante Flaviana Teixeira, a bexiga é um órgão treinável, que depende de estímulos consistentes para funcionar de maneira equilibrada.
“A bexiga é um órgão que precisa ser treinado para funcionar corretamente. Ela é um balão muscular que deve encher até atingir um volume específico, momento em que envia um sinal de ‘primeira vontade’ ao cérebro. Ao fazer xixi por precaução, a mulher está, inconscientemente, ensinando a bexiga a esvaziar antes da hora”, explica.
Quando isso acontece repetidas vezes, o corpo passa a interpretar volumes menores como se fossem sinais urgentes. Assim, a bexiga perde a capacidade de esperar, e a pessoa passa a urinar com frequência cada vez maior.

Da prevenção ao problema: quando a bexiga se torna hiperativa
Segundo a especialista, esse comportamento abre caminho para o desenvolvimento da Bexiga Hiperativa (BH). A condição é marcada por urgência urinária, vontade frequente de ir ao banheiro e contrações involuntárias, mesmo quando há pouco líquido armazenado.
“A paciente começa a sentir a urgência de ir ao banheiro a cada hora ou até mais frequentemente, porque a bexiga se ‘ressentiu’ e criou uma sensibilidade exagerada aos menores volumes. O hábito de prevenção acaba gerando o problema que se queria evitar: a dependência constante de um banheiro e a limitação social”, afirma.
Portanto, o que antes era uma estratégia para evitar desconforto pode, portanto, virar o motivo de novas limitações no dia a dia.
Treinamento vesical devolve o controle
A boa notícia é que a fisioterapia pélvica consegue reverter grande parte desses quadros por meio do chamado treinamento vesical, que reeduca a bexiga e reconstrói o diálogo com o cérebro.
“Nosso foco é educar a paciente sobre o funcionamento fisiológico da bexiga e interromper o ciclo da micção preventiva. Por meio de diários miccionais e técnicas de adiamento, ensinamos a bexiga a segurar a urina por períodos mais longos, aumentando sua capacidade gradualmente. Trata-se de uma verdadeira alfabetização da bexiga”, conclui a especialista.
Quando é hora de buscar ajuda?
Se o hábito de “ir só para garantir” passou a fazer parte da rotina e você percebe que está urinando mais vezes do que antes, o sinal de alerta acendeu. Urinar apenas quando há vontade real é essencial para manter o equilíbrio do sistema urinário.
Caso a frequência aumente, a urgência apareça ou o desconforto se torne constante, procurar acompanhamento especializado é a melhor forma de evitar a progressão de disfunções urinárias.
