O Hospital Universitário Professor Edgard Santos, da Universidade Federal da Bahia e vinculado à Rede Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), registrou aumento de 50% nos transplantes de córneas no comparativo entre os anos de 2022 e 2023. No ano passado, foram realizados 18 transplantes, nove a mais do que em 2022.
Atualmente, a Bahia possui 1.331 pacientes que aguardam na fila de espera por uma córnea, segundo dados da Central Estadual de Transplantes (CET/BA). Com o resultado, o Hupes alcança 95% da meta estabelecida pela CET/BA. Segundo o Hospital, no estado inteiro apenas cinco unidades hospitalares alcançaram mais de 90% das metas de doação.
A Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) informou que a fila de espera cresceu muito no período da pandemia, mesmo depois de uma campanha do Banco de Olhos, realizada entre 2017 e 2019 (fila zero de córnea) que, na época, baixou o número de inscritos de 1300 para 496 e reduziu o tempo de espera de dois anos para cinco meses. Dados do Sistema Nacional de Transplantes (SNT) revelam que, no Brasil, mais de 24 mil pacientes aguardam na fila para realizar o procedimento.
A córnea
De acordo com o Banco de Olhos do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO), do Ministério da Saúde (MS), a córnea é um tecido transparente que fica na parte da frente do olho (para exemplificar, podemos compará-la ao vidro de um relógio ou a uma lente de contato). Se a córnea se opacifica (embaça) a pessoa pode ter a visão bastante reduzida ou, às vezes, até perder a visão.
O transplante de Córnea
A oftalmologista, Dra Patrícia Marbak, coordenadora da equipe de transplante de córnea do Hupes, explica que o transplante é uma cirurgia microscópica que requer anestesia local com sedação ou anestesia geral, a depender do diagnóstico e do perfil do paciente.
“A chance de sucesso no primeiro ano (melhora da visão) pode chegar a 90%, a depender das condições do olho operado. Em algumas situações essa chance pode cair para 50%. O risco de rejeição existe, segundo a literatura pode chegar a 20% no primeiro ano. Depois reduz, mas não é zero. O acompanhamento pós operatório é tão importante quanto a cirurgia em si, e requer o uso constante de colírios para reduzir o risco de rejeição”, afirma a médica.
Dados no Brasil
O Ministério da Saúde afirma que o Brasil possui o maior programa público de transplante de órgãos, tecidos e células do mundo, que é garantido a toda a população por meio do SUS, responsável pelo financiamento de cerca de 88% dos transplantes no país. Apesar do grande volume de procedimentos de transplantes realizados, a quantidade de pessoas em lista de espera para receber um órgão ainda é grande.
No que diz respeito ao transplante de córnea, o número permanece elevado e foi maior do que em 2022. Dentro do mesmo período, de janeiro a setembro, o total de cirurgias em 2023 foi de 11.932, em comparação com as 10.544 realizadas no ano anterior.
A doação no Hupes
A doação acontece após a constatação do óbito de um paciente e deve ser autorizada por cônjuge/companheiro(a) ou familiares até segundo grau na linha reta ou colateral, num prazo de seis horas. No momento do óbito, a equipe da Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes ( CIHDOTT) vai até os familiares para realizar o acolhimento e consultar sobre a possibilidade de doação. Em caso positivo, aciona-se o captador par a realização da enucleação (termo usado para remoção cirúrgica de um olho).
“A doação é um divisor de águas na vida desses pacientes, e trabalhamos incansavelmente, junto com as demais unidades, para zerar essa fila de espera. Para ser um doador de órgãos e tecidos, basta informar seu desejo aos familiares. Não é necessário deixar nenhum documento por escrito“, explica Josenilton Matos Dias, enfermeiro, especialista em Gestão e Procedimentos para Doação de Órgãos e Tecidos e coordenador do CIHDOTT do Hupes.
Desafios e estratégias para ampliar as doações
Um dos maiores desafios para ampliar o número de doações é o gargalo da notificação do óbito de um paciente diretamente para a Comissão. Por conta disso, a o CIHDOTT realizou um trabalho de sensibilização e treinamento com as equipes assistenciais do Hospital para que a notificação por e-mail ocorresse de forma imediata após o óbito.
“Criamos um fluxo de notificação por e-mail institucional pelo qual recebemos a notificação de forma on-line e nos dirigimos imediatamente à unidade notificante. Outra estratégia foi criar um lembrete anexado em todas as declarações de óbito, reforçando a necessidade de notificação”, descreve Josenilton.
Processo de captação
A Comissão é composta por uma equipe multiprofissional envolvendo a enfermagem, medicina, psicologia e serviço social, profissionais capacitados para realização dos procedimentos de captação.
Após a captação das córneas, de acordo com Josenilton, há o encaminhamento para o Banco de Olhos da Bahia, onde serão preparadas e armazenadas até o momento da realização do transplante. A fila de receptores é única e o principal critério para ser selecionado é o tempo de lista. “É importante esclarecer que, após a doação, não fica nenhuma marca ou curativo no rosto do doador, podendo ser realizado o velório e o sepultamento normalmente”, continuou.
Meta para 2024
Para 2024, a principal meta da comissão é oferecer a 100% das famílias de pacientes elegíveis a possibilidade de doação. “Se alcançarmos esse objetivo, os resultados virão em seguida. Com isso, cumprimos a legislação vigente e possibilitamos aos familiares decidirem ou não pela doação”, diz Josenilton, acrescentando que a taxa de negativa familiar para doação na Bahia ainda é alta, fechando o ano de 2023 em 61%.
Em 2023, o Hupes obteve uma taxa negativa familiar de 44%, ou seja, bem abaixo da média estadual. “Esse resultado é reflexo da qualidade do atendimento realizado, aliada a um acolhimento humanizado. Então, esperamos alcançar, em 2024, 100% da meta de doação estabelecida pela Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab)”, finaliza.