A saúde dos professores no Brasil tem se tornado uma pauta cada vez mais urgente no cenário educacional do país. Apesar de serem peças fundamentais para o desenvolvimento intelectual e social dos cidadãos, os educadores brasileiros enfrentam uma série de desafios que impactam diretamente sua saúde física e mental. O acúmulo de responsabilidades, a falta de reconhecimento e a precariedade das condições de trabalho são apenas alguns dos fatores que contribuem para um panorama preocupante.
Reconhecida pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) como uma profissão de extrema importância para a sociedade e seu progresso, testemunha-se atualmente entre os professores uma realidade que varia desde um sentimento de desânimo até doenças físicas e mentais que, por vezes, resultam em incapacidade laboral e distúrbios psicológicos graves. São inúmeras as dificuldades enfrentadas pelos professores, que incluem casos de violência, indisciplina e outras formas de falta de respeito.
De acordo com dados do Fundacentro, instituição voltada para o estudo e pesquisa das condições dos ambientes de trabalho, ligada ao Ministério da Saúde (MS), a hierarquia dos afastamentos dos profissionais revela que a maior incidência está relacionada a transtornos mentais e comportamentais (incluindo a síndrome de Burnout, que se popularizou recentemente). Em seguida, destacam-se problemas cardiológicos e circulatórios, seguidos por distúrbios da fala e da voz, além de transtornos osteomusculares, ortopédicos e músculo-esqueléticos. Com uma incidência menor, mas ainda importante, estão os casos de transtornos respiratórios, acidentes e doenças digestivas, assim como problemas do tecido conjuntivo.
Entre as causas desses problemas, os principais fatores de risco ou agentes agressores incluem o estresse, as longas horas de trabalho decorrentes da sobrecarga de funções, o uso frequente e intenso da voz, movimentos repetitivos, exposição a ruídos e pó de giz. Abordagens mais atuais também incluem na lista a gestão agressiva e alguns fenômenos emergentes associados aos recursos tecnológicos.
No Dia do Professor (15/10), o Portal ComSaúde Bahia decidiu entrevistar alguns educadores, questionando sobre os principais fatores que têm impactado a saúde dos professores na atualidade.
Confira alguns dos depoimentos:
“O estresse e exaustão emocional são as principais causas do adoecimento dos professores”
Ana Teresa Fernandez, professora de Educação Física
“A desvalorização de nossa profissão, seja por meio de remunerações inadequadas, falta de reconhecimento por parte da sociedade ou da própria instituição em que trabalhamos, além da ausência de capacitação e de ferramentas que facilitem a execução das atividades, impacta negativamente não apenas em nossa saúde, mas também na qualidade do ensino oferecido”.
Andreia França, professora da educação infantil.“Acredito que o que mais adoece os professores é a falta de respeito que ainda existe com esse profissional tão importante para a sociedade”.
Ana Carolina Araújo, professora de Literatura, Redação, Língua Espanhola e Língua Portuguesa.“A difícil relação professor x aluno e a falta de respeito dos gestores pelos professores, sem dúvida são os principais motivos que levam os professores a adoecerem”
João Guerra, professor de Geografia do ensino médio.“O que mais afeta a saúde de um professor é a ideia dos pais de que seus filhos estão em uma redoma e não podem enfrentar problemas na escola. Qualquer negativa dada aos filhos resulta em reuniões com os pais”.
Ricardo Rodrigues, professor de Educação Física“O que tem prejudicado a saúde dos professores atualmente é a falta de valorização, os baixos salários, a superlotação das salas, a falta de envolvimento das famílias nas escolas, a ausência de autonomia, a violência e a falta de suporte para lidar com alunos com deficiência na sala de aula”.
Verônica Nascimento, professora da educação infantil“O trabalho assoberbado que o professor enfrenta no dia a dia e a desvalorização total da educação”.
Sônia Regina, professora de História do Ensino Médio.
Com base nos depoimentos, que apresentaram semelhanças significativas, compilamos uma lista dos problemas mais frequentemente mencionados:
SOBRECARGA DE TRABALHO – Impactos na saúde mental
A sobrecarga de trabalho é um dos principais vilões que afetam a saúde dos professores no país. De acordo com dados recentes, a carga horária excessiva, que muitas vezes ultrapassa o limite estabelecido, leva a quadros de estresse, esgotamento físico e emocional, contribuindo para o surgimento de doenças como ansiedade, depressão e síndrome de burnout. A necessidade de preparar aulas, corrigir avaliações e lidar com demandas administrativas em um período limitado de tempo tem se tornado insustentável para muitos educadores.
INFRAESTRUTURA PRECÁRIA – Problemas com a saúde respiratória
A infraestrutura precária das instituições de ensino também é um fator crucial que compromete a saúde dos professores. Salas superlotadas, ausência de recursos pedagógicos adequados, falta de climatização e higiene precária são realidades enfrentadas diariamente por muitos profissionais. Essas condições não apenas dificultam o processo de ensino-aprendizagem, mas também contribuem para o surgimento de doenças respiratórias e problemas de saúde relacionados a ambientes inadequados.
DESVALORIZAÇÃO – Impactos na qualidade de vida
A desvalorização profissional e os baixos salários são aspectos que afetam diretamente a motivação e o bem-estar dos professores. A falta de reconhecimento por parte das autoridades governamentais e da sociedade em geral desestimula o engajamento e a busca por aprimoramento profissional. A situação se agrava ainda mais diante da crescente inflação e do custo de vida elevado, o que impõe aos professores dificuldades financeiras que impactam diretamente em sua qualidade de vida e saúde.
POUCOS PROGRAMAS – Cuidado e bem-estar aos profissionais
O acesso limitado a programas de saúde mental e físicos específicos para os professores é uma lacuna que necessita de atenção urgente. A ausência de suporte psicológico e de atividades voltadas para o bem-estar dos educadores dificulta a identificação e o tratamento de problemas de saúde, agravando ainda mais a situação.
É urgente que medidas sejam tomadas para assegurar um ambiente de trabalho saudável e propício ao desenvolvimento integral dos educadores, a fim de garantir uma educação de qualidade e contribuir para o progresso da sociedade como um todo.
Como os educadores dedicam a maior parte de seu tempo no ambiente escolar, é fundamental implementar ações concretas e bem planejadas para garantir o cuidado específico desses profissionais dentro da escola. O apoio e suporte aos professores dentro do ambiente escolar devem ser considerados um processo abrangente. Oferecer suporte implica em estar atento às necessidades desses profissionais, reservando tempo para diálogos individuais e em grupo.
O IMPACTO DA PANDEMIA – Pesquisa sobre saúde mental dos educadores
A Organização Mundial de Saúde (OMS) ainda não declarou o término da pandemia e, devido ao seu impacto global, seus efeitos continuam perceptíveis em todos os setores da sociedade, inclusive na Educação. Essa realidade é evidenciada pela pesquisa Saúde Mental dos Educadores 2022, conduzida pela NOVA ESCOLA em colaboração com o Instituto Ame Sua Mente, cujo objetivo foi analisar os impactos da pandemia na saúde mental dos professores.
Com a participação de mais de 5 mil profissionais, incluindo docentes e administradores de todos os estados brasileiros e do Distrito Federal, sendo 84,6% deles provenientes da rede pública, a pesquisa revela que o número de educadores que classificam sua saúde mental como “ruim” ou “muito ruim” aumentou em relação ao ano anterior, subindo de 13,7% para 21,5%. No ano de 2020, esse mesmo indicador tinha atingido a marca de 30,1%.
Síndrome de Burnout – Um termo que se tornou comum durante a pandemia foi Incluída no Código Internacional de Doenças (CID-11) em 2022. Essa síndrome é caracterizada principalmente pela falta de energia e entusiasmo, juntamente com um sentimento acentuado de esgotamento relacionado ao trabalho.
O contexto que antecedeu a pandemia, marcado pela exaustão emocional, pela falta de infraestrutura e pelos salários inadequados, entre outras razões, já predisponha os professores ao desenvolvimento da Síndrome de Burnout. Contudo, a crise desencadeada pela Covid-19 intensificou esses problemas e introduziu novos desafios, resultando em um aumento nos casos entre os profissionais de ensino.
Diante dos inúmeros desafios, a garantia de melhores condições de trabalho, o reconhecimento profissional, a implementação de políticas públicas eficazes e o investimento em programas de saúde preventiva tornam-se indispensáveis para preservar a saúde e o bem-estar dos professores brasileiros.
#FicaDicaComSaúde
Livro: Cuidados com a saúde do professor: da voz, do corpo e da mente
Sobre o livro: De autoria da professora Therezita Galvão conta com a participação de colaboradores de diversas áreas da saúde. Ele destaca a importância da saúde do professor, com abordagens de temas como os cuidados com a voz, questões alérgicas, hábitos alimentares e linguagem corporal, proporcionando dicas para aliviar o estresse e a insônia. A obra também enfatiza a motivação, empatia e resiliência, incluindo exercícios para aprimorar a qualidade de vida. Com orientações direcionadas ao público-alvo, Therezita espera que os professores aprendam a identificar seus problemas de saúde e sigam as orientações para alcançar uma vida mais saudável.
O livro é editado pela Editora Universitária da Ufal (Edufal), onde pode ser adquirido. Também pelo Instagram @devozaquemprecisa, ou pelo e-mail do projeto: [email protected].
Artigo: A saúde do professor frente ao ensino remoto